

NA VOZ DA CRÍTICA
FIDELINO DE
      FIGUEIREDO 
A FORÇA DO ESTILO
        Com o seu 
      gênio verbal chegou Vieira por vezes a atingir expressão inexcedível. 
      São passos que a si mesmos se inculcam como flores duma antologia, 
      reflexões morais e filosóficas, alegorias, conceitos e descrições, 
      em que, sem caprichos ou novidades na sintaxe nem no léxico, o relevo 
      é máximo, a energia varonil e verdadeiramente eloquente, tão 
      grande a precisão. 
              Disse o Bispo de Vizeu, 
      D. Francisco Alexandre Lobo, que em Vieira estava toda a língua portuguesa 
      na sua pureza nativa e na sua abundância. Não é bem 
      assim. Vieira é um modelo de expressão, de relevo enérgico 
      e impressivo, de eloquência, maravilhando que conseguisse tais efeitos 
      com um léxico tão reduzido e uma sintaxe tão comum. 
      
              Conseguiu-o com aquela centelha 
      divina que se não adquire, em lampejos geniais, pela repetição 
      e profusão nuns casos, pelo equilíbrio, pela medida noutros. 
      É inimitável nesse particular, e é nele que reside 
      a peça mais pessoal, mais original e mais poderosa do seu espírito. 
      Nasceu com ele, morreu com ele.
   
FIDELINO DE FIGUEIREDO,
      in História da Literatura Clássica, volume III, 
      3ª edição, pg. 83.Editora Anchieta, 
      São Paulo, 1946.