CRÔNICAS
A BORDO
DO ALBATROZ
Na Rota de Vieira
Em terra e mar
4ª PARTE
AS RAZÕES DA RAZÃO
VENTURAS E DESVENTURAS DE UMA EXCURSÃO
Apresentação
1.
Apresentamos a seguir outra série de crônicas temáticas,
do Cruzeiro Histórico do Albatroz.
O Prof. Raposo
nosso confrade e companheiro de elocubrações, mantém-se
silencioso, em observação. Anda muito ocupado com responsabilidades
das aulas que assumiu na Faculdade quando voltamos de viagem. Fala muito
mas escreve pouco. Discute bem e tem grande criatividade. É o mentor
principal da nossa criatividade. Mas escrever? O tempo disponível
não permite.
O Prof. Raposo,
no entanto, está presente em tudo: em cada crônica, em cada
decisão. Ele ajuda fazendo a crítica dos textos. Discute-os
comigo que sou o responsável pela redação.
O Perneta,
o capeta, também não aparece. Mas não se preocupe.
Ele está presente mas oculto. Sua atuação é
patente. Prefere trabalhar oculto e no escuro
2. O fato é que o Veleiro CHICO, do prof. Fabre, por causa dos problemas enfrentados, exigiu mais atenção e por isso roubou a cena. Mas isto não faz mal. O que interessa é que a história ficou mais interessante, deixando-nos sempre com o coração na mão. Fez-nos mais solidários e cautelosos... Não sabemos o que sucederá amanhã. Sabemos que a história das crônicas é uma ficção. Mas às vezes nós nos perguntamos se a história não pode ser verdadeira. Que responderemos? Que sim. Que pode.
3. A história das crônicas é verdadeira, ao menos na dimensão alegórica. É uma alegoria da vida real, no cotidiano dos viventes geniais, onde não faltam obstáculos, mesmo aqueles que pensamos só acontecerem com os simples mortais.
4. Na 4ª Parte destas crônicas de ficção histórica, para o Diário de Viagem pelos caminhos de Vieira, reunimos textos ocasionais de reflexão, no ambiente de disputa e enfrentamento, em função das dúvidas e dificuldades supervenientes.
Para você que nos acompanha desejamos-lhe uma boa leitura. Faz bem ao físico e à mente, até porque “navegar é preciso” e viver, não menos.
São Paulo, 28 de setembro de 2008
Magriço
São Paulo.28.julho.2008
1.
O Cronista e o Estatuário
1.
Neste intervalo, enquanto espero chegar o material para
os próximos textos, que o prof. Raposo nos entregará amanhã,
resolvemos refletir um pouco sobre o nosso processo de criação
destas crônicas: Sobre o trabalho do cronista.
É
uma questão que merece reflexão.
Vejamos:
2.
A partir da observação de algum acontecimento
que pode chamara a tenção dos leitores, esboçamos rapidamente
algumas anotações esparsas e toscas. São anotações,
um pouco desordenadas, escritas por mim ou pelo Prof. Raposo e arquivadas
em pastas próprias.
Disse que
são idéias alinhavadas e toscas. Isto me fez lembrar o
episódio do Estatuário, descrito por Vieira, no Sermão
do Espírito Santo.
Neste episódio
Vieira descreve, para os novos missionários que iriam para Amazônia,
qual é a missão desses jovens que vão à selva
missionar, sem saber quem vão encontrar e como irão trabalhar
para se comunicarem, com os índios ainda selvagens, habitando as
florestas.
Vieira lhes
diz que irão encontrar gente rude, bruta, tosca.
Mas lhes garante que dessa gente bruta e rude eles podem fazem homens
conscientes e filhos de Abraão.
3.
Para que entendam melhor, dá-lhes o exemplo do escultor
que vai pela mata e dela arranca um tronco de árvore bruto
e tosco. Corta de um lado, corta de outro lado, cinzela, depois alisa com
lixa grossa e fina até fazer uma estátua de um homem
heróico ou de um santo que pode ser levada ao altar.
Diz Vieira
que o missionário faz nos índios rudes o trabalho do escultor...
De gente rude e bruta poderá fazer homens conscientes
e cidadãos responsáveis e solidários capazes de respeitas
uns aos outros; poderá desses índios fazer bons cristãos
e até santos que podem ir ao altar.
4.
Pois bem, a crônica, para se escrever e se lhe dar forma exige que
o cronista tenha a
habilidade do escultor. De textos inicialmente toscos e
rudes, com paciência e habilidade de escultor, o cronista vai cortando
aqui e ali, vai ampliando, cinzelando e polindo até ficar um texto
artístico que tenha vida, graça e movimento: Que faça
brilhar os olhos do leitor.
Dessas anotações
rudes e disformes, o cronista poderá fazer um texto que cative o
leitor. Um texto que tenha, em seu bojo, idéias-força que
façam pensar; e que tenha imagens que façam sentir
a vida que do texto se irradia; uma mensagem vá direto ao
coração, à mente e à inteligência das
pessoas.
Poderá
produzir um texto que convida à reflexão e à fruição,
sem desse assunto falar. Enfim, um texto que fale com a gente; que nos entenda
e que a gente o entenda. O texto talvez venha a ser um
amigo e um confidente. Ou pode vir a ser um bordão ou cajado
em que nos apoiamos na nossa jornada diária, em nossa peregrinação.
Magriço
****
São Paulo.29.julho.2008
2.
Fabre, o Novo Argonauta
“Per
aspera ad Astra”
Quem segue
os passos de Vieira, pelos mares e terras onde ele pisou, pregou, atuou,
viveu e conviveu, está disposto a enfrentar os revezes com que se
defrontou. Assim o mérito é maior.
Ao refletir
sobre o enredo a dar a este comentário, refletindo sobre o CHICO
e a “missão Vieira”, vieram-me à mente três
imagens paradigmáticas: os Argonautas, a busca do
Santo Graal e o Gigante Adamastor.
1.
O Cruzeiro Histórico foi uma aventura cheia de imprevistos e de surpresas,
qual nova viagem dos Argonautas, buscando o tesouro cobiçado.
O Argonauta moderno, capitão do CHICO e que nos
honramos de ter acompanhado de longe e de perto e efetivamente apoiado,
foi atrás de outro velocino de ouro, certamente
bem mais precioso do que o dos argonautas da antiga Grécia.
O
tesouro que o novo argonauta foi buscar, não foram as pegadas
de Vieira, mas tesouros de outra dimensão:
- foi sentir
e captar a energia, o carisma e até as utopias que Vieira deixou
por onde andou, em sua longa peregrinação, cumprindo uma missão
histórica, qual seja:
- dar a sua
contribuição para a implantação de um
reino de justiça e paz, num mundo, onde todos os povos e
etnias se respeitassem mutuamente, compartilhassem seus dons e sempre prosperassem;
- um mundo
sem injustiças e sem injustas discriminações, onde
todos fossem responsáveis e comprometidos com os resultados;
- um mundo
sem opressores, sem oprimidos e sem parasitas aproveitadores;
- onde todos
cooperassem sem se acomodar, cada um fazendo a sua parte, para o bem-comum
e para o bem-estar de todos.
Mas Vieira
bem sabia que isso é algo que se conquista a cada dia.
Esta
parece ser a mensagem básica da obra inacabada, Clavis
Prophetarum, que tanto queria ter terminado de redigir e tantos
aguardavam ansiosos...
2.
A busca do Santo Graal é uma outra imagem paradigmática que
me vem à mente, não menos adequada do que a dos argonautas.
As peripécias, os altos e baixos, os obstáculos, os perigos
e as muitas dificuldades que passou o Cruzeiro Histórico têm
certa similaridade com a missão dos cavaleiros da Tavola Redonda.
O novo cavaleiro,
montando a garupa das ondas marítimas e de alguns desentendimentos,
foi procurar com todos os riscos, o novo Santo Graal: o novo cálice
sagrado, a energia e benquerença que Vieira quis dar ao
mundo.
3.
“Per áspera ad Astra”, diz a sabedoria latina.
Neste
Diário de Viagem, lendo o verso e o reverso, o texto e o
contexto de todas as crônicas, o leitor terá muito a buscar,
a fruir e a aprender.
Afinal, cada
um a seu modo, todos buscamos algum velocino de ouro, no
reino das imagens mágicas que enchem nossos dias, principalmente
quando nosso destino é encontrar o mundo em que se desenvolveu e
operou o gênio irrequieto, ousado e sonhador do grande P. Vieira,
o Pai-Grande ou Abaré-assu como lhe chamavam os índios, que
ele tanto estimou e que tanto o admiravam e respeitavam.
Uma viagem
como esta, com tais propósitos, tem grande apelo. Chama a atenção.
O CHICO
levou Vieira às conversas de jovens e de adultos, criou impacto cultural.
4. Esta
viagem, com Vieira, tem sabor de mistério e de aventura, de poesia
e de epopéia.
Para nós
Vieira é uma história épica
emocionante e instigante. Esta história épica somente
consegue observá-la quem encontra um ponto adequado de observação.
O Diário
de Viagem lê o mundo e sobre ele reflete, posicionado no
balanço das ondas do mar, a bordo do veleiro CHICO,
enquanto peregrina, seguindo alguns caminhos do grande Vieira.
Magriço
****
São Paulo.30.julho.2008
3.
Diário de Viagem
Um Poema em Prosa
O
Cruzeiro Histórico é uma grande aventura. O Diário
de Viagem é um poema épico em prosa, do qual o prof.
Fabre é o herói e o enredo e o autor. Impulsionando o Cruzeiro
Histórico estão os seus grandes e pequenos apoiadores. Mas
Fabre foi o veleiro, a vela, o vento e o mar, às vezes revolto e
tempestuoso outras vezes calmo e generoso, mas sempre aventuroso. Ele é
o Argonauta moderno, em busca de um grande tema: Vieira.
Fabre é
o poeta criando dentro e fora de si o seu poema que foi sendo vivido e escrito,
estrofe por estrofe, verso por verso, no seu Diário de Viagem,
que aqui apresentamos para compartilhar suas aventuras, suas apreensões
e sua visão do mundo com seus leitores.
1. No
reverso de tudo o que aqui escreveu, está a busca de um Vieira, ainda
hoje
encoberto para muitos, mas muito vivo e ativo. Fabre, com o CHICO,
ajudou a trazer Vieira de novo, para nossa companhia, para inspirar
o mundo.
Com todos
os que colaboraram efetivamente para esta grande realização,
a missão do Cruzeiro chegou a bom termo. Agora começam a aparecer
alguns resultados. Mas no percurso do roteiro, os resultados falaram por
si, nos meios de comunicação.
O Cruzeiro
Histórico como todos os grandes empreendimentos, tem muitos colaboradores.
Pelo menos
sete instituições/pessoas se destacaram na linha de frente
desta aventura cultural e cívica, impulsionando desde a primeira
hora:
O Prof. Fabre,
criador e executor do projeto, a T.UA. e o Prof. Meira, a GRACO, a Analux,
em Portugal e nós, da EDUBRAX, no Brasil. A estes apoiadores se juntaram
muitos, muitos outros, no percurso da viagem. Foi uma obra coletiva abençoada.
2.
Hoje Vieira é uma estrela, de primeira
grandeza, percorrendo nossos céus, nos observando e nos inspirando.
De dia é um sol brilhante, que ilumina e aquece,
de noite é a Estrela Polar que nos indica o norte
e todos os demais pontos cardeais.
Lá
de cima ele nos segue e nos olha com olhar alegre de seu natural entusiasmo,
e às vezes com jeito matreiro, de advertência pelos nossos
passos desajeitados e com certa arrogância descabida. Aprova e se
regozija por nossos sucessos, por nossas realizações e por
nossas utopias.
Vieira foi
também o farol de cada porto, postado no mar ou
em terra para sinalizar pontos orientadores pelos mares da vida.
Enfim esta
viagem aos mundos de Vieira e aos mundos do coração humano,
descritas no Diário de Viagem nos prova a força
da afirmação de Hermes Trismegisto que cunhou o seguinte axioma:
Deus é como uma esfera, onde o centro está em todo lugar.
A Universidade
de São Paulo reinventou a frase e a fixou na base de seu obelisco
bem no centro de sua Cidade Universitária:
A ciência
é como uma esfera, onde o centro está em todo o lugar.
Onde quer
que o CHICO estivesse, era o centro de atenções
de muita gente.
3.
Vieira foi uma estrela viva e luminosa que seguiu o Cruzeiro
Histórico e que o inspirou. Se alguns dias foram “tempestuosos”,
é porque algum deus do Olimpo, talvez Baco, encobriu o veleiro, com
seu manto de nuvens, para Vieira não poder ver o que acontecia; ou
então ele quis castigar uma certa arrogância
dos humanos para que todos saibam que as coisas boas, somente se conquistam
arriscando e sofrendo; e até para preservar a autenticidade
do enredo épico.
Este é
o preço da vitória, o preço de uma bela história
cativante que inspirou Diário de Viagem.
Neste contexto
de estrelas e faróis, de aventuras e vitórias, vale a pena
escutar Fernando Pessoa, pela voz de Ricardo Reis:
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és,
no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha,
porque alta vive.
Vieira
será sempre, para todos os que seguem sua estrela, um farol luminoso,
guiando os passos de quem sabe e quer ver.
O Cruzeiro
Histórico fez uma viagem memorável. O mundo inteiro sabe que,
durante muitos meses, um pequeno veleiro seguiu os caminhos de Vieira para
chamar a atenção do Brasil, de Portugal e do resto do mundo.
E conseguiu.
O
Diário de Viagem do CHICO dá testemunho
desta viagem, abordando também o assunto que foi seu mote: P. Antônio
Vieira, como cidadão do mundo, audacioso, sábio e generoso,
que sempre lutou por um mundo melhor e percorreu mundos para cumprir a sua
missão, sem regatear dificuldades.
Magriço
****
São Paulo.04.agosto.2008
4.
RECORDAR É REVIVER
SOLIDÁRIOS NA APREENSÃO
A nossa crônica de hoje é extraída com uma mensagem, por correio eletrônico, que eu enviei ao Prof. Fabre, durante sua estadia na Marina de Recife, em momento de extremo pessimismo e frustração pela carência em que estava metido. Ao texto nada tenho a acrescentar. Dispensa comentários:
Caro Fabre
1. Escrevo-lhe
como companheiro de viagem dos alvores de nossa juventude final da
adolescência, quando participávamos de aula da mesma sala e
com os mesmos professores, estudávamos no mesmo salão, brincávamos
e jogávamos os mesmos jogos, passeávamos nas mesmas salinas
e observávamos o mesmo pôr-do-sol nas águas da Ria de
Aveiro.
Mais que
isso, sonhávamos os mesmos sonhos de um futuro de grandes ideais.
Éramos uma garbosa turma de 26 rapazes, ainda quase adolescentes,
de olhares brilhantes de esperança, postos ao longe, no horizonte
ainda desconhecido.
Nossa vida
não para. Segue sempre para a frente num paradoxal presente contínuo
que
não se acaba. Mesmo que queiramos rasgá-lo. Em nossas vidas
vamos construindo um grande álbum, sempre animado, sempre movente,
sempre impressionante, sempre brilhante, às vezes nevoento. Nela
há sóis, estradas, pontes e aves esvoaçantes. Há
parentes, há amigos especiais e até alguma “zebra”
eventual, a pouca distância.
2.
A maioria dos colegas ainda tem um espaço privilegiado em meu painel
de lembranças mentais. Fazem parte de uma paisagem movente, animada,
onde nos movemos alegremente, com certa saudade dos tempos permanentes,
com saudade de um futuro melhor. Cada um por seu lado, ainda que distante,
em diversos continentes, somos companheiros de viagem... Você lá
está sorridente e contido em seus pensamentos, com seu olhar no indefinido...
Na nossa
fronte há o peso de muitas conquistas, muitos momentos felizes e
muitos dissabores. Dissabores algum dia passaram por nós, mas o que
conta é o bem que fica e nos dá auto-confiança.
3.
Depois de quarenta anos, voltamos a nos encontrar com alegria e imensa satisfação.
A
Internet foi veículo em que você me localizou. Já choveu
muito em nossos telhados e em nossas plantações. Já
passaram muitas primaveras e alguns invernos (ou o inverso). Já passaram
muitas águas debaixo de nossa ponte. Muitas sementes viraram árvores
e bosques frondosos. Muitos sóis nos iluminaram, em diversos tempos
e lugares, em diversas latitudes. Muitas alegrias passaram debaixo da nossa
ponte.
Muitas idéias
e ideais passaram por nossa mente. Mas somos os mesmos eternos sonhadores,
com as eternas utopias; algumas já realizadas ou descartadas e outras
ainda fazendo parte de nossos atrevimentos incontidos.
Muitas árvores
que plantamos viraram árvores frondosas que dão sombra e servem
de lar à passarada inquieta.
4.
Hoje te vejo de longe, na marina de Recife , sozinho, sonhando,
com uma garça branca, parada, a te olhar da proa de um barco, dia
após dia. E você, no outro barco, pensativo meio desiludido,
enquanto o barco balança às ondas do mar; balança,
balança sem parar. Seu balanço vital, alheio ao que se passa.
Parece que
você olha a garça transmutada em pássaro preto, talvez
em corvo agourento. Mas... Não. Há aí algum engano.
Se fosse
um corvo talvez fosse aquela ave mística dos alquimistas que trazem
boas novas e é companheira alvissareira, como foram os dois corvos
fiéis, que acompanharam o navio que transladou São Vicente,
do cabo de Sagres para Lisboa. Segundo a lenda, os dois corvos ainda lá
vivem e esvoaçam vigilantes, pela capital das sete colina, para que
a luz e a paz brilhem, sempre, para toda aquela gente da capital dos impávidos
navegadores, e para que os tormentos dos mares bravios não afundem
os nossos navios, nas costumeiras aventuras, marítimas ou terrestres,
com que o destino nos marcou.
Do outro
lado do Atlântico ouço a tua esposa preocupada, talvez assustada,
tendo que gerir a situação criada por teus descuidos ou pelo
destino de ser outro “quase”
5.
Continuamos levando nossas vidas com a mesma garra, com a mesma persistência
e com a mesma esperança.
Ver um companheiro
em tão precárias condições dói. Teus
gritos e agressões são reações de fera ferida
que não vê saída e se agarra ao pescoço de quem
talvez a possa ajudar ou ir junto para o fundo do mar.
Mas sobre
tuas agressões irracionais, e sobre o sol que vês se escurecer
acima de tua cabeça irei falar amanhã em outra mensagem mais
contundente. Por agora vá segurando o sol para que não se
perca no horizonte.
Magriço
Nota: Os
documentos que servem de base a estas crônicas e as de nº 7,8,9
e 10, embora redigidos em agosto de 2007, estão sendo divulgadas
pela primeira vez nesta crônica, pelo fato de se revestirem da dimensão
de ficção.
****
São Paulo.07.agosto.2008
5.
TEMPESTADE CAINDO SOBRE O CRUZEIRO
Obs.: Em quatro crônicas, que seguem são excertos adaptadas de uma mensagem que enviei ao Dr. Madeira. Achei que esta carta pode ajudar a entender melhor o drama vivido no embate Fabre X Barroso/Falcão. Eis a mensagem.
1. Quanto
à sua opinião sobre o confronto GRACO X FABRE, resolvi repensar...
Concordo num ponto talvez não valha a pena dedicar tanta atenção
a esse confronto onde as pessoas não estão aí para
se ralar... O texto deu-me muito trabalho, num momento em que estou muito
atarefado com outros trabalhos de mais amplo espectro.
Tens razão
no que disseste mas ainda assim insisto.Aliás pelo que disseste mais
me convenceste a não desistir. Preciso registrar meu posicionamento.
O que aconteceu reveste-se de suma gravidade.
Esperamos
que se evite o velho costume de a vítima ser condenada
como culpada. A questão é saber quem é
quem. Além disso, tudo pode ser interpretado de pontos de vista diferentes,
gerando grandes contradições e inquietações.
Achei que
o assunto merecia o esforço que fiz para escrever,
embora sacrificando outras tarefas. Você não acha que merece?
Tanto a GRACO como o Fabre merecem que alguém se debruce sobre esta
questão complexa que ameaça sair de controle. Há méritos
dos dois lados que devem ser respeitados. Também há cólera
irracional nas duas partes em contenda...
2. Enfim,
trata-se de uma questão de alta relevância Cultural com muitos
méritos de lado a lado e que estão sendo
jogados fora, no bolso da roupa suja que vai à lavanderia. Alguém
precisa lembrar-se de verificar os bolsos antes de irem ao tanque.
Todas
as pessoas envolvidas merecem muito respeito. Fraquezas? Agora é
questão de somenos. São questiúnculas. Quem ficou à
deriva foi o Fabre... O maior perigo e o maior sofrimento foi dele e da
tripulação. Praticamente foram abandonados à própria
sorte.
Não
deve ser fácil ficar à deriva, tendo um barco por possível
mortalha.
3. Tentei
colaborar, refletindo, com respeito a todos... Mas sem deixar de realçar
o que eu penso de verdade... Ainda que possa doer. Ainda acho que o amigo
é o que tenta dizer a verdade e não o que apenas elogia por
ser mais fácil e mais cômodo.
Como vê,
eu não sou da geração em que as pessoas "não
estão aí para se ralar” com problemas alheios. Aliás
nós (nem eu nem você) não somos dessa geração
acomodada e anestesiada, não é? Somos de uma geração
de compromisso... Somos de uma geração onde a esperança
era algo palpável... Uma geração de princípios
não casuísticos (no entanto, em alguns casos, isto não
passa de uma bela fantasia...)
Já
me perguntei muitas vezes por que “perder” tanto tempo com uma
questão que, economicamente, me deu muito prejuízo e inquietação.
Não obtive resposta. Só sei que é meu dever cooperar,
se puder... Sem olhar pelo retrovisor... Olho para a frente. O retrovisor
é de uso eventual.
4. Repito:
não escrevi por falta de ter o que fazer. Também não
escrevi para ferir
ninguém, embora possa contrariar alguém. Não há
como ser diferente. Os problemas estão dentro de quem os gera. Tal
pai, tal filho.
Quis ir fundo.
O que não disse expressamente está nas entrelinhas. Sim, deixei
muito nas entrelinhas. Será explicitado se necessário.
Entrei numa
“guerra”, eu sei. Quis fazer um texto que, claramente, possa
levar o Sr. Barroso a uma marcha à ré em sua cólera
e fúria suicida. A meu ver, ele escolheu a pior opção.
Sente-se ferido e reage com violência..., atirando para todos os lados.
Foi ele quem detonou a “guerra”, deixando a GRACO em situação
muito frágil. (A conferir).
Eu
quis colaborar para que parem e reflitam. Até porque a minha experiência
empresarial e humana é bem longa e bem sucedida. Logicamente conta
alguns dissabores. Fazem parte.
Querer colher
rosas sem espinhos é não querer nada e enganar-se: é
romantismo utópico impossível. Não há negócio
sem risco...
Defrontei-me
muitas vezes com pilantras e é preciso saber posicionar-se, com cautela,
pois manejam armas escusas que nós não temos. Acho que devo
falar, do meu ponto de observação... Escute
quem quiser e se quiser.
Magriço
****
São Paulo.09.agosto.2008
6.
O MÉRITO DE CADA UM
1. Dizem
os romanos:
“Violenta
non durant”. [As tempestades violentas não
duram muito]
As grandes tempestades logo se esvaem, mas não antes de fazerem grandes
estragos (Que alguém vai sofrer). Depois desaparecem... Mas o prejuízo
fica.
Confidencio-lhe
algo:
Antes de
falar com o Dr. Barroso, estava mais do lado dele, na contenda, do que do
Fabre.
É
que Fabre me tirou do sério muitas vezes, por suas grosserias...
e seu desespero que beirou o irracional. O Perneta trabalha dos dois lados;
silenciosamente...
Depois de
ouvir o Dr. Barroso entendi melhor a revolta do Fabre. Por isso é
que é bom ouvir os dois lados.
Falta serenidade
ao Dr. Barroso. Isto é péssimo... Mas sem dúvida também
falta serenidade ao Fabre, com a diferença que ele é o atacado...
É devedor? Mas foi ele o abandonado “às feras”,
jogado para morrer, o que não aconteceu por um triz. Alguém
foi lá e “desencalhou” o barco e as
vidas...Caso contrário, a história teria outro final bem sabido...
2.
Principalmente eu quis deixar claro que a GRACO teve uma visão
extraordinária ao apoiar o projeto "Vieira". Isto
deve ser tomado como uma grande iniciativa, digna de tão alta instituição.
Deve ser
tomada com honra, em termos sociais.
É
de alto valor simbólico que a GRACO patrocine um evento destas dimensões,
em Coimbra, onde Vieira quase foi levado à fogueira.( Mas foi
queimado em esfinge!, isto é: fizeram uma estatueta que
diziam representar Vieira e a queimaram publicamente em “auto-de-fé”
simulado)
3.
É tão válida a iniciativa que a Universidade Católica
de Lisboa está, agora, divulgando um projeto idêntico
nos objetivos, em Lisboa e outro no Brasil.
Bem hajam. Merecem palmas.
Esquecendo
os traumas, o projeto “Cruzeiro Histórico”
que a GRACO financiou, por empréstimos, valeu a pena e deve ser computado
como benefício à cultura da humanidade. É auspicioso,
repito, numa cidade de tão alto porte histórico, e onde, por
contraste, Vieira tanto sofreu (foi aí sua via crucis e quase o seu
Gólgota), a GRACO "financiar" tão bela iniciativa.
E olhe que “não se põe a lâmpada debaixo
do alqueire, mas em cima, para alumiar a todos". A GRACO
deve se honrar da iniciativa que patrocinou. Isto deveria ser divulgado
para que outros lhe seguissem o exemplo.
Nada de pessimismos
e angústias: É preciso colher os frutos que a árvore
plantada produziu e não jogá-los fora... O bom semeador não
age assim. Façam-se as contas, não só no financeiro,
mas também no sócio-cultural.
A meu ver,
talvez a viagem do Cruzeiro Histórico, apesar dos pesares, tenha
sido a melhor comemoração do 4º Centenário de
Vieira. A melhor pelo pioneirismo, e por ter, praticamente, dado início
às Comemorações do 4º Centenário; e por
ter conseguido algum espaço na imprensa pelo qual chamou a atenção
da sociedade para Vieira. Depende agora dos registros para a história.
4. A
guerra, a fúria e a cólera do Dr. Barroso é uma afronta
(a meu ver) contra a GRACO, que tal não merece, nem ele merece o
que fez... ( Com isto não quero julgar; apenas opino). Nunca se olham
os fatos com um só olhar (vesgo?...)
Quem
deu o primeiro tiro nesta batalha foi o Barroso, ao chamar o Fabre de “pé
rapado”. Isto, decididamente, ele não é. O
Sr. Barroso tem dois doutorados como o Fabre, em grande Universidade da
França e do Canadá? A cólera do Sr. Barroso está
mal contada? O que gerou nele tão inusitada reação?!
Se não tem, não pode espezinhar, e se tem, certamente não
espezinha. Não
seria sensato.
Magriço
São Paulo.13.agosto.2008
7.
BUSCAR O PONTO DE EQUILÍBRIO
1.
Diante de tantas agressões de lado a lado, achei que deveria colaborar
para pôr os pingos nos iii. Esta história tem um enredo complexo
e até dúbio em alguns pontos. Mas aconteceu.
Quem fez
o caminho das pedras foi o Fabre. Ele se arriscou e partiu e voltou. Ponto.
Agora é questão de "leitura": cada um interpreta
como quer o que quer que seja. Há muitas "leituras" enviesadas.
Mas há também a leitura justa.
Quis colaborar
para, se for possível, defender o Sr. Barroso, o Fabre e GRACO de
um grande atoleiro. (Digo isto com pesar...). Quis sugerir.
O
caminho é todos baixarem as armas, inclusive o Fabre,
é lógico, e entrarem em diálogo e negociações
leais, em vista de encontrar as soluções possíveis,
com lealdade e justiça, através de mediador
que saiba ouvir e julgar com imparcialidade (?!).
(Se acham
que o Fabre é a ovelha perdida, que vão ao seu encontro. Mas
se a ovelha perdida for também o Barroso, que vão também
em seu socorro... Não há alternativas...Está lá
no Evangelho...)
2.
Não advogo o calote do Fabre, mas a busca da justiça possível,
levando em conta todas as variáveis envolvidas. Também os
méritos. O que sair deste modelo tornará qualquer ação
impossível. A arrogância furiosa do Barroso
e do Fabre são dois lados da mesma moeda que levam ao pântano,
onde os sapos coacham...
A “sede
de sangue” do Sr. Barroso não se coaduna com o cargo e a empresa
onde trabalha. A falta de serenidade também mata.
Já
esqueceram o final da fábula dos dois carneiros,
atravessando o rio, em direção oposta e que se encontraram,
frente a frente, no meio da ponte?! Não. Ninguém esquece.
A teimosia afogou os dois. Mas os carneiros são irracionais!
Achei que,
de longe, poderia colaborar, mais uma vez, sem pedir nada em troca. Afinal
recebo o salário de aposentado. Posso fazer trabalho social.
Magriço
São Paulo.14.agosto.2008
8.
LOUROS COMPARTILHADOS
1. A
questão do “Cruzeiro Histórico” do Dr. Fabre é
muito complexa. Acho que não deve ser tratada superficialmente. Ainda
assim, simplifiquei o que pude, para me reduzir ao essencial, em termos
paradigmáticos.
Não
sou dos que enfiam a cabeça na terra. Não sou avestruz. Se
é preciso vou à luta. Não gosto de situações
indefinidas. A minha parte eu faço; e vou até o fim, serenamente.
Procuro
sempre encontrar um ponto positivo, até nos fatos
com predominância negativa, mas de olhos bem abertos. Há sempre
uma luz... Também há sempre uma ponte estreita
e escorregadia por onde teremos que transitar...
2.
Considerei que deveria me manifestar pelo fato de me ter sido “imposto”
o papel de observador e até de "bombeiro", em momentos
de grande emergência do “Cruzeiro”, entre
a GRACO, a Analux e o Fabre, por intermédio do Prof. Jonas. Umas
vezes levamos soluções, outras vezes fazemos
papel de moderador.
Aos trancos
e barrancos o Fabre conseguiu voltar. E não voltou sozinho. Sozinho,
sem ajuda desinteressada, ele não teria conseguido voltar. Nunca...
Os louros, se existirem, são dele, compartilhados com quem o ajudou
a voltar. (É sabido que o Fabre não sabe compartilhar nada
com ninguém, a não ser os prejuízos. É fera
ferida...). Qualquer que seja seu posicionamento, os louros eventuais desta
missão, pesa uma penhora moral e outra financeira. Qual a de maior
relevância?!
A
“dívida” moral do Fabre são créditos em
aberto para todos os que o ajudaram, no Caribe. Espero
que não esqueça ninguém, nem os açorianos “anônimos”
que o ajudaram com muito carinho e generosidade, mostrando mais uma vez
o caráter altruísta do povo açoriano. Há muitos
Simão Cireneu no caminho do Fabre. Será que ele reconhece?!
Se não reconhecer, pior para ele... É ele quem perde.
Seria bom
que mandasse a todos uma mensagem de agradecimento. É ver para crer!
3.
Acredito que nós da EDUBRAX, o Prof. Jonas e eu, talvez, sejamos
as testemunhas mais avalizadas de toda essa história.
E somos testemunhas neutras, sem ter nada a perder nem a ganhar. E, estamos
muito bem documentados, desde os bastidores até à ribalta.
É
esse papel de moderador que, nos finalmentes, achei que nos cabia. Não
poderia me omitir. Não
quis nem quero ser juiz de nada.
(O Vieira
tem um Sermão monumental sobre os crimes da OMISSÃO.
Conhece?)
Essas são
as razões do texto. Ainda não o enviei à GRACO. Ainda
não sei se o farei.
O mundo dá
voltas...Talvez os dois lados em litigância venham a precisar do testemunho
que dei naquele documento.
Aguardo parecer
do prof. Meira. Depois decido o que fazer.
Magriço
São Paulo.15.agosto.2008
9.
FALTA DE LOGÍSTICA
-TRAGÉDIA ANUNCIADA-
Nas próximas crônicas aproveitamos passagens de uma longa mensagem que enviei a Fabre, quando estava desolado, em uma marina precária, em Recife. Leia comigo:
Caro
Prof. Fabre,
1.
Ontem à noite, sentei-me à mesa, às 23h45, depois de
longo dia de trabalho. Você sabe que meu dia tem, regularmente, duas
jornadas.
A vida de
professor é árdua mas compensa pelas satisfações,
que nos traz, em decorrência dos conhecimentos que transmitimos a
uma juventude sedenta de saber. Sentimo-nos úteis. Sentimo-nos
engenheiros responsáveis pela construção de um mundo
talvez melhor...
Eu estava
muito aborrecido pelas suas grosserias e palavras toscas, selvagens. Mas
não escrevi o que pretendia. Preferi deixar para outro dia. Escrevi
esse texto que acabei de te enviar, meio involuntário, meio provocativo
e meio... deixa pra lá. A este texto chamei “Recordar
é Viver”.
Enfim, já
é outro dia. É sábado. Espero que agora saia o que
preciso te dizer, embora não me agrade o assunto. Os teus e-mails
são um festival misto de grosserias e desespero... É uma situação
surrealista, com cheiro de manicômio... É total a falta de
compostura e de limites. Você assemelha-se a bomba atômica de
Hiroshima, na véspera da explosão, se ela pensasse...
São
questões irritantes que precisam ser esclarecidas,
ou, ao menos, verbalizadas.
A caneta ainda está incerta do rumo a seguir. Quer se ocupar de assuntos
mais interessantes. Mas vamos lá.
2. Quero
dizer que estou pasmado pelo sarilho/sinuca em que você entrou. Tenho
ouvido seus alarmes. Não sei se são alarmes trágicos
ou se há outras intenções em véspera de ressaca.
Hoje não
sei se alguém ou você mesmo sabe o que está falando
quando diz algo.
O Jonas comenta
tuas mensagens. Não as leio todas por falta de tempo. Não
sei a quem de fato se dirigem, as tuas imprecações. Nem quero
saber. Sei que a nós não é, nem pode ser. Nunca
assumimos qualquer compromisso para resolver tais problemas e sanar tuas
grandes e graves deficiências que nunca consegui imaginar, num intelectual
final de carreira. Afinal, quem te colocou nessa situação
de penúria?!
Diante de
teus alarmes, sinto-me como um mineiro que trabalha no
cais do Rio de Janeiro, na Guanabara, quando alguém lhe gritou Zé
a tua casa de Niterói pegou fogo e a tua sogra vai morrer queimada
se não a salvares. O Zé lançou-se às águas
e nadou, nadou até chegar a Niterói, desesperado. Já
na praia olhou para todos os lados. Espantado refletiu: Eu não me
chamo José, não sou casado e não moro em Niterói...
Que é que eu vim fazer aqui?!!
3.
Quem te colocou em tal dificuldade como “bóia fria” das
praias ou das marinas do Brasil? Como
alguém pode pegar um barco, atravessar o Atlântico e vir para
outro país, sem meios para sobreviver condignamente e sem equipamentos
para cumprir a sua missão?! Que falta de gestão é essa?!
Se você
fosse um franciscano, um eremita ou um pobre Lázaro, muitos ajudariam.
Até as Santas Casas (que estão à míngua). Mas
você é um profissional com uma (presumível), alta missão.
Não posso acreditar que você saiu de seu país, como
pobre peregrino, sem espada nem bordão, sem cabaça de água
e sem farnel.
Parece que
você foi pra “guerra” sem armas, sem tostão e sem
gibão.
4. Como
alguém pode se lançar ao mar, para tão longa jornada,
para passar doze meses pelas águas do oceano, de um lado e do outro
do Atlântico e por rios e cidades estranhas, sem provisões
para as pessoas agentes da empreitada, a tripulação, e sem
dinheiro para os suprimentos, equipamentos e para o cachorro perneta que
anima a tripulação, sem dinheiro para nada. Não foi
feito um planejamento e uma previsão de financiamentos?
Que falta
de logística !! Que lástima!! Que enrascada!! Isto já
parece ficção! É triste tal situação.
A GRACO,
que te financia, não fez contigo uma planilha de gastos e reserva
para eventualidades?
Você
está parecendo Sá Carneiro em Paris, sem a mesada do pai,
que em Moçambique estava falido. O desfecho é bem sabido.
Perdemos um HOMEM que ainda tinha muito a fazer e produzir. Uma traumática
tragédia...
5.
Os seus antepassados descobridores, os “gigantes”
dos sete mares, heróis da humanidade, que você considera pigmeus
desesperados (vide Diário de Bordo), preparavam suas viagens com
o tempo suficiente para se equiparem e não serem surpreendidos nem
serem levados a passar necessidades. Pelas ilhas deixavam cabras, porcos,
galinhas e coelhos, que aí se reproduziam, para o alimento não
lhes faltar nas próximas viagens, na ida e na volta. Isto é
logística.
Foi com esse
aparato e sem desperdícios que esses homens deram “novos
mundos ao mundo”. No século XXI, com todos os recursos,
parece que sua missão encalhou em águas profundas (!!)
As “Bandeiras” de São Paulo eram empresas complexas. Eram estrategicamente preparadas pelos Bandeirantes, por muitos meses e anos, com altos investimentos, para que nada faltasse. Cada “bandeira” tinha de 1000 à 2000 homens que precisavam comer, se defender e se vestir, com roupa à prova de flecha e armas para ataque e defesa.
Mas
você, no século XXI, o século da logística, veio
sem as previsões necessárias ao empreendimento?! Não.
Não consigo compreender. O que está errado?! O que falhou?
É inacreditável! Ninguém assumiu tal responsabilidade?!
O barco não podia se arriscar nessa viagem antes de ter condições
adequadas. É minha opinião, que neste caso não resolve
nada. A sorte foi lançada.
Amanhã
voltaremos a este assunto.
Magriço
São Paulo. 18.agosto.2008
10.
Um Olhar Estrábico
A
seguir dou prosseguimento às idéias da crônica de ontem.
Prossigamos.
Entram em cena alguns revezes e incongruências indispensáveis...
1. Caro
Professor,
De nossa parte,
tenho a reiterar o que o professor Jonas já lhe lembrou e que todos
bem sabem, a não ser que se façam de desentendidos:
Nós
não fomos consultados em nada nem para nada, na programação
dessa viagem. Nunca. Quem planejou, deve se responsabilizar
pelas falhas e pelas carências. Nós apenas participamos da
criação da idéia, um ano antes, sem nada operacional.
O Cruzeiro
foi estruturado como um projeto com dimensões humanísticas
e também comerciais. Previa-se lucro
para garantir a sustentabilidade, pagando as grandes despesas.
Nós
nunca fizemos parte desta dimensão. Não tínhamos tempo
disponível.
A GRACO detinha
os direitos e também o lucro nos termos pactuados.
No entanto,
parece que algo falhou na logística, no planejamento e ou na gestão.
Nós
fomos atender um apelo dramático do Fabre, sem nos imiscuirmos nos
compromissos comerciais da missão. Suplementarmente.
Apenas nos
propusemos a socorrer o empreendimento, como socorro emergencial, para garantir
o essencial quando tudo periclitava. Levamos um “bote salva-vidas”.
Só.
2. Nossos primeiros socorros ao Cruzeiro Histórico, no final de maio e começo de junho de 2007:
a)
Sabendo que as velas estavam imprestáveis, oferecemos ajuda de emergência
para substituí-las. Você nos disse que já tinha conseguido
financiamento para isto.
b) Você
solicitou-nos, por empréstimo, uma filmadora profissional Sony, um
tripé e uma máquina fotográfica de primeira linha.
Está bem. Resolvemos. Mas tivemos dificuldades para enviar pelo Sedex
ou por avião, devido ao tamanho do Tripé.
c) Para garantir
a chegada do material, fomos dois professores levar o material pedido, no
seu veleiro, em Salvador. Fomos para prestigiar o projeto. Foi quando nos
foi dito que a filmadora Sony precisaria ser DVCAM.
Voltamos
para São Paulo, pesquisamos no mercado. Tínhamos três
alternativas. O preço era muito maior do que a previsão que
você nos informou. Informamos a filmadora que considerávamos
a melhor, pelas informações dos técnicos. Disseram-nos
que era das melhores. Consultado,
você concordou. Adquirimos a filmadora. Não saiu barato, não.
Foi quase o dobro de sua previsão. Assim mesmo assumimos, pois era
equipamento essencial e não havia outra alternativa para o
Cruzeiro.
d) Pegamos
então toda a encomendada e fomos levar-lha, no seu veleiro, entregue
em mãos, em Salvador. Fui eu e a professora Zeni.
Deixamos
nosso trabalho para atendê-lo, para cooperar com o projeto para que
o mesmo não fosse mais prejudicado. Sua reação: Ficou
contente e satisfeito. Mas como sempre nem sequer agradeceu.
Assinamos
então um contrato de parceria, estabelecendo os
compromissos de cada lado: o projeto CHICO e a EDUBRAX. Nada na área
comercial.
e) Fomos
duas vezes de São Paulo a Salvador e você não registrou
nossa ida no Diário de Bordo. Você fez de conta que nada recebeu.
Aparentemente você escondeu envergonhado, suas penúrias...
Silenciou. Outras ajudas eventuais de comerciantes você as considerou
muito mais valiosas para o projeto, embora secundárias. A nossa ajuda
foi muitas vezes superior. Atendemos à parte essencial do projeto.!
Amigo não
é serviçal. Você está minimamente equivocado...
Quem, por nós, foi te atender foram Instituições Universitárias
que precisam de registro do que fazem. Você se esqueceu? Por que se
lembra agora?!
Fabre, Fabre,
competente capitão! Você está perturbado! Vença
logo essa depressão. Assim como está, você não
vê mais a beleza do céu e do mar; não sente a aragem
fresca. O pior é que você não ouve mais as aves da cidade,
o canto do sabiá. A inquietação vai obscurecendo a
sua mente e só vê numa direção.
Você
talvez tenha algum estrabismo intelectual. Como isto se
resolve?
Magriço
São Paulo.21.agosto.2008
11.
UMA CATILINÁRIA
- Horas Sombrias-
O
Prof. Fabre cometeu suas improvidências e as suas falhas logísticas
e quer mandar a conta à Instituição, pois a GRACO não
mais o atende.
Estamos recebendo,
em paga da ajuda que demos e da velha amizade, as suas aleivosias e incompreensíveis
agressões. Será que você perdeu a lucidez e o bom senso?
Já me parece que você escreve em javanês... Ninguém
entende nada... Aonde você quer chegar?
Você
está reagindo como o sapo: pisado pelo elefante, gritou lá
de baixo: tira a tua pata de cima de mim ou eu te rebento....
Bem, vamos
aos fatos. Aí vai mais uma parte do e-mail que lhe enviei para Recife.
1. Caro
Fabre,
Você
deve estar descontrolado. Precisa da ajuda de um médico ou de um
conselheiro. De minha parte recomendo: descarregue com quem quiser as suas
frustrações e angústias. (Não desdenhe de quem
lhe acudiu) Nós apenas lhe demos a mão e lhe acudimos, quando
você pediu, no meio de grande embrulhada. Isto você nunca agradeceu,
nem fez por merecer.
Enfim, fazendo
as contas: já gastamos, para ajudar o seu projeto Vieira, muito mais
de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), entre equipamentos, viagens, hotéis,
restaurantes, pessoas disponibilizadas, seguros, etc. Não foi pouco.
Mas conseguimos que a missão não gorasse. Já valeu
a pena.
Sabemos que
você quer, sim, agredir a GRACO. Mas qual é o limite da responsabilidade
de teu financiador? Nós não temos nada a ver com teus compromissos.
Cada um assuma o seu cuidado...
2.
Lembro-lhe, no entanto, que as expressões chaves de todo bom relacionamento,
em todas as línguas que conheço, são como palavras
mágicas para abrir portas: Por favor, muito obrigado,
desculpe, com licença, muito bem.
Parece que
você esqueceu todas, há muito tempo. A sua arrogância
parece que apagou essa parte de seu dicionário ou de sua educação.
Você esqueceu o que sua mãe lhe ensinou.
Lembre-se
sempre que os títulos acadêmicos não dispensam a boa
educação, antes a pressupõem. A boa educação
vale mais que tudo o que você tem.
3. Isto posto, com todo o respeito que tenho por você e pela sua dedicação e suas ousadias, em resposta às suas incompreensíveis agressões, sou obrigado a tomar algumas posições, sem meias palavras:
3.1
“Quosque tandem, Catilina”. Até
quando, Fabre? Você só agride e berra. Até
quando?! Você não nomeia ninguém mas atira indiscriminadamente
em todos (?!).
Rejeito,
detesto e contesto, todas as agressões que você vem fazendo
ao professor Jonas e a todos que te ajudaram, que tudo têm feito,
o possível e o impossível para te ajudar. O teu muito obrigado
é esse? Essa é a tua educação?
Isto não
está no livro de boas maneiras. Não é tolerável.
Aliás, é vergonhoso.
Tenho vergonha
de tais atitudes suas. Afrontas? Faça-as a quem você quiser,
a nós não. Aqui você não vai ficar impune? Você
não aprendeu a respeitar, no seu lar? Você tenta agredir quem
procura ajudar? Aprendeu mas se esqueceu. É melhor parar com isso!
Não ficou bem.
Quem diz
o que quer, escuta o que não quer. Isto é neurose
demais. Procure um médico. Você pode até arrazoar que
as agressões são para outros e não para nós.
Não quero saber; você, desesperado, põe muitos amigos
e “inimigos desafetos” no mesmo saco... Esse não é
o comportamento de quem está em tão más condições.
Você
parece o Prometeu amarrado ao rochedo...
3.2 A
filmadora que te enviamos é muito boa sim. É profissional.
Faz trabalho de primeira linha. Atende plenamente às necessidades
do projeto. Atendemos o seu pedido.Você escolheu e concordou com a
filmadora. Os consumíveis são problema seu. Só.Pelo
que parece, você tem outros financiadores. Vá atrás
deles...
Você
não tem família a quem recorrer? Recorra à sua família!
Você tinha também
um boa quantia de Turid para consumíveis. Como agora
diz que não tem como adquirir os consumíveis? A filmadora
exige suprimentos. Não é aparelho descartável. Isto
não é da nossa conta. Não adianta cobrar.
3.3 Filmadora
profissional é assim: requer suprimentos, mas resolve; é máquina
para quem quer e pode tê-la. Você não ter dinheiro para
os consumíveis não é defeito da filmadora. É
“defeito” seu, ou da logística do projeto.
3.4 Quanto
à filmadora amadora da T.UA., o drama não foi menos desagradável.
Você
solicitou que a trouxessemos para concertar em São Paulo. Era um
problema simples, disse você, muito barato, apenas um parafuso que
se perdeu. Ficou de nos enviar um pedido formal, oficial. Afinal era patrimônio
da Universidade sob sua responsabilidade. Precisávamos de documento
formal para mandar concertá-la.
Pedida a
requisição formal repetidamente, você negou-se a formalizar
a requisição. Mais uma desfeita, pensamos. Passamos por cima
e mandamos a máquina para o concerto. Não foi fácil.
O defeito era peça quebrada por mau uso. A peça precisou vir
de fora. Pagamos o concerto e despachamos com seguro. Despesas diretas mais
de R$500,00, fora as indiretas... Você recebeu tudo e nada agradeceu.
Mas isto não é novidade, vindo de quem vem. Você apenas
reclamou que demorou. Mas se olhasse no espelho, saberia muito bem quem
provocou a demora. Você foi o responsável e reclamou dos outros.
Isto não fica bem.
Denegrir
a imagem de uma pessoa, atribuindo-lhes às próprias incúrias
não é “legal”.
(Leitor, aguarde para amanhã o desfecho desta mensagem).
Magriço
São Paulo.25.agosto.2008
12.
PARTICIPAR É COMPARTILHAR
-DESFECHO DE UM MAL-ESTAR-
Caro Fabre,
1.
Apesar de suas angústias e mal-criações, cujas razões
não podemos daqui aquilatar, em todo o percurso do cruzeiro Histórico,
pelo Brasil, você sempre contou conosco e com nossas Instituições.
Observamos
mas não julgamos. As razões de toda essa descompostura um
dia talvez se revelarão; se é que isto tem importância;
talvez não. É olhar para frente de cabeça erguida.
Interessa-nos
que a sua missão chegue a bom resultado. Afinal, é o Vieira
que está em evidência. Pelo menos assim pensamos.
2.
É sabido que nós temos projeto idêntico para despertar
o Brasil, Portugal e o Mundo, para as grandes e perenes lições
deste homem benemérito.
Fazê-lo
conhecido é muito importante. Talvez a partir, daí, cada um
faça a sua lição de casa. A mensagem de Vieira ao mundo
precisa ser divulgada para ser conhecida.
Não
há concorrência entre os agentes deste ambicioso programa.
Se cada um fizer o que puder ainda é muito pouco. Então mãos
à obra. Isto tem de dar certo. Vai dar certo. É pouco? Mas
é algo.
Apoiamos
sem restrições, intelectualmente (e até mais) o projeto
do Cruzeiro Histórico pela novidade que levava ao mundo: o fato de
ser veiculado num veleiro e gerenciado por um profissional
de nome e grande gabarito intelectual, tem forte apelo para chamar sobre
si as atenções de muitos e do mundo.
Comprometemo-nos
a colaborar nos termos do Convênio Científico-Cultural.
3. Além dos equipamentos emprestados, relacionados anteriormente, acrescentar ainda:
a)
O livro excelente do P. João Daniel, em 2 volumes, (Tesouro
Descoberto no Máximo Amazonas), necessários à
compreensão da fase Missionária de Vieira.
b) O Prof.
Jonas emprestou uma pasta de Cartas Náuticas e outros recursos, como
cópia das Viagens do Projeto “Mar sem Fim”
pela costa brasileira; um CD de cartografia do Brasil; o livro de Antonil
(Cultura e Opulência do Brasil). Foi impresso e encadernado na Faculdade,
especialmente para esta missão.
c) Conseguimos
três volumes (Ed. Lello, 1951), dos Sermões de Vieira
que faltavam na coleção do prof. Fabre. Não
foi fácil, encontrar tais volumes avulsos no Brasil. Conseguimo-los
e os enviamos pelo correio ao professor. Será que ele agradeceu?!
d) Mantivemos
comunicações permanentes às vezes diversas vezes ao
dia, via Internet, para ajudar a resolver ou encaminhar problemas. O prof.
Jonas se encarregou dessas comunicações e triangulações
com Analux e Dr. Barroso. Dedicou horas incontáveis a estas comunicações,
que retirou do horário da Faculdade e da própria vida.
4.
Muito mais se fez que não é contabilizável. Mas acho
que valeu a pena, se enfim, o Vieira sair efetivamente festejado e mais
conhecido.
Finalmente
devo reiterar o que disse atrás: nunca pensei que usaria com um amigo
expressões tão contundentes, como as que usei aqui. Achei
que seria preciso levar os problemas com mais serenidade e mais eficiência,
sem enchovalhos. As pessoas precisam ser respeitadas.
Talvez eu
tenha assumido as dores de outros. Tanto faz. Acredito que valeu a pena,
pois sempre vale a pena quando a alma não é pequena.
Peço
desculpas por eventuais mágoas, se as provoquei.
Magriço
São Paulo.01.setembro.2008
13.
Quase o Triunfo
Depois
dos registros anteriores, Fabre já passou pela Serra de Ibiapaba
e por São Luis do Maranhão. Agora está em Belém
do Pará.
1.
Ao reler as crônicas precedentes e preparar-me para
registrar do último dia da Missão,
no Brasil, achei por bem pôr-lhe uma chave de ouro, com um poema de
Mário de Sá Carneiro: “Quase”. É um poema
profético, dolorido, de quem na dificuldade de um imenso labirinto,
busca a porta da saída. Não é um poema de um frustrado
nihilista. É um poema de esperança de quem
enfrenta de cabeça erguida, obstáculos terríveis. É
um brado de alguém que quer continuar; que não se entrega,
apesar das encruzilhadas emaranhadas.
Esse alguém,
que do poema brada, precisa de pouco, mas um pouco que é tudo: precisa
de “mais um pouco de sol”, “um
pouco mais de azul”, apenas “um golpe de asa”
para chegar além. Até
os umbrais do além, o seu Eldorado sonhado, ele
conseguiu voar.
Agora faltava-lhe um pequeno empurrão para ultrapassar os umbrais
e chegar ao final desejado: “à glória”.
2.
Estamos no dia 29 de outubro de 2007. O Prof. Fabre está em Belém
do Pará. Está de partida, iniciando o incerto caminho de volta.
Nos céus de seu espírito troveja e venta, anunciando novas
tempestades. O incerto o desafia. Falta-lhe apenas “um golpe
de asa”.
Nestas horas
incertas, faz bem ler o poema “QUASE”, para rememorar o quanto
já andamos e o pouco que falta para chegar. É hora de resistir
e persistir; tentar a última cartada...
QUASE
Mário de Sá-Carneiro
Um pouco mais de sol — eu era brasa.
Um pouco mais de azul — eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador d'espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho — ó dor! — quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim — quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
— Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... —
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
...........................................
...........................................
Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
P.S.
Este poema poderia ter sido escrito pelo prof. Fabre. Retrata bem o espírito
com que está saindo de Belém do Pará, encerrando o
essencial do projeto Vieira no Brasil e iniciando a viagem de volta ao porto
de partida. Peito às vagas e aos ventos, o capitão parte...
Entre Belém
e Aveiro, haverá muito mar e muitas tempestades a enfrentar. Vamos
conferir. Esta viagem é brilhante porque trouxe muito sofrimento
que exigiu coragem e decisão, com alto grau de resistência.
Conseguiu cumprir sua missão.
Magriço
São Paulo.05.setembro.2008
14.
Navegar é Preciso
Navegar
é preciso... A viagem terminou... A viagem continua. O peregrino
que se preza, nunca se detém. Seu destino é navegar para chegar
a algum lugar e sua missão cumprir. Após breves paradas, segue
seu rumo. No porto, parado, não é seu lugar. Viver é
navegar, por terra ou por mar.
1.
Enfim, o Cruzeiro Histórico voltou ao porto de partida,
depois de quase um ano de viagem por muitas terras e por mares calmos e
mares revoltos. Foi e voltou. Sua missão cumpriu.
Foi um percurso
épico, de abalos e calmarias. Foram meses de grande produtividade
e de aprendizado. Do nosso ponto de observação, aqui em São
Paulo, Brasil, de longe a maior cidade da Língua Portuguesa; daqui
da Edubrax, uma das Instituições universitárias
modelo do Brasil, seguimos , dia a dia, a viagem do Cruzeiro Histórico.
Muitos o seguiram pelo mundo afora, através da internet.
Nós
tivemos acento especial e privilegiado neste nosso posto de observação,
que é nossos espaço de trabalho diuturno, e acompanhamos o
grande percurso, em todas as suas peripécias. Foram muitas centenas
de mensagens eletrônicas (e-mails) trocadas entre nós, por
obra do prof. Jonas, e o caríssimo professor Fabre Nos alegramos
e exultamos algumas vezes e nos angustiamos outras. Parecia que participávamos
de uma infindável partida de Futebol, onde estava difícil
definir o vencedor; batíamos palmas ou ruíamos as unhas, psiquicamente.
Um jogo com muitos intervalos e prorrogações, mas sempre a
mesma partida. Foi um jogo hilariante de muita torcida. A vitória
foi o resultado.
2. Certamente
um Cruzeiro marítimo, seguindo os passos de Vieira, não poderia
ter sido diferente. Se tinha como tema o P. Antônio Vieira, tinha
que ser ousado e ter obstáculos para vencer. Este grande idealista
e grande lutador, que nunca hesitou enfrentar riscos para alcançar
seus objetivos, no percurso de sua Missão e de seus compromissos.
No percurso
do CHICO não podia faltar um Adamastor ameaçador,
personificando a carência de recursos, e de equipamento de filmagem,
fotografia, e até de velas, que alguém supriu.
Honra-nos
ter estado presente em todo o percurso, através de um convênio
de cooperação e parceria. Alegra-nos que as nossas velas
garantiram a segurança e o êxito da viagem de volta. Nossas
velas, também emprestadas, conduziram o veleiro, o capitão
e a tripulação de Recife a Aveiro. Fizeram a viagem de retorno.
3. Vieira
também foi um incansável peregrino e padeceu terríveis
percalços por mares e terras.
O pior naufrágio
de Vieira aconteceu nos Açores, seguido de completa pilhagem de tudo:
navio, carga, bagagens e até roupas de tripulação e
dos passageiros. Os piratas holandeses se locupletaram. Vieira e seus companheiros
de viagem foram jogados na Ilha Graciosa, como Jonas, em Níneve,
relata a Bíblia.
No memorável
Sermão que fez nos Açores, Vieira mostrou que as pessoas não
devem temer risco quando têm objetivos nobres: “Senhor, (disse
Vieira) não vos dou graças por me livrardes do perigo, senão
porque me meteste nele”. Esta é a alma deste Vieira incansável,
audacioso, destemido, generoso e até implacável, quando necessário.
Esta é a alma dos vieirenses.
Acredito
que assim está pensando o herói desta façanha, o Prof.
Fabre, peregrino moderno, sem bordão, sem botas e sem cabaça
de água às costas. Aí vai ele, dentro de um frágil
veleiro, enfrentando tormentos dentro e fora de sua “nau”. Mas
não falta nunca um bom vinho para alegrar uma boa conversa séria
ou descontraída.
4.
É desta viagem que nos fala as Crônicas a Bordo. É
uma aventura que agrada e chama
nossa atenção.
Nesta obra,
Fabre compartilha com seus leitores algumas idéias,
reflexões, descobertas e episódios que vão acontecendo,
ao longo dos muitos portos onde parou, como em pleno mar e em terra firme.
Magriço