GESTÃO: INSTITUTO TROPICAL

CRÔNICAS A BORDO
DO ALBATROZ
Na Rota de Vieira
Em terra e mar

4ª PARTE

AS RAZÕES DA RAZÃO
VENTURAS E DESVENTURAS
DE UMA EXCURSÃO

Apresentação

    1. Apresentamos a seguir outra série de crônicas temáticas, do Cruzeiro Histórico do Albatroz.
    O Prof. Raposo nosso confrade e companheiro de elocubrações, mantém-se silencioso, em observação. Anda muito ocupado com responsabilidades das aulas que assumiu na Faculdade quando voltamos de viagem. Fala muito mas escreve pouco. Discute bem e tem grande criatividade. É o mentor principal da nossa criatividade. Mas escrever? O tempo disponível não permite.
    O Prof. Raposo, no entanto, está presente em tudo: em cada crônica, em cada decisão. Ele ajuda fazendo a crítica dos textos. Discute-os comigo que sou o responsável pela redação.
    O Perneta, o capeta, também não aparece. Mas não se preocupe. Ele está presente mas oculto. Sua atuação é patente. Prefere trabalhar oculto e no escuro

    2. O fato é que o Veleiro CHICO, do prof. Fabre, por causa dos problemas enfrentados, exigiu mais atenção e por isso roubou a cena. Mas isto não faz mal. O que interessa é que a história ficou mais interessante, deixando-nos sempre com o coração na mão. Fez-nos mais solidários e cautelosos... Não sabemos o que sucederá amanhã. Sabemos que a história das crônicas é uma ficção. Mas às vezes nós nos perguntamos se a história não pode ser verdadeira. Que responderemos? Que sim. Que pode.

    3. A história das crônicas é verdadeira, ao menos na dimensão alegórica. É uma alegoria da vida real, no cotidiano dos viventes geniais, onde não faltam obstáculos, mesmo aqueles que pensamos só acontecerem com os simples mortais.

    4. Na 4ª Parte destas crônicas de ficção histórica, para o Diário de Viagem pelos caminhos de Vieira, reunimos textos ocasionais de reflexão, no ambiente de disputa e enfrentamento, em função das dúvidas e dificuldades supervenientes.

Para você que nos acompanha desejamos-lhe uma boa leitura. Faz bem ao físico e à mente, até porque “navegar é preciso” e viver, não menos.

São Paulo, 28 de setembro de 2008
Magriço

São Paulo.28.julho.2008

1.
O Cronista e o Estatuário


    1. Neste intervalo, enquanto espero chegar o material para os próximos textos, que o prof. Raposo nos entregará amanhã, resolvemos refletir um pouco sobre o nosso processo de criação destas crônicas: Sobre o trabalho do cronista.
    É uma questão que merece reflexão.
   Vejamos:
    2. A partir da observação de algum acontecimento que pode chamara a tenção dos leitores, esboçamos rapidamente algumas anotações esparsas e toscas. São anotações, um pouco desordenadas, escritas por mim ou pelo Prof. Raposo e arquivadas em pastas próprias.
    Disse que são idéias alinhavadas e toscas. Isto me fez lembrar o episódio do Estatuário, descrito por Vieira, no Sermão do Espírito Santo.
    Neste episódio Vieira descreve, para os novos missionários que iriam para Amazônia, qual é a missão desses jovens que vão à selva missionar, sem saber quem vão encontrar e como irão trabalhar para se comunicarem, com os índios ainda selvagens, habitando as florestas.
    Vieira lhes diz que irão encontrar gente rude, bruta, tosca. Mas lhes garante que dessa gente bruta e rude eles podem fazem homens conscientes e filhos de Abraão.
    3. Para que entendam melhor, dá-lhes o exemplo do escultor que vai pela mata e dela arranca um tronco de árvore bruto e tosco. Corta de um lado, corta de outro lado, cinzela, depois alisa com lixa grossa e fina até fazer uma estátua de um homem heróico ou de um santo que pode ser levada ao altar.
    Diz Vieira que o missionário faz nos índios rudes o trabalho do escultor... De gente rude e bruta poderá fazer homens conscientes e cidadãos responsáveis e solidários capazes de respeitas uns aos outros; poderá desses índios fazer bons cristãos e até santos que podem ir ao altar.
    4. Pois bem, a crônica, para se escrever e se lhe dar forma exige que o cronista tenha a
habilidade do escultor. De textos inicialmente toscos e rudes, com paciência e habilidade de escultor, o cronista vai cortando aqui e ali, vai ampliando, cinzelando e polindo até ficar um texto artístico que tenha vida, graça e movimento: Que faça brilhar os olhos do leitor.
    Dessas anotações rudes e disformes, o cronista poderá fazer um texto que cative o leitor. Um texto que tenha, em seu bojo, idéias-força que façam pensar; e que tenha imagens que façam sentir a vida que do texto se irradia; uma mensagem vá direto ao coração, à mente e à inteligência das pessoas.
    Poderá produzir um texto que convida à reflexão e à fruição, sem desse assunto falar. Enfim, um texto que fale com a gente; que nos entenda e que a gente o entenda. O texto talvez venha a ser um amigo e um confidente. Ou pode vir a ser um bordão ou cajado em que nos apoiamos na nossa jornada diária, em nossa peregrinação.

Magriço

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São Paulo.29.julho.2008


2.
Fabre, o Novo Argonauta

    “Per aspera ad Astra”
    Quem segue os passos de Vieira, pelos mares e terras onde ele pisou, pregou, atuou, viveu e conviveu, está disposto a enfrentar os revezes com que se defrontou. Assim o mérito é maior.
    Ao refletir sobre o enredo a dar a este comentário, refletindo sobre o CHICO e a “missão Vieira”, vieram-me à mente três imagens paradigmáticas: os Argonautas, a busca do Santo Graal e o Gigante Adamastor.

    1. O Cruzeiro Histórico foi uma aventura cheia de imprevistos e de surpresas, qual nova viagem dos Argonautas, buscando o tesouro cobiçado. O Argonauta moderno, capitão do CHICO e que nos honramos de ter acompanhado de longe e de perto e efetivamente apoiado, foi atrás de outro velocino de ouro, certamente bem mais precioso do que o dos argonautas da antiga Grécia.
    O tesouro que o novo argonauta foi buscar, não foram as pegadas de Vieira, mas tesouros de outra dimensão:
    - foi sentir e captar a energia, o carisma e até as utopias que Vieira deixou por onde andou, em sua longa peregrinação, cumprindo uma missão histórica, qual seja:
    - dar a sua contribuição para a implantação de um reino de justiça e paz, num mundo, onde todos os povos e etnias se respeitassem mutuamente, compartilhassem seus dons e sempre prosperassem;
    - um mundo sem injustiças e sem injustas discriminações, onde todos fossem responsáveis e comprometidos com os resultados;
    - um mundo sem opressores, sem oprimidos e sem parasitas aproveitadores;
    - onde todos cooperassem sem se acomodar, cada um fazendo a sua parte, para o bem-comum e para o bem-estar de todos.
    Mas Vieira bem sabia que isso é algo que se conquista a cada dia.

    Esta parece ser a mensagem básica da obra inacabada, Clavis Prophetarum, que tanto queria ter terminado de redigir e tantos aguardavam ansiosos...

    2. A busca do Santo Graal é uma outra imagem paradigmática que me vem à mente, não menos adequada do que a dos argonautas. As peripécias, os altos e baixos, os obstáculos, os perigos e as muitas dificuldades que passou o Cruzeiro Histórico têm certa similaridade com a missão dos cavaleiros da Tavola Redonda.
    O novo cavaleiro, montando a garupa das ondas marítimas e de alguns desentendimentos, foi procurar com todos os riscos, o novo Santo Graal: o novo cálice sagrado, a energia e benquerença que Vieira quis dar ao mundo.

    3. “Per áspera ad Astra”, diz a sabedoria latina.
    Neste Diário de Viagem, lendo o verso e o reverso, o texto e o contexto de todas as crônicas, o leitor terá muito a buscar, a fruir e a aprender.
    Afinal, cada um a seu modo, todos buscamos algum velocino de ouro, no reino das imagens mágicas que enchem nossos dias, principalmente quando nosso destino é encontrar o mundo em que se desenvolveu e operou o gênio irrequieto, ousado e sonhador do grande P. Vieira, o Pai-Grande ou Abaré-assu como lhe chamavam os índios, que ele tanto estimou e que tanto o admiravam e respeitavam.
    Uma viagem como esta, com tais propósitos, tem grande apelo. Chama a atenção.
    O CHICO levou Vieira às conversas de jovens e de adultos, criou impacto cultural.

    4. Esta viagem, com Vieira, tem sabor de mistério e de aventura, de poesia e de epopéia.
    Para nós Vieira é uma história épica emocionante e instigante. Esta história épica somente consegue observá-la quem encontra um ponto adequado de observação.
    O Diário de Viagem lê o mundo e sobre ele reflete, posicionado no balanço das ondas do mar, a bordo do veleiro CHICO, enquanto peregrina, seguindo alguns caminhos do grande Vieira.


Magriço

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São Paulo.30.julho.2008


3.
Diário de Viagem
Um Poema em Prosa

    O Cruzeiro Histórico é uma grande aventura. O Diário de Viagem é um poema épico em prosa, do qual o prof. Fabre é o herói e o enredo e o autor. Impulsionando o Cruzeiro Histórico estão os seus grandes e pequenos apoiadores. Mas Fabre foi o veleiro, a vela, o vento e o mar, às vezes revolto e tempestuoso outras vezes calmo e generoso, mas sempre aventuroso. Ele é o Argonauta moderno, em busca de um grande tema: Vieira.
    Fabre é o poeta criando dentro e fora de si o seu poema que foi sendo vivido e escrito, estrofe por estrofe, verso por verso, no seu Diário de Viagem, que aqui apresentamos para compartilhar suas aventuras, suas apreensões e sua visão do mundo com seus leitores.

    1. No reverso de tudo o que aqui escreveu, está a busca de um Vieira, ainda hoje
encoberto para muitos, mas muito vivo e ativo. Fabre, com o CHICO, ajudou a trazer Vieira de novo, para nossa companhia, para inspirar o mundo.
    Com todos os que colaboraram efetivamente para esta grande realização, a missão do Cruzeiro chegou a bom termo. Agora começam a aparecer alguns resultados. Mas no percurso do roteiro, os resultados falaram por si, nos meios de comunicação.
    O Cruzeiro Histórico como todos os grandes empreendimentos, tem muitos colaboradores.     Pelo menos sete instituições/pessoas se destacaram na linha de frente desta aventura cultural e cívica, impulsionando desde a primeira hora:
    O Prof. Fabre, criador e executor do projeto, a T.UA. e o Prof. Meira, a GRACO, a Analux, em Portugal e nós, da EDUBRAX, no Brasil. A estes apoiadores se juntaram muitos, muitos outros, no percurso da viagem. Foi uma obra coletiva abençoada.

     2. Hoje Vieira é uma estrela, de primeira grandeza, percorrendo nossos céus, nos observando e nos inspirando. De dia é um sol brilhante, que ilumina e aquece, de noite é a Estrela Polar que nos indica o norte e todos os demais pontos cardeais.
    Lá de cima ele nos segue e nos olha com olhar alegre de seu natural entusiasmo, e às vezes com jeito matreiro, de advertência pelos nossos passos desajeitados e com certa arrogância descabida. Aprova e se regozija por nossos sucessos, por nossas realizações e por nossas utopias.
    Vieira foi também o farol de cada porto, postado no mar ou em terra para sinalizar pontos orientadores pelos mares da vida.
    Enfim esta viagem aos mundos de Vieira e aos mundos do coração humano, descritas no Diário de Viagem nos prova a força da afirmação de Hermes Trismegisto que cunhou o seguinte axioma: Deus é como uma esfera, onde o centro está em todo lugar.
    A Universidade de São Paulo reinventou a frase e a fixou na base de seu obelisco bem no centro de sua Cidade Universitária:
    A ciência é como uma esfera, onde o centro está em todo o lugar.
    Onde quer que o CHICO estivesse, era o centro de atenções de muita gente.

    3. Vieira foi uma estrela viva e luminosa que seguiu o Cruzeiro Histórico e que o inspirou. Se alguns dias foram “tempestuosos”, é porque algum deus do Olimpo, talvez Baco, encobriu o veleiro, com seu manto de nuvens, para Vieira não poder ver o que acontecia; ou então ele quis castigar uma certa arrogância dos humanos para que todos saibam que as coisas boas, somente se conquistam arriscando e sofrendo; e até para preservar a autenticidade do enredo épico.
    Este é o preço da vitória, o preço de uma bela história cativante que inspirou Diário de Viagem.
    Neste contexto de estrelas e faróis, de aventuras e vitórias, vale a pena escutar Fernando Pessoa, pela voz de Ricardo Reis:


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és,
no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha,
porque alta vive.

    Vieira será sempre, para todos os que seguem sua estrela, um farol luminoso, guiando os passos de quem sabe e quer ver.
    O Cruzeiro Histórico fez uma viagem memorável. O mundo inteiro sabe que, durante muitos meses, um pequeno veleiro seguiu os caminhos de Vieira para chamar a atenção do Brasil, de Portugal e do resto do mundo. E conseguiu.
    O Diário de Viagem do CHICO dá testemunho desta viagem, abordando também o assunto que foi seu mote: P. Antônio Vieira, como cidadão do mundo, audacioso, sábio e generoso, que sempre lutou por um mundo melhor e percorreu mundos para cumprir a sua missão, sem regatear dificuldades.


Magriço

 

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São Paulo.04.agosto.2008

4.
RECORDAR É REVIVER
SOLIDÁRIOS NA APREENSÃO

    A nossa crônica de hoje é extraída com uma mensagem, por correio eletrônico, que eu enviei ao Prof. Fabre, durante sua estadia na Marina de Recife, em momento de extremo pessimismo e frustração pela carência em que estava metido. Ao texto nada tenho a acrescentar.     Dispensa comentários:

    Caro Fabre

    1. Escrevo-lhe como companheiro de viagem dos alvores de nossa juventude final da
adolescência, quando participávamos de aula da mesma sala e com os mesmos professores, estudávamos no mesmo salão, brincávamos e jogávamos os mesmos jogos, passeávamos nas mesmas salinas e observávamos o mesmo pôr-do-sol nas águas da Ria de Aveiro.
    Mais que isso, sonhávamos os mesmos sonhos de um futuro de grandes ideais. Éramos uma garbosa turma de 26 rapazes, ainda quase adolescentes, de olhares brilhantes de esperança, postos ao longe, no horizonte ainda desconhecido.
    Nossa vida não para. Segue sempre para a frente num paradoxal presente contínuo que
não se acaba. Mesmo que queiramos rasgá-lo. Em nossas vidas vamos construindo um grande álbum, sempre animado, sempre movente, sempre impressionante, sempre brilhante, às vezes nevoento. Nela há sóis, estradas, pontes e aves esvoaçantes. Há parentes, há amigos especiais e até alguma “zebra” eventual, a pouca distância.

    2. A maioria dos colegas ainda tem um espaço privilegiado em meu painel de lembranças mentais. Fazem parte de uma paisagem movente, animada, onde nos movemos alegremente, com certa saudade dos tempos permanentes, com saudade de um futuro melhor. Cada um por seu lado, ainda que distante, em diversos continentes, somos companheiros de viagem... Você lá está sorridente e contido em seus pensamentos, com seu olhar no indefinido...
    Na nossa fronte há o peso de muitas conquistas, muitos momentos felizes e muitos dissabores. Dissabores algum dia passaram por nós, mas o que conta é o bem que fica e nos dá auto-confiança.

    3. Depois de quarenta anos, voltamos a nos encontrar com alegria e imensa satisfação. A
Internet foi veículo em que você me localizou. Já choveu muito em nossos telhados e em nossas plantações. Já passaram muitas primaveras e alguns invernos (ou o inverso). Já passaram muitas águas debaixo de nossa ponte. Muitas sementes viraram árvores e bosques frondosos. Muitos sóis nos iluminaram, em diversos tempos e lugares, em diversas latitudes. Muitas alegrias passaram debaixo da nossa ponte.
    Muitas idéias e ideais passaram por nossa mente. Mas somos os mesmos eternos sonhadores, com as eternas utopias; algumas já realizadas ou descartadas e outras ainda fazendo parte de nossos atrevimentos incontidos.
    Muitas árvores que plantamos viraram árvores frondosas que dão sombra e servem de lar à passarada inquieta.


    4. Hoje te vejo de longe, na marina de Recife , sozinho, sonhando, com uma garça branca, parada, a te olhar da proa de um barco, dia após dia. E você, no outro barco, pensativo meio desiludido, enquanto o barco balança às ondas do mar; balança, balança sem parar. Seu balanço vital, alheio ao que se passa.
    Parece que você olha a garça transmutada em pássaro preto, talvez em corvo agourento. Mas... Não. Há aí algum engano.
    Se fosse um corvo talvez fosse aquela ave mística dos alquimistas que trazem boas novas e é companheira alvissareira, como foram os dois corvos fiéis, que acompanharam o navio que transladou São Vicente, do cabo de Sagres para Lisboa. Segundo a lenda, os dois corvos ainda lá vivem e esvoaçam vigilantes, pela capital das sete colina, para que a luz e a paz brilhem, sempre, para toda aquela gente da capital dos impávidos navegadores, e para que os tormentos dos mares bravios não afundem os nossos navios, nas costumeiras aventuras, marítimas ou terrestres, com que o destino nos marcou.
    Do outro lado do Atlântico ouço a tua esposa preocupada, talvez assustada, tendo que gerir a situação criada por teus descuidos ou pelo destino de ser outro “quase”

    5. Continuamos levando nossas vidas com a mesma garra, com a mesma persistência e com a mesma esperança.
    Ver um companheiro em tão precárias condições dói. Teus gritos e agressões são reações de fera ferida que não vê saída e se agarra ao pescoço de quem talvez a possa ajudar ou ir junto para o fundo do mar.
    Mas sobre tuas agressões irracionais, e sobre o sol que vês se escurecer acima de tua cabeça irei falar amanhã em outra mensagem mais contundente. Por agora vá segurando o sol para que não se perca no horizonte.

Magriço


    Nota: Os documentos que servem de base a estas crônicas e as de nº 7,8,9 e 10, embora redigidos em agosto de 2007, estão sendo divulgadas pela primeira vez nesta crônica, pelo fato de se revestirem da dimensão de ficção.

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São Paulo.07.agosto.2008


5.
TEMPESTADE CAINDO SOBRE O CRUZEIRO

    Obs.: Em quatro crônicas, que seguem são excertos adaptadas de uma mensagem que enviei ao Dr. Madeira. Achei que esta carta pode ajudar a entender melhor o drama vivido no embate Fabre X Barroso/Falcão. Eis a mensagem.

    1. Quanto à sua opinião sobre o confronto GRACO X FABRE, resolvi repensar... Concordo num ponto talvez não valha a pena dedicar tanta atenção a esse confronto onde as pessoas não estão aí para se ralar... O texto deu-me muito trabalho, num momento em que estou muito atarefado com outros trabalhos de mais amplo espectro.
    Tens razão no que disseste mas ainda assim insisto.Aliás pelo que disseste mais me convenceste a não desistir. Preciso registrar meu posicionamento. O que aconteceu reveste-se de suma gravidade.
    Esperamos que se evite o velho costume de a vítima ser condenada como culpada. A questão é saber quem é quem. Além disso, tudo pode ser interpretado de pontos de vista diferentes, gerando grandes contradições e inquietações.
    Achei que o assunto merecia o esforço que fiz para escrever, embora sacrificando outras tarefas. Você não acha que merece? Tanto a GRACO como o Fabre merecem que alguém se debruce sobre esta questão complexa que ameaça sair de controle. Há méritos dos dois lados que devem ser respeitados. Também há cólera irracional nas duas partes em contenda...

    2. Enfim, trata-se de uma questão de alta relevância Cultural com muitos méritos de lado a lado e que estão sendo jogados fora, no bolso da roupa suja que vai à lavanderia. Alguém precisa lembrar-se de verificar os bolsos antes de irem ao tanque.
    Todas as pessoas envolvidas merecem muito respeito. Fraquezas? Agora é questão de somenos. São questiúnculas. Quem ficou à deriva foi o Fabre... O maior perigo e o maior sofrimento foi dele e da tripulação. Praticamente foram abandonados à própria sorte.
    Não deve ser fácil ficar à deriva, tendo um barco por possível mortalha.

    3. Tentei colaborar, refletindo, com respeito a todos... Mas sem deixar de realçar o que eu penso de verdade... Ainda que possa doer. Ainda acho que o amigo é o que tenta dizer a verdade e não o que apenas elogia por ser mais fácil e mais cômodo.
    Como vê, eu não sou da geração em que as pessoas "não estão aí para se ralar” com problemas alheios. Aliás nós (nem eu nem você) não somos dessa geração acomodada e anestesiada, não é? Somos de uma geração de compromisso... Somos de uma geração onde a esperança era algo palpável... Uma geração de princípios não casuísticos (no entanto, em alguns casos, isto não passa de uma bela fantasia...)
    Já me perguntei muitas vezes por que “perder” tanto tempo com uma questão que, economicamente, me deu muito prejuízo e inquietação. Não obtive resposta. Só sei que é meu dever cooperar, se puder... Sem olhar pelo retrovisor... Olho para a frente. O retrovisor é de uso eventual.

    4. Repito: não escrevi por falta de ter o que fazer. Também não escrevi para ferir
ninguém, embora possa contrariar alguém. Não há como ser diferente. Os problemas estão dentro de quem os gera. Tal pai, tal filho.
    Quis ir fundo. O que não disse expressamente está nas entrelinhas. Sim, deixei muito nas entrelinhas. Será explicitado se necessário.
    Entrei numa “guerra”, eu sei. Quis fazer um texto que, claramente, possa levar o Sr. Barroso a uma marcha à ré em sua cólera e fúria suicida. A meu ver, ele escolheu a pior opção. Sente-se ferido e reage com violência..., atirando para todos os lados. Foi ele quem detonou a “guerra”, deixando a GRACO em situação muito frágil. (A conferir).
    Eu quis colaborar para que parem e reflitam. Até porque a minha experiência empresarial e humana é bem longa e bem sucedida. Logicamente conta alguns dissabores. Fazem parte.
    Querer colher rosas sem espinhos é não querer nada e enganar-se: é romantismo utópico impossível. Não há negócio sem risco...
    Defrontei-me muitas vezes com pilantras e é preciso saber posicionar-se, com cautela, pois manejam armas escusas que nós não temos. Acho que devo falar, do meu ponto de observação...     Escute quem quiser e se quiser.

Magriço

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São Paulo.09.agosto.2008

6.
O MÉRITO DE CADA UM

    1. Dizem os romanos:
    Violenta non durant”. [As tempestades violentas não duram muito]
As grandes tempestades logo se esvaem, mas não antes de fazerem grandes estragos (Que alguém vai sofrer). Depois desaparecem... Mas o prejuízo fica.
    Confidencio-lhe algo:
    Antes de falar com o Dr. Barroso, estava mais do lado dele, na contenda, do que do Fabre.
    É que Fabre me tirou do sério muitas vezes, por suas grosserias... e seu desespero que beirou o irracional. O Perneta trabalha dos dois lados; silenciosamente...
    Depois de ouvir o Dr. Barroso entendi melhor a revolta do Fabre. Por isso é que é bom ouvir os dois lados.
    Falta serenidade ao Dr. Barroso. Isto é péssimo... Mas sem dúvida também falta serenidade ao Fabre, com a diferença que ele é o atacado... É devedor? Mas foi ele o abandonado “às feras”, jogado para morrer, o que não aconteceu por um triz. Alguém foi lá e “desencalhou” o barco e as vidas...Caso contrário, a história teria outro final bem sabido...

    2. Principalmente eu quis deixar claro que a GRACO teve uma visão extraordinária ao apoiar o projeto "Vieira". Isto deve ser tomado como uma grande iniciativa, digna de tão alta instituição.     Deve ser tomada com honra, em termos sociais.
    É de alto valor simbólico que a GRACO patrocine um evento destas dimensões, em Coimbra, onde Vieira quase foi levado à fogueira.( Mas foi queimado em esfinge!, isto é: fizeram uma estatueta que diziam representar Vieira e a queimaram publicamente em “auto-de-fé” simulado)

    3. É tão válida a iniciativa que a Universidade Católica de Lisboa está, agora, divulgando um projeto idêntico nos objetivos, em Lisboa e outro no Brasil. Bem hajam. Merecem palmas.
    Esquecendo os traumas, o projeto “Cruzeiro Histórico” que a GRACO financiou, por empréstimos, valeu a pena e deve ser computado como benefício à cultura da humanidade. É auspicioso, repito, numa cidade de tão alto porte histórico, e onde, por contraste, Vieira tanto sofreu (foi aí sua via crucis e quase o seu Gólgota), a GRACO "financiar" tão bela iniciativa. E olhe que “não se põe a lâmpada debaixo do alqueire, mas em cima, para alumiar a todos". A GRACO deve se honrar da iniciativa que patrocinou. Isto deveria ser divulgado para que outros lhe seguissem o exemplo.
    Nada de pessimismos e angústias: É preciso colher os frutos que a árvore plantada produziu e não jogá-los fora... O bom semeador não age assim. Façam-se as contas, não só no financeiro, mas também no sócio-cultural.
    A meu ver, talvez a viagem do Cruzeiro Histórico, apesar dos pesares, tenha sido a melhor comemoração do 4º Centenário de Vieira. A melhor pelo pioneirismo, e por ter, praticamente, dado início às Comemorações do 4º Centenário; e por ter conseguido algum espaço na imprensa pelo qual chamou a atenção da sociedade para Vieira. Depende agora dos registros para a história.

    4. A guerra, a fúria e a cólera do Dr. Barroso é uma afronta (a meu ver) contra a GRACO, que tal não merece, nem ele merece o que fez... ( Com isto não quero julgar; apenas opino). Nunca se olham os fatos com um só olhar (vesgo?...)
    Quem deu o primeiro tiro nesta batalha foi o Barroso, ao chamar o Fabre de “pé rapado”. Isto, decididamente, ele não é. O Sr. Barroso tem dois doutorados como o Fabre, em grande Universidade da França e do Canadá? A cólera do Sr. Barroso está mal contada? O que gerou nele tão inusitada reação?! Se não tem, não pode espezinhar, e se tem, certamente não espezinha.     Não seria sensato.


Magriço

São Paulo.13.agosto.2008


7.
BUSCAR O PONTO DE EQUILÍBRIO

    1. Diante de tantas agressões de lado a lado, achei que deveria colaborar para pôr os pingos nos iii. Esta história tem um enredo complexo e até dúbio em alguns pontos. Mas aconteceu.
    Quem fez o caminho das pedras foi o Fabre. Ele se arriscou e partiu e voltou. Ponto.
Agora é questão de "leitura": cada um interpreta como quer o que quer que seja. Há muitas "leituras" enviesadas. Mas há também a leitura justa.
    Quis colaborar para, se for possível, defender o Sr. Barroso, o Fabre e GRACO de um grande atoleiro. (Digo isto com pesar...). Quis sugerir.
    O caminho é todos baixarem as armas, inclusive o Fabre, é lógico, e entrarem em diálogo e negociações leais, em vista de encontrar as soluções possíveis, com lealdade e justiça, através de mediador que saiba ouvir e julgar com imparcialidade (?!).
    (Se acham que o Fabre é a ovelha perdida, que vão ao seu encontro. Mas se a ovelha perdida for também o Barroso, que vão também em seu socorro... Não há alternativas...Está lá no Evangelho...)


    2. Não advogo o calote do Fabre, mas a busca da justiça possível, levando em conta todas as variáveis envolvidas. Também os méritos. O que sair deste modelo tornará qualquer ação impossível. A arrogância furiosa do Barroso e do Fabre são dois lados da mesma moeda que levam ao pântano, onde os sapos coacham...
    A “sede de sangue” do Sr. Barroso não se coaduna com o cargo e a empresa onde trabalha. A falta de serenidade também mata.
    Já esqueceram o final da fábula dos dois carneiros, atravessando o rio, em direção oposta e que se encontraram, frente a frente, no meio da ponte?! Não. Ninguém esquece. A teimosia afogou os dois. Mas os carneiros são irracionais!
    Achei que, de longe, poderia colaborar, mais uma vez, sem pedir nada em troca. Afinal recebo o salário de aposentado. Posso fazer trabalho social.


Magriço


São Paulo.14.agosto.2008


8.
LOUROS COMPARTILHADOS

    1. A questão do “Cruzeiro Histórico” do Dr. Fabre é muito complexa. Acho que não deve ser tratada superficialmente. Ainda assim, simplifiquei o que pude, para me reduzir ao essencial, em termos paradigmáticos.
    Não sou dos que enfiam a cabeça na terra. Não sou avestruz. Se é preciso vou à luta. Não gosto de situações indefinidas. A minha parte eu faço; e vou até o fim, serenamente.
    Procuro sempre encontrar um ponto positivo, até nos fatos com predominância negativa, mas de olhos bem abertos. Há sempre uma luz... Também há sempre uma ponte estreita e escorregadia por onde teremos que transitar...

    2. Considerei que deveria me manifestar pelo fato de me ter sido “imposto” o papel de observador e até de "bombeiro", em momentos de grande emergência do “Cruzeiro”, entre a GRACO, a Analux e o Fabre, por intermédio do Prof. Jonas. Umas vezes levamos soluções, outras vezes fazemos papel de moderador.
    Aos trancos e barrancos o Fabre conseguiu voltar. E não voltou sozinho. Sozinho, sem ajuda desinteressada, ele não teria conseguido voltar. Nunca... Os louros, se existirem, são dele, compartilhados com quem o ajudou a voltar. (É sabido que o Fabre não sabe compartilhar nada com ninguém, a não ser os prejuízos. É fera ferida...). Qualquer que seja seu posicionamento, os louros eventuais desta missão, pesa uma penhora moral e outra financeira. Qual a de maior relevância?!
    A “dívida” moral do Fabre são créditos em aberto para todos os que o ajudaram, no Caribe.  Espero que não esqueça ninguém, nem os açorianos “anônimos” que o ajudaram com muito carinho e generosidade, mostrando mais uma vez o caráter altruísta do povo açoriano. Há muitos Simão Cireneu no caminho do Fabre. Será que ele reconhece?! Se não reconhecer, pior para ele... É ele quem perde.
    Seria bom que mandasse a todos uma mensagem de agradecimento. É ver para crer!

    3. Acredito que nós da EDUBRAX, o Prof. Jonas e eu, talvez, sejamos as testemunhas mais avalizadas de toda essa história. E somos testemunhas neutras, sem ter nada a perder nem a ganhar. E, estamos muito bem documentados, desde os bastidores até à ribalta.
    É esse papel de moderador que, nos finalmentes, achei que nos cabia. Não poderia me omitir.     Não quis nem quero ser juiz de nada.
    (O Vieira tem um Sermão monumental sobre os crimes da OMISSÃO.
Conhece?)
    Essas são as razões do texto. Ainda não o enviei à GRACO. Ainda não sei se o farei.
    O mundo dá voltas...Talvez os dois lados em litigância venham a precisar do testemunho que dei naquele documento.
    Aguardo parecer do prof. Meira. Depois decido o que fazer.

Magriço

São Paulo.15.agosto.2008


9.
FALTA DE LOGÍSTICA
-TRAGÉDIA ANUNCIADA-

    Nas próximas crônicas aproveitamos passagens de uma longa mensagem que enviei a Fabre, quando estava desolado, em uma marina precária, em Recife. Leia comigo:

    Caro Prof. Fabre,

    1. Ontem à noite, sentei-me à mesa, às 23h45, depois de longo dia de trabalho. Você sabe que meu dia tem, regularmente, duas jornadas.
    A vida de professor é árdua mas compensa pelas satisfações, que nos traz, em decorrência dos conhecimentos que transmitimos a uma juventude sedenta de saber. Sentimo-nos úteis.     Sentimo-nos engenheiros responsáveis pela construção de um mundo talvez melhor...
    Eu estava muito aborrecido pelas suas grosserias e palavras toscas, selvagens. Mas não escrevi o que pretendia. Preferi deixar para outro dia. Escrevi esse texto que acabei de te enviar, meio involuntário, meio provocativo e meio... deixa pra lá. A este texto chamei “Recordar é Viver”.
    Enfim, já é outro dia. É sábado. Espero que agora saia o que preciso te dizer, embora não me agrade o assunto. Os teus e-mails são um festival misto de grosserias e desespero... É uma situação surrealista, com cheiro de manicômio... É total a falta de compostura e de limites. Você assemelha-se a bomba atômica de Hiroshima, na véspera da explosão, se ela pensasse...
    São questões irritantes que precisam ser esclarecidas, ou, ao menos, verbalizadas.
A caneta ainda está incerta do rumo a seguir. Quer se ocupar de assuntos mais interessantes. Mas vamos lá.

    2. Quero dizer que estou pasmado pelo sarilho/sinuca em que você entrou. Tenho ouvido seus alarmes. Não sei se são alarmes trágicos ou se há outras intenções em véspera de ressaca.     Hoje não sei se alguém ou você mesmo sabe o que está falando quando diz algo.
    O Jonas comenta tuas mensagens. Não as leio todas por falta de tempo. Não sei a quem de fato se dirigem, as tuas imprecações. Nem quero saber. Sei que a nós não é, nem pode ser.     Nunca assumimos qualquer compromisso para resolver tais problemas e sanar tuas grandes e graves deficiências que nunca consegui imaginar, num intelectual final de carreira. Afinal, quem te colocou nessa situação de penúria?!
    Diante de teus alarmes, sinto-me como um mineiro que trabalha no cais do Rio de Janeiro, na Guanabara, quando alguém lhe gritou Zé a tua casa de Niterói pegou fogo e a tua sogra vai morrer queimada se não a salvares. O Zé lançou-se às águas e nadou, nadou até chegar a Niterói, desesperado. Já na praia olhou para todos os lados. Espantado refletiu: Eu não me chamo José, não sou casado e não moro em Niterói... Que é que eu vim fazer aqui?!!

    3. Quem te colocou em tal dificuldade como “bóia fria” das praias ou das marinas do Brasil?     Como alguém pode pegar um barco, atravessar o Atlântico e vir para outro país, sem meios para sobreviver condignamente e sem equipamentos para cumprir a sua missão?! Que falta de gestão é essa?!
    Se você fosse um franciscano, um eremita ou um pobre Lázaro, muitos ajudariam. Até as Santas Casas (que estão à míngua). Mas você é um profissional com uma (presumível), alta missão. Não posso acreditar que você saiu de seu país, como pobre peregrino, sem espada nem bordão, sem cabaça de água e sem farnel.
    Parece que você foi pra “guerra” sem armas, sem tostão e sem gibão.

    4. Como alguém pode se lançar ao mar, para tão longa jornada, para passar doze meses pelas águas do oceano, de um lado e do outro do Atlântico e por rios e cidades estranhas, sem provisões para as pessoas agentes da empreitada, a tripulação, e sem dinheiro para os suprimentos, equipamentos e para o cachorro perneta que anima a tripulação, sem dinheiro para nada. Não foi feito um planejamento e uma previsão de financiamentos?
    Que falta de logística !! Que lástima!! Que enrascada!! Isto já parece ficção! É triste tal situação.
    A GRACO, que te financia, não fez contigo uma planilha de gastos e reserva para eventualidades?
    Você está parecendo Sá Carneiro em Paris, sem a mesada do pai, que em Moçambique estava falido. O desfecho é bem sabido. Perdemos um HOMEM que ainda tinha muito a fazer e produzir. Uma traumática tragédia...

    5. Os seus antepassados descobridores, os “gigantes” dos sete mares, heróis da humanidade, que você considera pigmeus desesperados (vide Diário de Bordo), preparavam suas viagens com o tempo suficiente para se equiparem e não serem surpreendidos nem serem levados a passar necessidades. Pelas ilhas deixavam cabras, porcos, galinhas e coelhos, que aí se reproduziam, para o alimento não lhes faltar nas próximas viagens, na ida e na volta. Isto é logística.
    Foi com esse aparato e sem desperdícios que esses homens deram “novos mundos ao mundo”. No século XXI, com todos os recursos, parece que sua missão encalhou em águas profundas (!!)

    As “Bandeiras” de São Paulo eram empresas complexas. Eram estrategicamente preparadas pelos Bandeirantes, por muitos meses e anos, com altos investimentos, para que nada faltasse.     Cada “bandeira” tinha de 1000 à 2000 homens que precisavam comer, se defender e se vestir, com roupa à prova de flecha e armas para ataque e defesa.

    Mas você, no século XXI, o século da logística, veio sem as previsões necessárias ao empreendimento?! Não. Não consigo compreender. O que está errado?! O que falhou? É inacreditável! Ninguém assumiu tal responsabilidade?! O barco não podia se arriscar nessa viagem antes de ter condições adequadas. É minha opinião, que neste caso não resolve nada. A sorte foi lançada.
    Amanhã voltaremos a este assunto.


Magriço

São Paulo. 18.agosto.2008


10.
Um Olhar Estrábico

    A seguir dou prosseguimento às idéias da crônica de ontem.
    Prossigamos. Entram em cena alguns revezes e incongruências indispensáveis...

    1. Caro Professor,
   De nossa parte, tenho a reiterar o que o professor Jonas já lhe lembrou e que todos bem sabem, a não ser que se façam de desentendidos:
    Nós não fomos consultados em nada nem para nada, na programação dessa viagem. Nunca. Quem planejou, deve se responsabilizar pelas falhas e pelas carências. Nós apenas participamos da criação da idéia, um ano antes, sem nada operacional.
    O Cruzeiro foi estruturado como um projeto com dimensões humanísticas e também comerciais. Previa-se lucro para garantir a sustentabilidade, pagando as grandes despesas.
    Nós nunca fizemos parte desta dimensão. Não tínhamos tempo disponível.
    A GRACO detinha os direitos e também o lucro nos termos pactuados.
    No entanto, parece que algo falhou na logística, no planejamento e ou na gestão.
    Nós fomos atender um apelo dramático do Fabre, sem nos imiscuirmos nos compromissos comerciais da missão. Suplementarmente.
    Apenas nos propusemos a socorrer o empreendimento, como socorro emergencial, para garantir o essencial quando tudo periclitava. Levamos um “bote salva-vidas”. Só.

    2. Nossos primeiros socorros ao Cruzeiro Histórico, no final de maio e começo de junho de 2007:

    a) Sabendo que as velas estavam imprestáveis, oferecemos ajuda de emergência para substituí-las. Você nos disse que já tinha conseguido financiamento para isto.
    b) Você solicitou-nos, por empréstimo, uma filmadora profissional Sony, um tripé e uma máquina fotográfica de primeira linha. Está bem. Resolvemos. Mas tivemos dificuldades para enviar pelo Sedex ou por avião, devido ao tamanho do Tripé.
    c) Para garantir a chegada do material, fomos dois professores levar o material pedido, no seu veleiro, em Salvador. Fomos para prestigiar o projeto. Foi quando nos foi dito que a filmadora Sony precisaria ser DVCAM.
    Voltamos para São Paulo, pesquisamos no mercado. Tínhamos três alternativas. O preço era muito maior do que a previsão que você nos informou. Informamos a filmadora que considerávamos a melhor, pelas informações dos técnicos. Disseram-nos que era das melhores.     Consultado, você concordou. Adquirimos a filmadora. Não saiu barato, não. Foi quase o dobro de sua previsão. Assim mesmo assumimos, pois era equipamento essencial e não havia outra alternativa para o Cruzeiro.
    d) Pegamos então toda a encomendada e fomos levar-lha, no seu veleiro, entregue em mãos, em Salvador. Fui eu e a professora Zeni.
    Deixamos nosso trabalho para atendê-lo, para cooperar com o projeto para que o mesmo não fosse mais prejudicado. Sua reação: Ficou contente e satisfeito. Mas como sempre nem sequer agradeceu.
    Assinamos então um contrato de parceria, estabelecendo os compromissos de cada lado: o projeto CHICO e a EDUBRAX. Nada na área comercial.
    e) Fomos duas vezes de São Paulo a Salvador e você não registrou nossa ida no Diário de Bordo. Você fez de conta que nada recebeu. Aparentemente você escondeu envergonhado, suas penúrias... Silenciou. Outras ajudas eventuais de comerciantes você as considerou muito mais valiosas para o projeto, embora secundárias. A nossa ajuda foi muitas vezes superior. Atendemos à parte essencial do projeto.!
    Amigo não é serviçal. Você está minimamente equivocado... Quem, por nós, foi te atender foram Instituições Universitárias que precisam de registro do que fazem. Você se esqueceu? Por que se lembra agora?!
    Fabre, Fabre, competente capitão! Você está perturbado! Vença logo essa depressão. Assim como está, você não vê mais a beleza do céu e do mar; não sente a aragem fresca. O pior é que você não ouve mais as aves da cidade, o canto do sabiá. A inquietação vai obscurecendo a sua mente e só vê numa direção.
    Você talvez tenha algum estrabismo intelectual. Como isto se resolve?

Magriço

São Paulo.21.agosto.2008


11.
UMA CATILINÁRIA
- Horas Sombrias-

    O Prof. Fabre cometeu suas improvidências e as suas falhas logísticas e quer mandar a conta à Instituição, pois a GRACO não mais o atende.
    Estamos recebendo, em paga da ajuda que demos e da velha amizade, as suas aleivosias e incompreensíveis agressões. Será que você perdeu a lucidez e o bom senso? Já me parece que você escreve em javanês... Ninguém entende nada... Aonde você quer chegar?
    Você está reagindo como o sapo: pisado pelo elefante, gritou lá de baixo: tira a tua pata de cima de mim ou eu te rebento....
    Bem, vamos aos fatos. Aí vai mais uma parte do e-mail que lhe enviei para Recife.

    1. Caro Fabre,
    Você deve estar descontrolado. Precisa da ajuda de um médico ou de um conselheiro. De minha parte recomendo: descarregue com quem quiser as suas frustrações e angústias. (Não desdenhe de quem lhe acudiu) Nós apenas lhe demos a mão e lhe acudimos, quando você pediu, no meio de grande embrulhada. Isto você nunca agradeceu, nem fez por merecer.
    Enfim, fazendo as contas: já gastamos, para ajudar o seu projeto Vieira, muito mais de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), entre equipamentos, viagens, hotéis, restaurantes, pessoas disponibilizadas, seguros, etc. Não foi pouco. Mas conseguimos que a missão não gorasse. Já valeu a pena.
    Sabemos que você quer, sim, agredir a GRACO. Mas qual é o limite da responsabilidade de teu financiador? Nós não temos nada a ver com teus compromissos. Cada um assuma o seu cuidado...

    2. Lembro-lhe, no entanto, que as expressões chaves de todo bom relacionamento, em todas as línguas que conheço, são como palavras mágicas para abrir portas: Por favor, muito obrigado, desculpe, com licença, muito bem.
    Parece que você esqueceu todas, há muito tempo. A sua arrogância parece que apagou essa parte de seu dicionário ou de sua educação. Você esqueceu o que sua mãe lhe ensinou.
    Lembre-se sempre que os títulos acadêmicos não dispensam a boa educação, antes a pressupõem. A boa educação vale mais que tudo o que você tem.

    3. Isto posto, com todo o respeito que tenho por você e pela sua dedicação e suas ousadias, em resposta às suas incompreensíveis agressões, sou obrigado a tomar algumas posições, sem meias palavras:

    3.1Quosque tandem, Catilina”. Até quando, Fabre? Você só agride e berra. Até
quando?! Você não nomeia ninguém mas atira indiscriminadamente em todos (?!).
    Rejeito, detesto e contesto, todas as agressões que você vem fazendo ao professor Jonas e a todos que te ajudaram, que tudo têm feito, o possível e o impossível para te ajudar. O teu muito obrigado é esse? Essa é a tua educação?
    Isto não está no livro de boas maneiras. Não é tolerável. Aliás, é vergonhoso.
    Tenho vergonha de tais atitudes suas. Afrontas? Faça-as a quem você quiser, a nós não. Aqui você não vai ficar impune? Você não aprendeu a respeitar, no seu lar? Você tenta agredir quem procura ajudar? Aprendeu mas se esqueceu. É melhor parar com isso! Não ficou bem.
    Quem diz o que quer, escuta o que não quer. Isto é neurose
demais. Procure um médico. Você pode até arrazoar que as agressões são para outros e não para nós. Não quero saber; você, desesperado, põe muitos amigos e “inimigos desafetos” no mesmo saco... Esse não é o comportamento de quem está em tão más condições.
    Você parece o Prometeu amarrado ao rochedo...
    3.2 A filmadora que te enviamos é muito boa sim. É profissional. Faz trabalho de primeira linha. Atende plenamente às necessidades do projeto. Atendemos o seu pedido.Você escolheu e concordou com a filmadora. Os consumíveis são problema seu. Só.Pelo que parece, você tem outros financiadores. Vá atrás deles...
    Você não tem família a quem recorrer? Recorra à sua família! Você tinha também
um boa quantia de Turid para consumíveis. Como agora diz que não tem como adquirir os consumíveis? A filmadora exige suprimentos. Não é aparelho descartável. Isto não é da nossa conta. Não adianta cobrar.
    3.3 Filmadora profissional é assim: requer suprimentos, mas resolve; é máquina
para quem quer e pode tê-la. Você não ter dinheiro para os consumíveis não é defeito da filmadora. É “defeito” seu, ou da logística do projeto.
    3.4 Quanto à filmadora amadora da T.UA., o drama não foi menos desagradável.
    Você solicitou que a trouxessemos para concertar em São Paulo. Era um problema simples, disse você, muito barato, apenas um parafuso que se perdeu. Ficou de nos enviar um pedido formal, oficial. Afinal era patrimônio da Universidade sob sua responsabilidade. Precisávamos de documento formal para mandar concertá-la.
    Pedida a requisição formal repetidamente, você negou-se a formalizar a requisição. Mais uma desfeita, pensamos. Passamos por cima e mandamos a máquina para o concerto. Não foi fácil. O defeito era peça quebrada por mau uso. A peça precisou vir de fora. Pagamos o concerto e despachamos com seguro. Despesas diretas mais de R$500,00, fora as indiretas... Você recebeu tudo e nada agradeceu. Mas isto não é novidade, vindo de quem vem. Você apenas reclamou que demorou. Mas se olhasse no espelho, saberia muito bem quem provocou a demora. Você foi o responsável e reclamou dos outros. Isto não fica bem.
    Denegrir a imagem de uma pessoa, atribuindo-lhes às próprias incúrias não é “legal”.
(Leitor, aguarde para amanhã o desfecho desta mensagem).


Magriço

São Paulo.25.agosto.2008

12.
PARTICIPAR É COMPARTILHAR
-DESFECHO DE UM MAL-ESTAR-

    Caro Fabre,

    1. Apesar de suas angústias e mal-criações, cujas razões não podemos daqui aquilatar, em todo o percurso do cruzeiro Histórico, pelo Brasil, você sempre contou conosco e com nossas Instituições.
    Observamos mas não julgamos. As razões de toda essa descompostura um dia talvez se revelarão; se é que isto tem importância; talvez não. É olhar para frente de cabeça erguida.
    Interessa-nos que a sua missão chegue a bom resultado. Afinal, é o Vieira que está em evidência. Pelo menos assim pensamos.

    2. É sabido que nós temos projeto idêntico para despertar o Brasil, Portugal e o Mundo, para as grandes e perenes lições deste homem benemérito.
    Fazê-lo conhecido é muito importante. Talvez a partir, daí, cada um faça a sua lição de casa. A mensagem de Vieira ao mundo precisa ser divulgada para ser conhecida.
    Não há concorrência entre os agentes deste ambicioso programa. Se cada um fizer o que puder ainda é muito pouco. Então mãos à obra. Isto tem de dar certo. Vai dar certo. É pouco? Mas é algo.
    Apoiamos sem restrições, intelectualmente (e até mais) o projeto do Cruzeiro Histórico pela novidade que levava ao mundo: o fato de ser veiculado num veleiro e gerenciado por um profissional de nome e grande gabarito intelectual, tem forte apelo para chamar sobre si as atenções de muitos e do mundo.
    Comprometemo-nos a colaborar nos termos do Convênio Científico-Cultural.

    3. Além dos equipamentos emprestados, relacionados anteriormente, acrescentar ainda:

    a) O livro excelente do P. João Daniel, em 2 volumes, (Tesouro Descoberto no Máximo Amazonas), necessários à compreensão da fase Missionária de Vieira.
    b) O Prof. Jonas emprestou uma pasta de Cartas Náuticas e outros recursos, como cópia das Viagens do Projeto “Mar sem Fim” pela costa brasileira; um CD de cartografia do Brasil; o livro de Antonil (Cultura e Opulência do Brasil). Foi impresso e encadernado na Faculdade, especialmente para esta missão.
    c) Conseguimos três volumes (Ed. Lello, 1951), dos Sermões de Vieira que faltavam na coleção do prof. Fabre. Não foi fácil, encontrar tais volumes avulsos no Brasil. Conseguimo-los e os enviamos pelo correio ao professor. Será que ele agradeceu?!
    d) Mantivemos comunicações permanentes às vezes diversas vezes ao dia, via Internet, para ajudar a resolver ou encaminhar problemas. O prof. Jonas se encarregou dessas comunicações e triangulações com Analux e Dr. Barroso. Dedicou horas incontáveis a estas comunicações, que retirou do horário da Faculdade e da própria vida.

    4. Muito mais se fez que não é contabilizável. Mas acho que valeu a pena, se enfim, o Vieira sair efetivamente festejado e mais conhecido.
    Finalmente devo reiterar o que disse atrás: nunca pensei que usaria com um amigo expressões tão contundentes, como as que usei aqui. Achei que seria preciso levar os problemas com mais serenidade e mais eficiência, sem enchovalhos. As pessoas precisam ser respeitadas.
    Talvez eu tenha assumido as dores de outros. Tanto faz. Acredito que valeu a pena, pois sempre vale a pena quando a alma não é pequena.
    Peço desculpas por eventuais mágoas, se as provoquei.

Magriço


São Paulo.01.setembro.2008

13.
Quase o Triunfo

    Depois dos registros anteriores, Fabre já passou pela Serra de Ibiapaba e por São Luis do Maranhão. Agora está em Belém do Pará.
    1. Ao reler as crônicas precedentes e preparar-me para registrar do último dia da Missão,
no Brasil, achei por bem pôr-lhe uma chave de ouro, com um poema de Mário de Sá Carneiro: “Quase”. É um poema profético, dolorido, de quem na dificuldade de um imenso labirinto, busca a porta da saída. Não é um poema de um frustrado nihilista. É um poema de esperança de quem enfrenta de cabeça erguida, obstáculos terríveis. É um brado de alguém que quer continuar; que não se entrega, apesar das encruzilhadas emaranhadas.
    Esse alguém, que do poema brada, precisa de pouco, mas um pouco que é tudo: precisa de “mais um pouco de sol”, “um pouco mais de azul”, apenas “um golpe de asa” para chegar além.  Até os umbrais do além, o seu Eldorado sonhado, ele conseguiu voar.
Agora faltava-lhe um pequeno empurrão para ultrapassar os umbrais e chegar ao final desejado: “à glória”.

    2. Estamos no dia 29 de outubro de 2007. O Prof. Fabre está em Belém do Pará. Está de partida, iniciando o incerto caminho de volta. Nos céus de seu espírito troveja e venta, anunciando novas tempestades. O incerto o desafia. Falta-lhe apenas “um golpe de asa”.
    Nestas horas incertas, faz bem ler o poema “QUASE”, para rememorar o quanto já andamos e o pouco que falta para chegar. É hora de resistir e persistir; tentar a última cartada...


QUASE
Mário de Sá-Carneiro

Um pouco mais de sol — eu era brasa.
Um pouco mais de azul — eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador d'espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho — ó dor! — quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim — quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
— Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... —
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

...........................................
...........................................

Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

    P.S. Este poema poderia ter sido escrito pelo prof. Fabre. Retrata bem o espírito com que está saindo de Belém do Pará, encerrando o essencial do projeto Vieira no Brasil e iniciando a viagem de volta ao porto de partida. Peito às vagas e aos ventos, o capitão parte...
    Entre Belém e Aveiro, haverá muito mar e muitas tempestades a enfrentar. Vamos conferir. Esta viagem é brilhante porque trouxe muito sofrimento que exigiu coragem e decisão, com alto grau de resistência. Conseguiu cumprir sua missão.

Magriço


São Paulo.05.setembro.2008

14.
Navegar é Preciso

    Navegar é preciso... A viagem terminou... A viagem continua. O peregrino que se preza, nunca se detém. Seu destino é navegar para chegar a algum lugar e sua missão cumprir. Após breves paradas, segue seu rumo. No porto, parado, não é seu lugar. Viver é navegar, por terra ou por mar.
    1. Enfim, o Cruzeiro Histórico voltou ao porto de partida, depois de quase um ano de viagem por muitas terras e por mares calmos e mares revoltos. Foi e voltou. Sua missão cumpriu.
    Foi um percurso épico, de abalos e calmarias. Foram meses de grande produtividade e de aprendizado. Do nosso ponto de observação, aqui em São Paulo, Brasil, de longe a maior cidade da Língua Portuguesa; daqui da Edubrax, uma das Instituições universitárias modelo do Brasil, seguimos , dia a dia, a viagem do Cruzeiro Histórico. Muitos o seguiram pelo mundo afora, através da internet.
     Nós tivemos acento especial e privilegiado neste nosso posto de observação, que é nossos espaço de trabalho diuturno, e acompanhamos o grande percurso, em todas as suas peripécias. Foram muitas centenas de mensagens eletrônicas (e-mails) trocadas entre nós, por obra do prof. Jonas, e o caríssimo professor Fabre Nos alegramos e exultamos algumas vezes e nos angustiamos outras. Parecia que participávamos de uma infindável partida de Futebol, onde estava difícil definir o vencedor; batíamos palmas ou ruíamos as unhas, psiquicamente. Um jogo com muitos intervalos e prorrogações, mas sempre a mesma partida. Foi um jogo hilariante de muita torcida. A vitória foi o resultado.

    2. Certamente um Cruzeiro marítimo, seguindo os passos de Vieira, não poderia ter sido diferente. Se tinha como tema o P. Antônio Vieira, tinha que ser ousado e ter obstáculos para vencer. Este grande idealista e grande lutador, que nunca hesitou enfrentar riscos para alcançar seus objetivos, no percurso de sua Missão e de seus compromissos.
    No percurso do CHICO não podia faltar um Adamastor ameaçador, personificando a carência de recursos, e de equipamento de filmagem, fotografia, e até de velas, que alguém supriu.
    Honra-nos ter estado presente em todo o percurso, através de um convênio de cooperação e parceria. Alegra-nos que as nossas velas garantiram a segurança e o êxito da viagem de volta. Nossas velas, também emprestadas, conduziram o veleiro, o capitão e a tripulação de Recife a Aveiro. Fizeram a viagem de retorno.

    3. Vieira também foi um incansável peregrino e padeceu terríveis percalços por mares e terras.
    O pior naufrágio de Vieira aconteceu nos Açores, seguido de completa pilhagem de tudo: navio, carga, bagagens e até roupas de tripulação e dos passageiros. Os piratas holandeses se locupletaram. Vieira e seus companheiros de viagem foram jogados na Ilha Graciosa, como Jonas, em Níneve, relata a Bíblia.
    No memorável Sermão que fez nos Açores, Vieira mostrou que as pessoas não devem temer risco quando têm objetivos nobres: “Senhor, (disse Vieira) não vos dou graças por me livrardes do perigo, senão porque me meteste nele”. Esta é a alma deste Vieira incansável, audacioso, destemido, generoso e até implacável, quando necessário. Esta é a alma dos vieirenses.
    Acredito que assim está pensando o herói desta façanha, o Prof. Fabre, peregrino moderno, sem bordão, sem botas e sem cabaça de água às costas. Aí vai ele, dentro de um frágil veleiro, enfrentando tormentos dentro e fora de sua “nau”. Mas não falta nunca um bom vinho para alegrar uma boa conversa séria ou descontraída.

    4. É desta viagem que nos fala as Crônicas a Bordo. É uma aventura que agrada e chama
nossa atenção.
    Nesta obra, Fabre compartilha com seus leitores algumas idéias, reflexões, descobertas e episódios que vão acontecendo, ao longo dos muitos portos onde parou, como em pleno mar e em terra firme.


Magriço


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