CRÔNICAS
A BORDO
DO ALBATROZ
Na Rota de Vieira
Em terra e mar
2ª PARTE
VENTURAS E DESVENTURAS
DE UM ARGONAUTA E PENSADOR MODERNO
Apresentação
1.
Com esta série de crônicas, iniciamos a divulgação
crítica e analítica de alguns momentos especiais da Expedição:
“Cruzeiro Histórico – pela Rota de Vieira”,
capitaneado pelo Prof. Fabre, no veleiro CHICO e pelo Prof.
Raposo no veleiro ALBATROZ.
Com a etiqueta “Cruzeiro Histórico”,
irão sendo publicadas outras crônicas alinhavadas ao longo
dos doze (12) meses da Expedição. Trata-se de analisar os
Pontos fortes da Expedição e seus desdobramentos, com abordagem
livre e provocativa.
Nosso Diário
acompanha de perto a viagem do Prof. Fabre. Fizemos uma
espécie de reportagem investigativa, a partir do Veleiro ALBATROZ,
que veleja junto com o CHICO.
2. Nas primeiras
Séries Temáticas, o Prof. Fabre
dominou a cena... Os leitores verão que não é sem razão.
Nos relatos que
seguem, muitas vezes estão sobrepostos os objetivos e perspectivas
do projeto ALBATROZ sobre o projeto CHICO.
Mas isto não tem importância. É que este é essencialmente
um espaço de Vieira. Cada um olha os fatos de sua perspectiva.
Até a 4ª
Parte detemo-nos mais na viagem e seus problemas. A partir da 5ª Parte,
o centro das atenções será o espaço de Vieira
e temas correlatos. Em alguns momentos tentamos dar à viagem uma
interpretação alegórica, com destaque
para as últimas crônicas: Alegorias e Ousadias.
Aqui, fazemos,
uma sondagem do potencial cultural subjacente a esta viagem memorável,
apesar dos sobressaltos.
O que pretendemos
é realçar os pontos mais chamativos e os méritos da
viagem do Cruzeiro Histórico pelos Espaços
de Vieira, no Brasil e nas Ilhas.
Quando for publicado o Diário de Bordo,
da viagem matriz também aqui daremos notícia,
talvez com texto do próprio autor.
3.
Nesta 2ª Parte das Crônicas apresentamos uma Série Temática:
“Aventuras e Desventuras de Um Argonauta e Pensador Moderno”
O Prof. Raposo
estará aqui conosco, mais disponível, logo que se libere dos
outros afazeres inadiáveis. Dele são as anotações
gerais da viagem que servem de base a estas crônicas.
Eu tive o cuidado
de averiguar as informações, para as transmitir. As crônicas
prosseguem. Estou no ALBATROZ, relembrando os dados do
relatório final e textos para publicação
São Paulo, 18 de julho de 2008
Prof. Magriço
****
Aveiro, 28.maio.2008
1.
Missão de um Veleiro em Terra Brasileira
1. Buscando seguir os espaços de Vieira, um pequeno veleiro, vindo de Portugal, navegou, durante 12 (doze) meses, de março de 2007 a março de 2008. Visitou cidades históricas do Nordeste e Norte do Brasil, de Salvador a Belém do Pará. Parou ainda em Ilhas do Caribe e em Cabo Verde, Açores e Madeira.
2.
O belo empreendimento chamou-se "Cruzeiro Histórico
– pela Rota de Vieira". Para nós foi uma autêntica
"Missão Histórica". Tal é o sentido da mesma.
......Esta é como já dissemos,
uma viagem de ficção histórica. Caminhando
passo a passo, com uma história real.
......O projeto foi criado, dirigido e capitaneado
pelo Prof. Fabre. Foi uma jornada memorável. Mas passou momentos
difíceis.
3.
O Cruzeiro Histórico tornou-se palco de muitas venturas
e desventuras... Mas o grande mérito é que o veleiro veio
e voltou, são e salvo, ao posto de partida, com um saldo positivo
de “muito saber de experiências feito”.
As trombetas (invisíveis) tocaram e a missão
zarpou, no dia 17 de março de 2007, pelas águas do inóspito
Atlântico. Saiu porque sua missão era partir. Porque o veleiro
não foi feito para ficar ancorado no cais. ......Porque
é preciso navegar, rumo a algum lugar, cavalgando as ondas do mar.
Porque tinha uma missão a cumprir: fazer um trabalho de arqueologia
cultural: visitar os espaços de Vieira de quase 4 (quatro) séculos
atrás.
......Vou aqui fazer uma síntese do
que penso deste arriscado e nobre empreendimento e das utopias que engendrou.
4.
O mais importante resultado é que foi, enfrentou tormentas de muitas
espécies , cumpriu sua missão e voltou. Voltou ao ponto de
partida. Fez, o seu papel: Chamou a atenção de muita gente,
pelo mundo a fora, para o genial Vieira. Saiu de Aveiro e a Aveiro voltou,
depois de feitos memoráveis.
......O “Cruzeiro” foi um dos eventos
que mais chamou a atenção do mundo para VIEIRA,
em seu 4º Centenário. Se houvesse mais
sensatez e menos arrogância poderia ter feito muito mais...
Algo falhou e o roteiro foi encurtado...
......“Veni, vidi, vinci”
poderia anunciar, jubiloso, o nosso Fabre, como fez Júlio César.
......Fabre chamou a atenção
para um homem de profunda consciência cívica e de grandes ideais
humanitários.
5.
Vieira é o homem que quis mudar o mundo, despertando-o
para os grandes valores permanentes do ser humano, na perspectiva do Evangelho:
a consciência de si próprio e da alteridade.
......Mas do Evangelho também
são conhecidos apenas alguns textos seletos. O Evangelho
é um livro a ser conhecido, para que o cristianismo volte às
fontes límpidas, em todo o seu frescor. Raposo considera o Evangelho
um livro chave, com muita beleza. Considera que este livro tem pouco prestígio
no ocidente. Preferem-se os seus comentadores, diz ele... Mas esta é
outra história...
Magriço
* * *
Aveiro.29. maio.2008
2.
Perspectivas e Retrospectivas
1. Na entrada do Veleiro, na escotilha, poderia estar a célebre frase provocativa de Sócrates, que alguém afixou na entrada do templo de Apolo, em Delfos, na era cristã:
“Conhece-te a ti mesmo...”
Também
Sun Tsu afirma na Arte da Guerra:
“Se
conheces teu inimigo, ganharás uma batalha;
se
te conheces a ti mesmo, ganharás duas batalhas”.
......A frase ficou ausente no empreendimento
e fez falta.
......A viagem chamou a atenção
para um dos engenhos humanos mais completos e audaciosos
dos tempos modernos: o P. Antônio Vieira.
......Efetivamente Vieira é um homem
sábio, competente, arrojado, sensato e de uma dedicação
insuperável à sua missão e à humanidade.
......Nosso Diário destaca o Vieira
do século XXI, o Vieira atual, naquilo que é perene.
2. Aqui
estamos fazendo uma retrospectiva do evento.
......Estão no porto os veleiros CHICO
e ALBATROZ.
......Qualquer semelhança entre as duas
viagens pode ser real. Há semelhanças mas não identidade.
......As afirmações e observações
são de inteira responsabilidade do narrador, Prof.
Paposo. Ele também responde por eventuais citações
do Prof. Fabre.
......Talvez algum dia, sob o olhar atento
do Prof. Magriço, assistiremos longos diálogos
entre os dois pilotos: do Prof. Fabre e do Prof.
Raposo, os três sentados em um banco de pedra, em algum jardim,
descrevendo alguns episódios desta excitante viagem e sua relação
com o grande Vieira, que a inspirou.
Magriço
* * *
Aveiro, 21.junho.2008
3.
O Mérito de Cada Um
1.
O Prof. Fabre é um homem de coragem. Tem muitas virtudes e alguns
defeitos. Podemos
nem sempre concordar com ele; mas ele é um português
e um ser humano como temos poucos em nossos dias. Parece que tem no sangue
a aventura, a obstinação, a coragem de afrontar e o risco
dos velhos marinheiros.
... Como o personagem Raphael Hitlodeu,
de Morus, também Fabre poderia declarar provocativamente:
......“ cadáver
sem sepultura tem o céu por mortalha,
......há por toda a parte caminho para
chegar a Deus”
2.
Fabre, um homem maduro, tem um estilo cativante de escrever. Tem criatividade,
dedicação, persistência e muita coragem. Tem uma força
de vontade indomável. E tem muito saber e alguma sabedoria. Às
vezes não sabe respeitar certos limites! Mas o saldo é positivo.
......Cada um paga por seus próprios
“defeitos” e usufrui dos próprios méritos. Sofreu
na viagem? ......O que é esperado não
se estranha, nem aceita reclamações.Todos sabemos que no crisol
se purifica o ouro. Ela já entrou no mar sabendo que teria problemas
a enfrentar. Certamente não saiu enganado. Apenas jogou a sua cartada.
......Dá impressão que Fabre
desceu aos infernos e conseguiu voltar ... purificado (?) Sua energia se
revigorou. Rejuvenesceu em vitalidade...
......Não exalto sua altivez, porque
altivez sem certa dose de humildade pode resvalar para a arrogância
que nada constrói e deixa sabor amargo na boca.
......Mas...Deixa lá o homem com sua
arrogância! O que queremos ver é os resultados.
3.
Alguém retrucará: — nada excepcional
o que fez Fabre! Muita gente seria capaz de fazer o que ele fez ! Certamente!
Mas Fabre fez o que fez. Ponto. O mérito é dele. Outros que
façam a sua parte! Fica muito por fazer. Sempre. Um empreendimento
cultural de nível sempre abre novas portas. Nunca as fecha. Outros
podem ter inspiração idêntica... e até fazer
melhor.
......Vieira é um campo de pesquisa
inesgotável. Há lugar para todos quantos quiserem
se aventurar. Mas que saibam o que, quando e como fazer. Que saibam criar,
planejar, gerenciar e executar. É que Vieira é um campo
muito complexo... A primeira impressão talvez possa se desmanchar
no ar .
......Vieira é uma mina de ouro
muito produtiva, mas tem à entrada bravos dragões que precisamos
saber afastar antes de entrar. É preciso vencer os dragões
e quem os pôs ali. É preciso saber fazer... Os dragões
são a falta de visão panorâmica do assunto: o desconhecido...
a incógnita...
Magriço
* * *
Aveiro.30. maio.2008
4.
Gente Rude por Condição
1.
Cada um contabilize seus próprios méritos,
sem inveja nem despeito. A meu ver, Fabre, por vezes e em certas circunstâncias,
é rude e até grosseiro e corajoso como os moliceiros
de sua terra natal; mas parece que nem sempre tem a amabilidade, a simplicidade
e a generosidade dessa gente humilde, empreendedora,
competente, dedicada, persistente e indomável.
......Com a idade, parece que algumas pessoas
esquecem um pouco certas virtudes impagáveis e essenciais.
......Penso que no sangue de Fabre há
uma certa rudeza selvagem que ele não conseguiu
ou não quis domesticar ainda, como seria de esperar de um intelectual
do seu gabarito. É opção ou necessidade de luta pela
sobrevivência (?!).Quem sabe?! É opção dele.
......Todos sabemos que também os antigos
marinheiros foram rudes, o que não os impediu de serem generosos
e heróis. A vida não é diferente. Porque Fabre não
pode ser rude? Lógico, sem perder a ternura, como dizia alguém!
......A arrogância faz parte da postura
de muita gente, nestes tempos inconsistentes e volúveis.
......Estamos aqui apenas para ver os méritos
desta viagem. Não são poucos.
......Mas não podemos deixar de acender
a luzinha vermelha quando pressentimos por perto as artinhas do Perneta.
Alguém
pode perguntar, intrigado: Por quê tanto interesse por essa viagem
de tantas inquietações?!
2.
Muito fácil de explicar: Nosso projeto “Vieira 400
Anos” começou a ser preparado em 2005. Foi formatado
através da portaria EUROPAN, de 07/03/2006. O Grupo Alfa
de estudos temáticos do Instituto Tropical aplicava-se
ao projeto “Vieira – Alfa XXI”. O Prof.
Fabre tem ligações afetivas com nosso grupo.
......Isto explica nosso interesse pelo empreendimento
do Prof. Fabre, que já estava na prancheta, naquela ocasião.
Mais tarde voltaremos a esta questão.
......A história é bonita, se
tivermos acesso aos seus bastidores e à força motriz que a
impulsionou.
Magriço
* * *
Aveiro, 31.maio.2008
5.
Um Vieira de todos os tempos
1.
Com suas quase 70 primaveras e quase outros tantos invernos, Fabre parte
para a grande aventura. Quantas pessoas pelo mundo afora teriam coragem
de se lançar ao mar, com todos os seus perigos, segredos e surpresas
e ir de Portugal ao Brasil, num pequeno veleiro, aportar de porto em porto,
do Nordeste ao Norte deste país continental - o Brasil - buscando
rastos e reminiscências de Vieira.
A viagem
procurava celebrar Vieira como um genial pensador, missionário, pregador,
educador e estrategista do século XVII, buscando, no entanto, o Vieira
do Século XXI, que nele também existe? Veio procurar
as pegadas de um homem que é excepcional: é um GIGANTE
de sabedoria. E muitos ainda o desconhecem... Esta intenção
estava bem clara na proposta da viagem do ALBATROZ do Prof.
Raposo...
2.
Sim, porque Vieira missionou por essas plagas, então ainda selvagens,
semi-habitadas, também em condições precárias,
produzindo atos monumentais, em favor de gente também selvagem e
rude; e zelou também pela vida de seus conterrâneos colonizadores
de vidas também precárias. ......Estes
foram aventureiros destemidos, às vezes repressores sem limites,
numa terra onde tudo era precário, até a condição
de sobrevivência.
......Em suas tarefas de missionário,
Vieira lançou por estas plagas, palavras de fogo
que aquecem e iluminam ainda hoje, com brilho especial, ou fazem tremer
todos os maus-caráter, arguidos no Sermão de Santo Antônio
aos Peixes e no Sermão da Epifania, como Cristo arguiu os “escrivas
e fariseus hipócritas”. Vieira foi um pregoeiro da justiça,
da liberdade e da responsabilidade social e pessoal.
Magriço
* * *
Aveiro, 02.junho.2008
6.
Coragem, Persistência e Carências
1.
Quantos, senhores, teriam coragem de enfrentar as ondas do mar sem fim que
Fabre enfrentou, de peito erguido, e sair numa casca de noz
- o seu pequeno veleiro -, com apenas três homens a bordo?
......Veio com equipamentos eletrônicos,
sim, mas sem recursos adequados e suficientes para uma viagem tão
longa e tão arriscada. Não houve a hipótese do risco
previamente calculado. Em termos de dinheiro disponível a viagem
do CHICO foi de uma carência inacreditável.
Viveu quase à míngua, não fosse a solidariedade de
alguns.
2.
Quem suportaria chegar ao Brasil para uma missão destas, sem máquinas
adequadas para a filmagens e as fotografias, precisando pedir ajuda a alguém?
As que trouxe foram roubadas do veleiro. Por sorte um amigo de outros tempos
lhe deu a mão e emprestou uma máquina filmadora
e outra de foto, bem moderna.
......No final da viagem pelo Brasil, já
ancorado em Belém do Pará, esse amigo lhe
cederá, nas mesmas condições novas velas
para o Veleiro atravessar o Atlântico, pois a que veio no barco não
estava em condições adequadas para vencer a travessia do Atlântico.
Fabricada no Rio de Janeiro, por encomenda do tal amigo, a vela foi colocada
nas mãos de Fabre, em Belém do Pará, para que a viagem
pudesse continuar.
......Fabre não agradeceu, porque agradecer
não está no seu manual de convivência humana.
Mas a solução chegou na hora exata, para evitar novo desastre...
Custou caro mas resolveu. O amigo fez a sua parte, além do que poderia,
e sem que fosse seu compromisso.
3.
Quem suportaria a doença e a fome e os contratempos
que ele sofreu sem desistir?
Ele tudo suportou e persistiu na sua busca, como atento
arqueólogo filósofo, na descoberta das "pegadas"
heróicas e eternas do Padre Antônio Vieira. Tentou sentir as
“vibrações” que ainda parecem emanar dos púlpitos
onde pregou e das terras onde pisou e trabalhou, e das igrejas, algumas
em ruínas, testemunhas caídas de tempos heróicos.
......Não acredito que Fabre tenha agido
como mercenário. Creio antes que agiu como visionário...
......Parece que Fabre buscava compreender
a força motriz do gênio implacável de Vieira, que mostrou
a força de sua consciência cívica e humana pelos quatro
cantos do mundo.
Magriço
* * *
Aveiro, 03.junho.2008
7.
Senhores, eu vi... eu vivi.
1.
Quem faria isso só para poder contar ao mundo as
sua peripécias, os seus achados e as suas emoções,
como se fossem lições de vida? No entanto, Fabre nunca quis
dar lição a ninguém. Não é o seu tipo.
Agora ele pode proclamar, com “o saber de experiências
feito”:
2.
Senhores, Vieira “vive”. Vive em suas obras, como todos os imortais.
Vieira andou por aqui, eu senti, pisei nos rastos dos seus passos, há
séculos apagados, senti o seu sol quente, calcinante ... sofri seus
naufrágios e suas incompreensões; adoeci; naveguei os mares
que ele navegou; passei o cabo de todas as tormentas.
Senti
a vida borbulhante das gentes com quem ele conviveu, embora sejam outras
gentes; sofri como um danado; fui ajudado por muitos “Simão
Cireneu”. Prossegui sempre. E o melhor: tudo filmei e tudo fotografei
e anotei para poder transmitir à posteridade. Está tudo no
meu arquivo, para mostrar a quem quiser ver.
3.
Superei os momentos mais trágicos, apenas pensando que precisava
sobreviver para cumprir minha tarefa, para poder dizer agora e gritar ao
mundo:
Senhores, eu vivi um Vieira muito mais "real" do que esperava.
Agora estou de volta. Pensei fugir, desistir, como Jonas bíblico.
Sem chance... Mas descubro agora que o meu barco foi minha baleia que me
deixou a salvo na minha Nínive metafórica, aonde estou. Em
Aveiro. A vida e a viagem me ensinaram muito sobre as pessoas e como ser
tolerante e generoso.
4. Muita gente
me ajudou sem nada pedir. Achei muita generosidade por estas plagas. Está
tudo no "Diário de Bordo"; é só conferir.
Nunca fiquei sozinho.
......Agora sei que a vida é uma longa
viagem, com muitas interdependências. Aprendi que ser é ser
com os outros; que sozinho não venceremos, nunca. Sem os “outros”,
às vezes anônimos, certamente a viagem não teria conseguido
chegar ao seu final. Até de uma nova vela eu precisei e um amigo
a providenciou e colocou na minha mão, a milhares de quilômetros
de distância...
......Aprendi que, nos momentos mais difíceis,
é preciso resistir e decidir adequadamente. É preciso confiar
e saber agradecer. Infelizmente eu não sei agradecer nada a ninguém.
É um dos meus males; talvez uma certa arrogância escondida...
Mas estou grato a todos quantos me auxiliaram, dando-me sua mão,
na hora em que mais precisei.
......Lembrei-me agora das quatro palavras
mágicas que abrem as portas da boa convivência: por
favor, com licença, desculpe, obrigado. Aprendi isto quando
criança. Agora esqueci essas palavras. Pois é: quando a gente
cresce, perde certa naturalidade. Temos “vergonha” de ser gentis!...
Agora que as relembrei, quem sabe se saberei utilizá-las?!
......— Agora vou tentar escrever e falar
de Vieira como uma grande mensagem para nosso mundo. Vou falar do homem
que quis unificar o mundo, que quis reformar a
sociedade e fazer a paz universal, numa utopia
de 300 anos, antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Magriço
* * *
Aveiro, 04.junho.2008
8.
O Mérito da Expedição
1.
Insisto e reitero: o meu objetivo é realçar os méritos
da Expedição. Esta foi a Expedição
que eu vivi a milhares de léguas de distância. Esta eu vou
contar. Coloquei nas palavras de Fabre algumas das perspectivas que direcionam
os projetos que desenvolvemos sobre Vieira, em São Paulo, Brasil.
......Fecho esta digressão e volto ao
Veleiro: Volto à minha missão...
......Há muitos momentos épicos
na viagem do “Cruzeiro Histórico”, para quem souber ler,
interpretar, apreciar e relatar.
......O Diário de Bordo,
da viagem paralela à nossa, está na internet e logo estará
nas livrarias.
Caro leitor
2. Fabre é
um personagem de ficção, “inventado” para viabilizar
idéias. Isto não é uma biografia autorizada, nem uma
autopsicografia do “Cruzeiro”.
......As palavras acima atribuídas a
Fabre são ficção de minha exclusiva
responsabilidade. Enfim, umas vezes a arte imita a vida e outras, a vida
imita a arte.
......O meu objetivo é realçar
os méritos da expedição a partir de seus objetivos.
......As palavras atribuídas a Fabre
são escritas na perspectiva do Prof. Raposo da Expedição
ALBATROZ. São palavras para o nosso Diário
de Viagem.
......Os textos do Prof. Fabre estão
no seu Diário de Bordo, que logo estará impresso e disponível.
Magriço
* * *
Aveiro.05.junho.2008
9.
Veni, vidi, Vinci
(Vim, vi, venci)
1.
Aos trancos e barrancos mas decidido e "enriquecido", Fabre voltou
ao ponto de partida. Merece uma boa salva de palmas. Fabre foi abraçado
pelos amigos de perto e de longe.
......Pelos sofrimentos, pelas privações
e pelas angústias que passou, já espiou todos, ou quase todos,
os seus pecados de certa arrogância que afeta muita gente e de que
ele parece que ainda não escapou. O sofrer deixa as pessoas mais
dóceis, cordatas e gentis. Deixa a gente mais gente. O mais importante
é não se apequenar.
2.
Após esta expedição, Fabre não
mais será o mesmo. A vida também é mestra e ensina.
Mas é preciso se livrar da madrasta que está sempre à
espreita.
......Precisa ainda enfrentar um novo dragão.
Sem novidade, pois todo homem empreendedor precisa matar um dragão
por dia. Ele saberá resolver as questões que sobrevierem.
Adquiriu um rico crédito moral , acrescentado ao seu rico currículo:
os méritos de sua aventura pelos caminhos do inigualável Vieira.
Outros falariam: “do Celebérrimo Vieira”.
......É hora difícil de conferir
e acertar a contabilidade financeira e moral: o saldo real do empreendimento.
3.
Agora Fabre está na sua terra, em Aveiro. Este é
o seu lugar. E vai relatar, sem mágoas e sem ódios, esta aventura
tão vieiriana, que, contada, é difícil de acreditar.
4.
A sensação que me trás esta viagem, com todas as emoções
e apreensões que nos foi dado compartilhar, é a de que os
argonautas da era eletrônica são mais heróicos do que
os argonautas da antiguidade, que não passaram de lendas, elaboradas
pela mente fértil de algum escriva inspirado e genial.
......Nosso Diário de Viagem faz um
certo contraponto ao Diário de Bordo, mas o ponto de vista é
muito diferente. O primeiro é do projeto ALBATROZ, do Prof. Raposo
e o segundo é do projeto CHICO, do Prof. Fabre.
Magriço
* * *
Aveiro.09.junho.2008
10.
Diário de Viagem, nos Bastidores
1.
Senhores, desculpem-me o arrojo da expressão, mas a viagem de Fabre
tem momentos espetaculares de grande emoção; momentos cinematográficos.
Esta viagem é uma bela metáfora da vida humana das pessoas
geniais que conseguem se destacar das demais e vão além da
vida trivial, não pelas facilidades da vida, mas pelas dificuldades
que souberam superar.
2.
A viagem do “Cruzeiro” é muito mais
do que escrevem as crônicas. Há uma outra viagem subjacente
que precisa de nova "leitura". Nos bastidores, a viagem tem novas
dimensões e tem mais sabor.
......É este “heroísmo”
do dia a dia, do cotidiano que falta às novas gerações.
Espera-se que Fabre, possa e saiba relatar com força, emoção,
simplicidade e “grandeza”, a viagem que fez e a vida que dela
transborda, sem ódios nem revanchismo, aceitando a vida como ela
é, e sendo sinceramente grato a quem o ajudou ...
3.
Aliás esta é a matéria de seu Diário
de Viagem, que vamos escrevendo, ao longo da viagem, e que muitos
podem acompanharam aqui. No correio eletrônico ele irá compartilhando
conosco os bastidores desta aventura.
......Um fato ficou muito claro: os pólos
estratégicos de apoio, de Coimbra, de Aveiro
e de São Paulo, foram essenciais ao êxito
alcançado. Sem este apoio a viagem seria impossível e todos
os planos teriam se desmanchado no ar, como asas de cera ao sol, tal como
ocorreu ao ousado Ícaro.
......Nós, do ALBATROZ,
situamo-nos no pólo de São Paulo.
......Muitas outras pessoas deram sua contribuição
na hora H. O Prof. Fabre será eternamente grato a todos. São
as lições que a vida nos dá. Lições não
encomendadas, certamente.
......A vida nos ensina a dizer, "muito
obrigado", tal como nossa mãe nos ensinou, com tanta sinceridade
e singeleza.
Magriço
* * *
Aveiro.10.junho.2008
11.
Glória Compartilhada
1. Um dia, muitos anos atrás, enquanto o Prof. Peralta pensava em algo longínquo, veio-lhe uma inspiração não procurada. Pegou papel e caneta e escreveu um poema a que deu o título: MEU BARCO SOU EU. Saiu-lhe da caneta um poema de que muitos gostaram. Eu também gostei. Acho que traduziu o Fabre, après la lètre: Meu barco sou eu.
2. Bem haja o Fabre, navegador, argonauta, pensador e peregrino, talvez por destino. Bem haja a Graco, a T.UA. e a EDUBRAX e todas as pessoas que compartilharam dessa faustosa aventura, ajudando este homem a levar a bom termo tão difícil e promissora jornada pelos espaços do Vieira, o Grande Pai. (Assim o chamavam os índios da Amazônia).
3.
Desde o Éden, o homem não é uma ilha:
só vive convivendo e compartilhando...
......Efusivas congratulações
ao “Cruzeiro Histórico Rota de Vieira”
do capitão Fabre. Aplausos eternos para o grande mestre P. Antônio
Vieira, um ser humano genial, arrojado e destemido, arauto da justiça
e da paz, entre as pessoas e as nações e criador de maravilhosas
utopias. Arauto da fraternidade universal.
......Vieira ajudou a mudar os rumos
da humanidade. Pregou em sua Praça Universal.
Onde quer que estivesse, aí ele sentia o pulsar de toda a humanidade.
Foi mais uma visão profética de Vieira.
4. Eterna gratidão a Vieira que nos deixou escritas suas lições, que são luzes para compartilhar conosco, com todos os humanos, para sempre. A Vieira que nos inspirou esta Expedição quase épica, e que vem inspirando muitas outras realizações neste grande 2008.
Magriço
* * *
Aveiro.11.junho.2008
12.
Meu Barco Sou Eu
......Como disse na crônica
anterior, encontrei o poema “Meu Barco Sou Eu”, escrito pelo
Prof. Peralta num momento de inesperada inspiração.
Escreveu-o, por volta de 1990. No ano de 1991, o presidente do sodalício
Elos Clube, após conhecer o texto, solicitou-lhe
para que o lê-se numa Reunião Festiva do Elos. Acedeu com prazer
ao convite. Acredito que o texto fica bem também no contexto destas
crônicas sobre o Cruzeiro Histórico.
......O Prof. Raposo sugeriu-me que o transcrevesse
no Diário de Viagem. Aí vai.
Como a Obra é longa, composta de 25 (vinte e cinco) poemas, transcrevo
apenas 2 (dois) poemas:
MEU BARCO SOU EU
Por: Jorge Peralta
NAVEGAR É MEU DESTINO
O meu barco sou eu.
Meu destino é navegar
para a vida revigorar e iluminar.
Pouco importa onde vou ter,
e os caminhos a percorrer,
ou as dificuldades a vencer.
Só sei onde quero chegar.
Braços firmes ao leme,
lá vou eu
a tempestade e a bonança enfrentar.
Minha sina vou abraçar.
Se o vento não sopra,
pego o remo
e vou remando sem vacilar.
É preciso prosseguir
se ao meu destino quiser chegar.
Como é bom saber que em terra,
há alguém a me esperar!
Remar por gosto não cansa,
se temos um rumo a trilhar,
e se temos uma estrela a nos guiar,
que nos alegra e nos faz cantarolar.
Navegar é prazeroso.
quando nosso compromisso é chegar
a lugar certo, ou incerto,
onde alguém está a nos esperar!
Quem corre de gosto não vai se cansar.
O mar é meu mundo.
Seus confins é gratificante explorar.
O mundo é meu lar.
Navegar é meu destino:
para cumprir uma missão especial;
É meu modo de aventuras desfrutar,
novas energias descobrir
e com meus irmãos
a vida pelo universo repartir.
O mundo é meu mar!
A vida é um barco
sempre a zarpar!
ROTA MARCADA
Navegando, navegando sem parar,
vai, barquinho, rumo ao alto mar.
Na areia da praia não é teu lugar.
Não vás aí encalhar.
Se o medo te assalta,
resiste... insiste...
É preciso prosseguir,
para as cortinas do futuro escancarar!
Verás que há sempre outras portas
que alguém precisa destrancar.
Teu destino, tua vida,
tua sina é navegar.
O mar te fascina.
O desafio te alucina.
A pressa te desatina.
És um peregrino do mar.
Navegar em mar profundo,
é mais fecundo.
Vai, barquinho, vai...
Partir é renovar, é renascer,
é rejuvenescer, é ousar!
És um peregrino do mundo
Valeu a pena a leitura dos poemas? Agora vamos em frente.
Magriço
São Paulo.13.junho.2008
13.
ALEGORIAS E OUSADIAS - I
VIVER É “NAVEGAR”
Uma Viagem Tumultuada que se Cumpriu
...... A viagem do veleiro Chico e do Albatroz, em busca dos espaços de Vieira, ,conseguiu ser, sem querer, uma alegoria da vida do próprio Vieira, com suas alegrias e angústias que o “inimigo” lhe preparou. De mais méritos o coroou.
1. Na quarta
Parte destas crônicas de nosso Diário de Viagem,
reunimos textos de algumas reflexões, no ambiente de um certo enfrentamento
das dificuldades supervenientes.
......Para
os protagonistas destas crônicas, esta é uma viagem, em busca
de um espaço cultural que marcou época e se projetou em outras
épocas. Subjacente a esta história está uma alegoria
de busca das forças motrizes de nossa vida e de nossa história
multifacetada. Abrange, numa só frase, como na obra inteira,
o passado, o presente e o futuro.
......Aqui fazemos uma “escavação”
arqueológica nos fatos para descobrir-lhes os vetores.
2.
Toda a vida e a vida toda se pressentem numa pequena célula. A viagem
do Albatroz, a viagem do Chico, como todas
as viagens culturais, são uma peregrinação instigante.
......Nela,
querendo ou não, encontramos um lado sagrado, com alma, coração
e razão, nas pessoas e nas coisas. O sagrado e o profano, nesta conjunção
de forças, dão-se as mãos. É o verso e o reverso
do agir humano.
......A vida humana, para quem crê e
tem coração e razão, é sempre uma longa viagem,
onde, como na vida cotidiana, tudo acontece, ou pode acontecer.
......Tudo se relaciona e interage. O agradável
e o desagradável, o bem e o mal, o positivo e o negativo, são
forças que estão sempre ao nosso lado, interferindo na nossa
vida e dando-nos experiência. Fazem parte da vida. Fazem a vida acontecer.
Mas precisamos optar.
3.
A cada momento, precisamos optar, no âmbito dos princípios
que nos regem.
......Cada
dia temos de derrotar um leão, para prosseguir nosso caminho, nossa
missão. Os obstáculos fazem parte do nosso enredo não
mapeado. A luta contra os obstáculos e a superação
dão calor e sabor à história e à vida real.
......Vencer é vencer-se, superar-se:
reconciliar-se com a vida e com o mundo. Vencer é derrotar a deficiência
e não o deficiente; a inconsciência e não o inconsciente.
......Estamos sempre, braço a braço
com sofrimentos, alegrias, inquietação, exaltação
e também o perdão. Concordemos ou não, este é
o roteiro diário de toda a vida, de todo o humano cidadão.
......A afluência dos opostos quebra
a rotina diária; testa nossa decisão e nos fortalece. No mar
como na vida, temos sempre surpresas a administrar. A noite e o dia se sucedem
regularmente, seguindo um percurso existencial.
4.
Os povos que orbitam, em torno da matriz cultural lusitana, têm um
mito ancestral que nos promete todo o bem num paraíso terreal: o
mito de Dom Sebastião, o Encoberto. O rei oculto um dia virá
e implantará um reino de liberdade, fartura e benquerença,
e ainda expulsará o usurpador. Nesse reino paradigmático,
todos serão competentes, responsáveis dedicados e altruistas.
Cada um fará sua parte com consciência e vontade. Não
haverá lugar para egoistas nem parasitas, nem para omissos. É
um reino de alegria com partilhada.
......Muitos
buscaram o encoberto mítico, em muitos lugares,
e ainda não o acharam. Não o procuraram onde ele de fato está.
O que é garantido e certo, é que ele está bem perto
de quem tem a chave, e bem longe de quem não a tem.
“Dom Sebastião” mítico, um jovem
fogoso, audaz e invencível está dentro de nós.
Precisamos apenas acordá-lo e abrir-lhe a porta. Deixá-lo
agir.
......Dom Sebastião mítico e
místico é cada um de nós. Cada um
que saiba enfrentar as dificuldades com patriotismo, competência,
responsabilidade, coragem, determinação e persistência.
Nesse dia, para nós e à nossa mão, estará a
liberdade, a fortuna e a benquerença. O D. Sebastião místico
está dentro de nós quando empreendemos com discernimento,
coragem e persistência, respeitando a soberania da nação
e tratando todos como irmãos, com generosidade e altruísmo.
Então, D. Sebastião somos nós.
Magriço
* * *
São Paulo.16.junho.2008
14.
ALEGORIAS E OUSADIAS – II
Viver é Ousar e Conquistar
(Nota: esta crônica é continuação da anterior;
é seu complemento necessário)
5. A maior
fortuna que podemos conquistar em nossa vida é o bem-estar, a paz,
a bonança, a boa convivência e a esperança dentro do
nosso coração, e uma consciência permanente de que a
luta da vida não se acaba numa etapa vencida. Há sempre nova
prorrogação.
......A vida é a eterna sucessão
da primavera, verão, outono e inverno. Viver é lutar e renovar.
......A maior conquista de uma vida é
a esperança. Sem ela, tudo dança...
......Nossa razão e nosso coração,
nosso sentimento e intenção, sempre têm
um objetivo final, de cada dia e de toda a vida: encontrar um paraíso,
uma terra sem males e com todos os bens, um Eldorado, onde possamos realizar
todos os nossos ideais, sem termos de enfrentar tanta dor, tanta humilhação,
tanta maldade, a dificultar nossa peregrinação. Uma terra
com trabalho para todos, sem ninguém ficar zangado à toa,
sem saber o que fazer, embotando seus talentos...
6.
Todos sabemos que um paraíso de verdade só se conquista, se
soubermos suportar, enfrentar e vencer a avalanche de obstáculos.
O “inimigo” despeja no nosso caminho, para nos experimentar
e testar nossa coragem, persistência e crença.
......A
coragem de enfrentar, com persistência e determinação,
toda a espécie de obstáculos e dificuldades é o que
nos dá os méritos. O paraíso não
nos é dado. O que nos dão é o caminho
e a competência da decisão, na liberdade de opção.
Por isso o Mestre disse: “Eu Sou o Caminho”.
......Podemos sempre optar em cada realização.
O anjo do bem e o anjo do mal ambos estão sempre ao nosso lado, para
influenciar nossa ação. Cada um puxa para o seu lado a nossa
opção. ......Mas nossa é
a responsabilidade e as conseqüências da decisão.
......O paraíso é conquistado
ou perdido, por nossa vontade. É preciso saber para ser consciente,
hábil e habilitado para não ser enganado. O saber também
é conquistado.
Enfim, o
paraíso está perto de nós, sempre ao alcance
de nossa mão. Cada etapa da vida humana é parte de uma grande
peregrinação.
7.
A vida humana toda é uma entidade sagrada. Há uma dimensão
sacral em todas as coisas que se relacionam com os humanos, quer
sejam fatos caracterizados como sagrados ou como profanos.
......A
vida humana, com tudo que ela contém, é sempre multidimensional.
Uma das quatro dimensões predominantes é
a dimensão espiritual-sacral. O sagrado é um dos sete
pilares de sustentação dos humanos, em sua terrestre
e passageira peregrinação. É a força da argamassa
que liga as pedras da construção.
8.
Estas reflexões me vieram abruptamente, ao tentar entender todas
as peripécias dos Cruzeiros Históricos do veleiro
Chico e do Albatroz. Que os veleiros foram buscar
quando partiram? Que trouxeram quando voltaram? Vieira.
......O
que encontraram? Por que tantos sofrimentos e abalos, tantas angústias
e tantos obstáculos precisaram enfrentar? Isto não sabemos,
nem saberemos se não buscarmos os fundamentos que regem a existência.
......Parece difícil decifrar os enigmas
da vida, da alegria e da dor. Procure a solução dentro de
você, leitor. Faça uma sobreposição de imagem
e você talvez se encontre lá: talvez você seja o barco,
o capitão, a missão e a audácia.
......Talvez o veleiro e o capitão,
a viagem e a peregrinação com todos os obstáculos supervenientes
seja uma alegoria de sua vida. Já fez a sobreposição
das imagens?... Onde está você? Onde está a sua viagem
9.
Agora começo a entender porque André de Barros disse que Vieira
tem um coração maior que o mundo. Os gênios,
como Vieira, não cabem no seu mundo, que os gerou e que para além
os impeliu: para mostrar novos caminhos.
Vamos
lá rapaziada. Parece que fizemos uma grande descoberta: Encontramo-nos
a nós mesmos. Então vamos festejar e acompanhar os próximos
episódios.
À
nossa frente vai Antônio Vieira, com sua sotaina surrada, seu bordão
e muito brilho no olhar.
Magriço