GESTÃO: INSTITUTO TROPICAL

MEMORIAL ANTÔNIO VIEIRA

O P. Antônio Vieira merecia à pátria
em cada terra uma estátua
.”

André de Barros, 1746,
biógrafo de Vieira

APRESENTAÇÃO

Tributo de Gratidão.
Vieira, um livro aberto.

.

1. Um Serviço à Humanidade.

       Elaboramos o texto deste opúsculo a partir do momento em que, após longa pesquisa, nos apercebemos de que homenagear Vieira é conhecê-lo e divulgar sua grande obra. E que isto é prestar um amplo serviço ao país e à humanidade.

       Queremos disponibilizar, para as novas gerações, muitos dos tesouros que Vieira produziu, nos seus escritos e em suas atitudes e intervenções, na orquestração da sociedade.

       É uma questão de justiça para com Vieira, que tanto se dedicou e para com o nosso povo que se sentirá honrado com a força de um homem de tal estatura artística e moral, que nasceu entre ele, fala a língua de todos nós e compartilha nossa cultura e nossos sonhos de um mundo melhor, sem discriminações nem exclusões. Vieira merece e a sociedade também. Vieira é um dos nossos e é nossa obrigação celebrar tão grande gênio. Mas Vieira não nos pertence. É patrimônio da humanidade. É patrimônio de todos. É também nosso, com muita honra.

       As bandeiras que Vieira empunhou, como soldado destemido, pela fraternidade universal, também podem guiar nossos ideais por um mundo melhor, com mais justiça, solidariedade e paz. A espada da palavra convincente e justa que usou, pode ser a nossa “arma”, através de um diálogo franco, responsável, respeitoso e construtivo.

2. Vieira, um mestre, em todas as religiões.

       Vieira é um cristão, católico mas antes de tudo era um ser humano digno, justo e sábio. O valor dele vai muito além de sua religião. Vieira é um valor universal. Está muito além de qualquer religião particular. Hoje, ele é lido por pessoas não católicas e não cristãos com o mesmo fervor e admiração das pessoas de sua religião. É que, como S. Francisco de Assis ou como S. Antônio, o carisma e a força da linguagem e da personalidade de Vieira a todos agrada com sua mensagem viva e vital. A todos faz bem. A todos traz mais paz, confiança e esperança.

3. Vieira, arauto de Deus.

       Vieira foi um homem de coragem, destemido e ousado. Foi um homem muito estudioso, de grande ciência e de grande experiência e convivência. Foi um homem de muita lucidez e de ampla visão. Nunca pensou pequeno. Foi fiel arauto de Deus e do seu Cristo. Foi um consciente lutador e soldado do bem comum, pela justiça, pela fraternidade e pela paz.

       Para Vieira, a verdade, a justiça e a fraternidade, à luz do Evangelho, estavam acima de tudo. Por isso, teve a coragem e a honestidade filial de nem sempre estar de acordo com certas atitudes da igreja de Roma. Acima de certas autoridades da hierarquia, às vezes maniqueístas, manipuladas, estava o espírito do Evangelho. Neste ponto teve posicionamento semelhantes aos Templários que o precederam alguns séculos. Estes pregavam a fraternidade entre cristãos, judeus e árabes, pelo fato de as três religiões terem o mesmo Deus, o mesmo Pai.

       Vieira sabia que manifestar seus pensamentos leais, com sinceridade, ainda que contrariasse pessoas da hierarquia eclesiástica e até resistir se necessário, era questão de fidelidade de quem busca a verdade em momentos conturbados, ainda que os poderosos o ameaçassem. Se Vieira tivesse sido ouvido, muito derramamento de sangue e intrigas, teriam sido evitadas.

4. Vieira soube acreditar e sonhar.

       Vieira acreditou sempre que é possível construir na terra, um mundo melhor para todos. Acreditou que a força, a energia e a luz que emana do Evangelho e da boa vontade humana, poderiam transformar o mundo, implantando sistemas de vivência e convivência que trouxessem mais justiça, mais bem-estar e a sonhada solidariedade com prosperidade, dignidade e paz. Por estes princípios lutou a vida inteira. Foi um persistente sonhador. E conseguiu muito. Fez as pessoas pensarem em novos paradigmas. Fez a sua parte. Só hoje as idéias de Vieira entram em pauta nos fóruns mundiais.

       Vieira sonhou sempre com a possibilidade do “reino de paz implantado na Terra”, com mais justiça, mais solidariedade e mais cooperação entre as pessoas. Era sua maior utopia. Sonhava com a restauração do “paraíso” que o homem foi perdendo com suas maldades, irresponsabilidades e mesquinhezas. Mas poderia ser recuperado pela lei do Evangelho levado a sério. Este é o tema e até quase o subtítulo da “Clavis Prophetarum”. Aliás esta é a grande meta de todo o cristianismo, para além de todas as diversidades, sem discriminações, sem nostalgias.

       No séc. XVII, estas posições criavam suspeição e podiam dar cadeia! A discriminação era institucionalizada pela Inquisição. Em nosso tempo, a isto se resume o movimento por um mundo melhor e os documentos sociais da igreja, com destaque para a “Gaudium et Spes”.

       Este é o grande sonho e a grande missão de todas as organizações humanitárias sérias. É a missão da UNESCO, ao menos na teoria. Vieira antecipou-se a estes ideais mais de 300 (trezentos) anos.

5. Memorial de Gratidão.

       Sem a atuação efetiva e firme de Vieira, as fronteiras do mundo seriam muito diferentes: as fronteiras morais, espirituais e até territoriais. Nós, hoje, também fazemos parte de uma geração que acredita que pode mudar o mundo. E pode, se efetivamente quiser. Não basta querer apenas afetivamente. Vieira pode nos ajudar nesta tarefa. Há que mudar primeiramente alguns dos nossos paradigmas.

       É preciso reconhecer que temos uma imensa dívida de gratidão para com Antônio Vieira. Precisamos divulgar seus feitos e suas obras, para que sirvam de modelo aos novos tempos.
Neste 4º Centenário, Vieira merece ser celebrado e festejado. Merece ser lido, analisado e discutido. Merece ter sua imagem e sua obra divulgada por toda a parte, como uma lição de vida.

       Aqui propomos um Memorial em homenagem a este pensador genial, orador, diplomata, política e defensor da dignidade humana, onde quer que fosse desrespeitada. Fez uma ação memorável, digna dos grandes profetas e dos grandes líderes sociais.

       Propomos um monumento em que Vieira e sua obra estejam por inteiro, através de alegorias. No monumento estará Vieira, seu mundo e suas obras. A idéia do monumento veio quando iniciávamos a preparação de um esboço de roteiro de painéis para uma grande exposição itinerante, comemorando o 4º Centenário de Vieira, relatando o homem, suas obras e seu mundo.

       Em forma de crônicas ritmadas, nasceu este roteiro, em forma de itinerário. É este o espírito que preside a exposição sob a inspiração de Vieira.

6. Objetivo Básico.

       O grande objetivo que queremos despertar é que todos que puderem tenham em sua estante, em lugar de destaque, uma obra monumental como os grandes Sermões de Vieira, ao lado da Bíblia e de outras obras célebres que marcaram época na própria vida e na vida da humanidade. Gostaríamos de ver em cada biblioteca, do Brasil, de Portugal e de todos os povos de Língua Portuguesa, os Sermões de Vieira.

       Entre outros projetos, a EDUBRÁS, aliada à EUROPAN, pretende publicar os principais Sermões de Vieira em edição Monumental. Já estão sendo preparados os textos para publicação.

São Paulo, setembro de 2007
Jorge Peralta

 

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PARTE 1

MONUMENTO A VIEIRA
(Elementos para uma Exposição Histórica)
(Texto - Programação)


I - Patrimônio moral
      preservado em granito.

1. Legado à Posteridade

Todos os povos reverenciam seus heróis,
símbolos vivos de suas virtudes morais,
e das forças que os impulsionam e alimentam.
As virtudes de nossos heróis são um patrimônio moral
que queremos perpetuar e legar à posteridade.

Os povos constroem monumentos que resistam ao tempo,
às tempestades e aos grandes vendavais.
Assim preservam a memória de seus heróis
para as futuras gerações,
a quem servem de farol e de bússola, nos mares da vida.
Nossos heróis de verdade, são os guardiões da sociedade.
São guardiões de alguns princípios que queremos cultivar.
São patrimônios morais de seu povo, de seu país.

Para perpetuar a presença de pessoas benfazejas,
entre seu povo e sua gente, para sempre,
produzem-se monumentos de pedra, granito ou mármore,
constroem-se monumentos literários ou grandes esculturas,
com figuras sugestivas, em atitudes firmes, nobres e aguerridas.
Os monumentos perpetuam a grandeza
dos ideais e dos feitos de nossos maiores,
e apontam os caminhos de novas vitórias, pela vida a fora.
Nos monumentos aos nossos heróis paradigmáticos,
é o povo que é homenageado.

A s pessoas e as sociedades precisam de paradigmas válidos.
Os povos precisam de espelhos para se mirarem
e seus valores descobrirem e cultivarem
os próprios rumos traçarem, fazendo adequadas opções
e seus defeitos prevenirem.
A vida querem preservar e engrandecer.
Os povos precisam de paradigmas válidos e não forjados
que sirvam de parâmetros para suas vidas e reflexões.


2. Vieira, Patrimônio Nacional

Vieira foi um guardião do Brasil, de Portugal e da cristandade,
Um benfeitor da humanidade.
Suas idéias, suas lutas, seus escritos e seus feitos,
merecem um grande monumento que as preserve para sempre.
Um monumento de pedra e bronze, em praça pública
e um monumento de papel para propagar seus escritos.
Um monumento que honre o homem, seus feitos e sua gente.
Vieira, com ou sem monumento, é e sempre será,
Um autêntico e fantástico patrimônio nacional.

Diferente dos monumentos tradicionais
de heróis notabilizados em guerras ou em batalhas campais.
Vieira é um guerreiro da palavra e do humanismo.
Lutou com sabedoria e sem temor.
Soube distinguir a pessoa, do transgressor.
Quis convencer e orientar as pessoas
pelos caminhos da paz, com justiça e bem-querer.
Às pessoas, sempre disse o que elas precisavam ouvir.
Foi além do que elas queriam escutar.
Foi sempre um homem verdadeiro e um pastor dedicado.

Nas missões em que Vieira se envolveu e exerceu sua autoridade,
não faltam guerras, calúnias, intrigas, conspirações
e escaramuças infindáveis e perigos sorrateiros.
Como era inevitável, em tempos repressores, foi vítima da tirania.
Foi o preço que pagou por sua lealdade a princípios e valores.

Nas "guerras" que travou nunca levantou a espada da palavra para atacar
mas sempre para defender...

Precisamos compreender que, nos incertos tempos de Vieira,
não era apenas nos palácios de governo
e nos gabinetes dos ministros que se definiam
os destinos do povo e da nação.

Nos sermões das igrejas e catedrais
Vieira argüia os reis, os ministros e o povo
lutando por mais lisura, justiça e bem-estar social.
Por sua repercussão, no seu tempo e na posteridade
os Sermões de Vieira são grandes tesouros.
Fazem parte do grande patrimônio nacional,
malgrado muitos ainda o não conhecem.


II - Paradigmas e Alegorias
      para a imagem de Vieira

1. Monumento que “fala”

Quem pensa num monumento digno de Vieira,
logo lhe vem à mente uma questão prática e desafiante:
Se Vieira é um personagem tão complexo, de múltiplas ações,
como num único monumento, se reunirá toda essa diversidade?
Como resumir Sermões, Cartas, viagens, defesa dos excluídos
confabulações, perseguições, ações políticas e ideais?
Pensei, pensei, as idéias organizei
e respondi ao meu interlocutor interior, com alguns paradigmas:

Quero um monumento que fale claramente,
por metáforas ou alegorias,
das grandes lições que Vieira deixou para a humanidade.
Todos os elementos chamados a compor o monumento,
como uma orquestra harmoniosa e viva,
deverão trazer à mente do transeunte e do observador
boas e fortes lembranças e lições estimulantes.
O monumento deve despertar na mente
incontida vontade de ler e conhecer o sábio ali apresentado
à consideração e reflexão de toda a população.
Ali estava Vieira e suas circunstâncias.

O monumento deverá abalar algumas convicções danosas,
proporcionando reflexões. Ante este monumento,
ninguém pode ficar indiferente, sem indagar.
Como nos tempos em que Vieira atuava e pregava.
É preciso refletir e indagar para conhecer e se esclarecer
para a vida melhorar e novas luzes propagar.
Atitudes piegas estão descartadas na modernidade.


2. Vieira é uma Mensagem

A grande mensagem unificante é Vieira, em pessoa,
com sua personalidade una e plural,
espalhando as múltiplas aptidões de um sábio,
a retidão de seu caráter e sua incansável dedicação,
sua ousadia, sua generosidade e sua atenção a todos,
sem distinção de etnia ou de condição social,
para construir um mundo solidário.

Vieira pugnou sem tréguas pela justiça social
e pelo respeito à dignidade humana;
Por um mundo onde cada familiar tenha condições de ganhar,
com o próprio trabalho, com o próprio suor e com dedicação,
o sustento honesto e suficiente e a educação de sua prole.
Um mundo de gente livre, onde ninguém precise esmolar.

O monumento a Vieira deverá trazer à mente do observador
a personalidade forte, fiel e leal
de um homem de pensamento e de ação.
Deverá refletir a sua atuação decisiva
na defesa dos índios, dos negros e dos brancos, espoliados
com destaque para os judeus, perseguidos por suas crenças,
e na preservação da integridade do território nacional.

Deverá levantar a moral e os brios do povo,
contra os invasores de diversas procedências
e de diversas tendências, perturbando a vida e a cultura local.
Deverá reviver a ação de Vieira pelos quatro cantos do mundo
em favor da cooperação entre os povos e da paz entre as nações.

3. Vieira, um patrimônio moral

Para ser um monumento autêntico e que valha apena,
Vieira será destacado e apresentado
como marcante patrimônio moral
de toda a nação, de toda a lusofonia e da humanidade.

Vieira surgirá do monumento, como uma imortal lição de vida
em toda a sua complexidade e em múltiplas dimensões.
Vieira surgirá como dedicado guardião
dos grandes princípios que garantem a vida sadia na comunidade.

A lição de vida é uma pessoa, mais que uma teoria.
A teoria que sobressai a todas as alegorias
é um “manual” aberto que permite diversas leituras.
Cada um leia o que lhe traz alguma sintonia.

Num monumento ou numa exposição sobre Vieira
em tudo devemos ver e ouvir Vieira e seu mundo e o nosso,
como seus paradoxos nos grandes e memoráveis momentos
de sua vida e de sua atuação.

Vieira é uma pessoa e uma obra imortal
que passou a vida fazendo bem à humanidade.
É um exemplo para as pessoas conscientes e responsáveis.
Como luz brilhante, em meio à escuridão ou à penumbra,
que não pode continuar oculto debaixo da mesa,
onde a poucos pode servir, também Vieira deve ser repensado.
É preciso dar-lhe um lugar de destaque, de onde nos ilumine.
A luz se coloca em cima da mesa, para a todos servir.
Aí é o seu lugar adequado, para a todos iluminar.

A obra de Vieira deve ser disponibilizada a todos.
Esta é uma missão em que ninguém pode se omitir.
O Vieira total, sua ação e seus Sermões
podem iluminar os novos caminhos da sociedade.
Não podemos continuar a desperdiçar tesouros morais,
como nossa sociedade moderna e comodista quer fazer.
Os remédios que podem nos dar mais saúde e bem-estar
não podemos escondê-los em baús ou dos outros sonegar.


III - Semiótica
      do Monumento a Vieira

1. O Globo e a Espada

Um monumento a Vieira, para ser digno deste homem,
terá múltiplas seções harmoniosamente arquitetadas.
Ao centro, num espaço mais elevado, surge Vieira,
alto, esbelto, decidido, de porte firme e olhar atento,
tendo na mão esquerda o globo e na direita, uma espada.

O globo representando seu sonho de um mundo unificado,
uma Praça ou Feira Universal,
governado por princípios éticos e cultor da paz.
A espada significando a força da palavra que tem credibilidade
e que destrói a ignorância, a arrogância, a injustiça e a falsidade.
A espada representa a força do espírito da claridade,
que afasta a escuridão da maldade, da ingratidão
e da injusta opressão.

Harmoniosamente distribuído em espaços adequados,
o monumento terá em destaque, uma jovem esbelta,
símbolo da liberdade e da fecundidade
com um coroa de louros dourados numa das mãos
e na outra mão uma águia real (imperial),
símbolo da grandeza, da ousadia, da persistência...

A coroa de louros é para coroar os heróis
que, como Vieira, com imensos sacrifícios e enfrentando perigos,
lutaram por princípios humanistas para proteger os perseguidos,
e resgatar a dignidade do ser.

Aos pés de Vieira, um de cada lado,
estará a esfera armilar e o pelicano a alimentar os filhos.
O símbolo é cultural. Não precisa ser esclarecido.

2. Caravelas e Canoas

O livro dos Sermões estará em lugar de destaque.
Também terá seu lugar privilegiado uma caravela,
veículo de que Vieira se serviu muitas vezes,
na travessia do Atlântico, para a outras terras se dirigir.
Terá ainda uma canoa, veículo que o levou às grandes missões,
pelos rios do sertão. É símbolo de articulação inter-cultural.

A caravela, nas águas do oceano, é o símbolo da unidade global.
Há tubarões nas águas, representando os perigos das navegações.
Até o século XVI, o mundo era separado pelos oceanos.
Os descobridores reverteram a equação:
com as caravelas, os povos passaram a ser unidos pelos mares
que sempre os separavam.
O que era separado, o mar e a caravela uniram.

No grande monumento e na grande homenagem,
haverá um sol brilhante e árvores da floresta tropical.
Não pode faltar uma cobra jibóia rolando na mata;
um grupo de índios dançando no terreiro.
Terá araras e jaburus, garças vermelha, sabiás e o bem-te-vi;
terá esquilos, teiús, sagüis e onças, rondando por perto,
numa paisagem paradisíaca, onde todos convivem.
Não pode faltar o jacarandá e o ipê florido,
O pau-brasil e a maçaranduba, marcas nobres do Brasil.


IV - Painéis da História

1. Painéis Estruturais Centrais

O monumento precisa ter, num painel bem situado,
como homenagem a Vieira, defensor da dignidade humana
e do respeito à diversidade inter-étnica e cultural:
- um casal de índios com seu guri e um papagaio
e seu arco e flechas, no chão deixado;
- um casal de negros com seus filhos, ao lado
do engenho de açúcar, fazendo o desenvolvimento do Brasil;
- um casal de brancos com sua prole
e com arado, rastelo, lampião e um livro na mão;
- um professor ensinando na escola, uma casa de pau-a-pique,
coberta de folha de palmeira,
tendo ao lado uma igreja coberta de sapé,
homenageando o Vieira missionário,
em Ibiapaba, Tocantins, Marajó e Bahia.

Não pode faltar neste monumento um painel
em que estão juntos os jesuítas e os bandeirantes, os heróis da unidade nacional,
em seu nascedouro, em tempos heróicos, trágicos e mágicos,
embora adotando pólos diferentes como diretrizes.

Precisa constar:
Vieira na Inquisição, humilhado pela arrogância
e pelo cinismo oportunista de seus detratores,
inimigos da nação;
- o rei D. João IV, que fez de Vieira
seu confidente privilegiado e seu “ministro” plenipotencial
para garantir a paz e a independência da nação
e a honra, a liberdade e o bem-estar de seu povo.
- o Papa Clemente X, assinando a libertação de Vieira,
das garras da Inquisição, tendo ao fundo, a cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma.

2. Painéis Ilustrativos Colaterais

Terá em algumas cenas especiais:
- Vieira dialogando com o rabino Manassés Ben Israel,
em Amsterdã;
- Vieira sendo expulso do Maranhão,
pelos colonos amotinados;
- Vieira em Salvador da Bahia,
andando pelas aldeias ou na Quinta do Tanque;

- Em outros painéis, terá:
Vieira pregando o Sermão de Santo Antônio aos Peixes,
em São Luiz do Maranhão.
- Vieira pregando o Sermão
das Armas de Portugal contra as da Holanda, na Igreja da Ajuda,
ante a esquadra inimiga desembarcando na Bahia,
e já apontando seus canhões contra a laboriosa, mas debilitada população;
Terá ainda painel dos Sermões da Sexagésima
do Bom Ladrão, da Epifania, do Mandato e
outros mais.
- Terá Vieira, em sua cela, redigindo seus Sermões!

- Terá ainda o painel dos grandes Apóstolos do Brasil:
Nóbrega, Anchieta e Vieira e outros grandes líderes;
- Não pode faltar um painel com as 10 pessoas
que mais fizeram para garantir a unidade e o progresso do Brasil.

Os painéis representarão momentos decisivos da vida e ação de Vieira.

 

PARTE 2

NO PEDESTAL DA HISTÓRIA

1. Uma Obra Monumental, Grandiosa e Diversificada.

Agindo como fermento, sempre atento e olhando à frente,
sempre ativo, sempre prestativo e sempre competente,
nunca indeciso, nunca indiferente,
Vieira conquistou um lugar grandioso no seu país,
em Portugal como no Brasil.
É um homem de duas pátrias que ajudou a consolidar.

Não há como esquecer a atuação deste homem
que ao seu rei, ao seu povo e à sua grei
se dedicou com coragem, dignidade e competência.
Vieira ocupa um lugar de destaque
na história de seu tempo, na história da humanidade.
A posteridade lhe reservou um majestoso pedestal
no coração de nossa gente.

Vieira se dedicou ao seu país e ao seu povo,
com um zelo fora do comum dos mortais,
com muita inteligência, generosidade e lucidez.
Seu lugar na nossa história é impossível olvidar.
É impossível que alguém consiga destroná-lo
ou os seus méritos esconder, ou deixar de honrá-lo,
sem se apequenar, sem empalidecer, sem se envergonhar.

Vieira entrou para o rol dos heróis da nação,
pelo conjunto de sua obra monumental, diversificada e grandiosa
e pela sua atuação dedicada e eficiente
durante toda a sua longa e operosa vida.
Poucos como ele, atuaram com tanta eficiência,
em campos tão diversos e com tão alta competência.

Vieira entrou na História,
como brilhante diplomata, atuando nas cortes da Europa
e como patriota, defendendo os direitos de seu povo:
O direito à liberdade, à autodeterminação e à vida com dignidade.
Pugnou pela consolidação da Restauração
garantindo a independência de Portugal e a identidade nacional,
de um povo forte, ousado, aguerrido e determinado.
Pugnou pela integridade do Brasil, física e cultural,
Ameaçada pelas invasões holandesas, que queriam retalhá-lo.

Vieira continua a nos ensinar
que o nosso país e o nosso povo devemos respeitar,
dando a todos consciência, dignidade e trabalho
garantia da sua liberdade de poder criar seus filhos
e viver com qualidade de vida e bem-estar,
em harmonia com a comunidade e com a nação,
podendo prosperar e desenvolver a solidariedade.


2. Enquanto Mundos Houver, Vieira Será Ouvido.

Vieira entrou para a História
como brilhante e audacioso pregador régio,
como exímio pregador popular
que as autoridades instruía e novos rumos apontava.
e como grande pensador e filósofo, que nos deixou à posteridade
umaobra de grandes idéias, como precursor de grandes descobertas...

As distorções ele espinafrava impiedosamente.
Atraía multidões às igrejas e às catedrais, onde à nação instruía.
Pregava o Evangelho da paz e da justiça,
Da liberdade, da dignidade e da solidariedade,
Com a veemência, a lealdade e a ousadia dos profetas.

Vieira entra para a História
Como defensor dos excluídos, dos mais fracos e dos humildes,
Foi defensor dos povos indígenas,
dos judeus e do povo espoliado, perseguido e maltratado.
Foi um grande reformador social, pregando a harmonia e a paz.
Foi um apaixonado pela justiça, por um mundo multicultural.

Vieira entrou para a História
Como zeloso e incansável missionário,
que trocou os mimos da corte e a paz do convento,
pelos sertões inóspitos, selvagens, violentos e bárbaros.
Aí foi instruir uma gente rude e bruta,
em que se vislumbravam talentos invejáveis,
e grande potencial humano a ser desenvolvido.

Em Ibiapava, Tocantins, Amazonas e Marajó, quis implantar nova civilização.
Como bom escultor, de pedras toscas fez belas “estátuas” vivas,
na Bahia, no Pará, no Maranhão, no Ceará e no Piauí.
Aos povos indígenas levou as novas luzes da civilização.

Vieira entrou para a História como exímio escritor,
além de pregador sublime, espaço em que se notabilizou.
Ganhou o título de “O Príncipe dos Oradores”.
Vieira é um dos grandes e imortais homens de grande visão,
mestre da nossa culta e bela Língua Materna.
Pessoa o cognominou: “O Imperador da Língua Portuguesa”


3. O legado de Vieira

De tudo que Vieira fez do grande valor e que nos legou,
O que se mantém, na atualidade, em pleno vigor,
É seu caráter forte, competente, leal e inquebrantável,
E seus escritos imortais, perpetuados nos seus Sermões, Cartas
E outros trabalhos de sua pena e de sua mente inspirada e ousada.

Hoje as obras de Vieira são forças disponíveis, versáteis
onde as pessoas mais sábias buscam luz e inspiração.
Seus pensamentos são jóias preciosas, cobiçadas,
que ornamentam as humanas mentes e os humanos corações.
Enquanto houver história, Vieira será ouvido e amado.
Enquanto houver homens, ele terá fama e glória
Enquanto houver mundo, será ouvido seu nome e sua história.

Vieira entrou na História
como homem forte, sábio, determinado e de alta lucidez.
Espantou a Europa com seu tirocínio e sua sagacidade
e sua capacidade de desenvolver raciocínios de ampla visão.

Do século XVII Vieira foi um dos máximos expoentes
do humano engenho, como conselheiro e diplomata,
como orador e escritor. Foi um dos pilares de seu tempo.
Agiu sempre com uma visão universalista, global.
Foi o primeiro a ter uma visão unitária do mundo
que ele via, de Roma, como uma Praça Universal.

Foi um homem que soube sonhar
um futuro melhor para todos os povos.
Foi um homem de pensamento consistente e de ação.
Ajudou a traçar os novos rumos da humanidade
e a talhar os ideais de um mundo de paz e de concórdia.
Ajudou a estabelecer os contornos geográficos,
humanos e sociais do Brasil, nossa pátria, nosso torrão natal.


4. Uma Vida Dedicada
Vieira teve uma vida plena, atribulada e grandiosa.
Foi conselheiro de reis, rainhas e generais.
Foi confidente de príncipes, ministros e de governadores.
Foi conselheiro de pessoas simples e populares.
Para muitos de muitas nações, nas cidades e nos sertões,
foi o sol da Terra e a luz do mundo.
Para todos foi um mestre sábio e iluminado.
Foi um homem gigante, um imortal.

Tantos foram seus feitos e atribulações,
suas glórias e desfechos inglórios,
que mais parece personagem de ficção,
do que uma pessoa real, um cidadão, um lutador.
Pelos quatro cantos do mundo, deixou palavras sábias.
Em Lisboa, Roma, Paris, Amsterdã e na Bahia, Pará e Maranhão
era admirado e seguido pela luz que difundia e por sua ação.

Em toda a longa vida do Mestre Vieira
ninguém encontra uma ação má, uma falsidade.
Ninguém detectou uma deslealdade, uma infidelidade.
Ninguém sentiu uma malquerença, uma inveja,
uma represália, uma hostilidade, uma vingança, uma vaidade.
Nunca traiu seu povo, seu rei ou sua nação.

Sabia que sofrer e errar é praxe em quem pensa,
em quem quer fazer e acertar; em quem quer resolver.
Sua vida toda foi dedicada a nobres causas.
As injúrias e perseguições, prisões e exílio, tudo soube suportar.
Nada conseguiu amedrontá-lo, constrangê-lo ou desanimá-lo.
Suas forças e convicções estavam muito altas,
fora do alcance dos invejosos, dos crápulas e dos presunçosos.

Nem conseguiu dominá-lo aquela corja de aproveitadores áulicos
que, por toda a parte, bajulam, dominam e “algemam” os gestores
Seu espírito nunca fraquejou, nunca desanimou.
Poucos reis, presidentes, ministros ou generais
tiveram uma vida tão ativa e com tão gloriosos feitos.


PARTE 3

VIEIRA NO PARQUE DA PAZ CELESTIAL


1. Um Cenário Celestial.


Alvíssaras, meu Pai! A nau Esperança vai chegar!
Traz Antônio Vieira, um dos maiores pregadores evangélicos,
o grande mensageiro da paz, como Antônio de Lisboa,
o Santo, grande taumaturgo e “doutor evangélico”.
Assim dava a notícia o Arcanjo Miguel, com grande euforia.
As trombetas tocaram vibrantes de alegria.
A todos convidam para uma recepção especial.

Ao chegar ao Paraíso Celeste, Vieira foi recebido efusivamente.
Para os parâmetros humanos, que só chegam lá por alegorias
e só enxergam sombras do real, foi um dia muito especial.
Todos no Céu ficaram agitados, espargindo grande alegria e satisfação.

Cenário magnífico e indescritível!
Parecia um infinito Parque da Paz Celestial:
Grandes árvores, grandes jardins floridos,
e grandes alamedas de esbeltas Palmeiras Imperiais.
Das árvores destacavam-se as da selva brasileira
que o Criador aí desenvolveu,
para homenagear nossa terra e nossa gente.
Era um paisagismo deslumbrante,
obra do grande pintor e arquiteto
que tudo planejou nos mínimos detalhes.

Aí verdejava o nosso belo Ipê, o Jacarandá, a Maçaranduba e o Jatobá
e outras mais, ornadas com magníficas orquídeas e bromélias.
Esvoaçavam as aves paradisíacas da Amazônia e do Pantanal do Brasil.
Era uma beleza divina, incomparável,
vista da perspectiva celeste, onde a morte não tem lugar,
e a vida se vive em plenitude, sem monotonias e sem amarguras.

Vieira era destaque nesta cerimônia memorável.
O Pai-Mãe celestial que, com Pedro, supervisiona toda a recepção
dos novos habitantes da celestial mansão,
destinou para Vieira o lugar de destaque nesta cerimônia.
Convidou Santo Antônio de Lisboa, seu conterrâneo, para acompanhá-lo.
Os dois falaram sobre os valores da humanidade e suas crises
e sobre os Sermões de Santo Antônio que Vieira pregou
em Roma, em Lisboa, na Bahia e no Maranhão.

Ficaram juntos os companheiros de generosidade,
dedicação e ousadia
e que por isso sofreram ao longo do tempo,
enquanto na Terra viviam.
Juntos, em traje de gala, longos e majestosos,
lá estavam, ao lado de Vieira:
Camões, Homero, Virgílio, Dante, Milton, Goethe, Sócrates
e outros imortais.
Lá estava Sêneca, Rui Barbosa, Pessoa
e mais um número incontável
de pessoas que conquistaram a imortalidade, na arte e na vida.


2. Uma Recepção Divina.

Podemos imaginar o toque festivo dos carrilhões de todas as catedrais.
Ouvimos o Coral de uma quantidade imensa de vozes angelicais,
mais majestosos que os hinos de Palestrina,
do que a “Alleluia” de Hendel ou do que a “Ave Maria” de Gounod.

Orquestras sinfônicas celestes,
com músicas e instrumentos “do outro mundo”,
tocavam em seções especiais, com uma acústica divina.
Dos instrumentos destacavam-se a harpa, o violino e a cítara,
o vilão, a viola e o cavaquinho, o tambor e o tamborim,
o ganzá e o reco-reco, e tantos outros, incontáveis e indescritíveis,
de todas as civilizações.
Feito a apresentação das orquestras, foi cantado o magnífico “Te Deum”
por um grandioso coral de Anjos, Mártires, Patriarcas e Profetas.

Após o “Te Deum” passou um filme de alta e eficiente tenologia,
relatando a vida de Vieira, em tela multidimensional,
com o entorno e as circunstâncias de cada cena.
Espetáculo grandioso, admirável e exemplar.

Numa apoteose final, com musical adequado,
foi projetado um monumento em alegorias
expondo e interpretando os grandes momentos
da trajetória de Vieira na terra;
sua interferência providencial na vida da gente e das nações;
seu apoio e defesa dos deserdados: brancos, indígenas, negros e judeus;
sua atuação nas cortes de Portugal, Itália e Inglaterra;
seus Sermões monumentais, suas Cartas e suas utopias.

Aí se pôde ver Vieira, em toda a sua complexidade,
e até em suas dúvidas, angústias e fraquezas que sempre superou.
Foi mais uma eterna homenagem a este humanista, peregrino da paz.
Foram destacadas as dificuldades e lutas que enfrentou e até os resultados.
Tudo era olhado do lado humano na perspectiva da eternidade.

Pedro e Paulo, com alguns Patriarcas e Profetas, entreolhavam-se
entusiasmados com a vida, vitalidade e versatilidade de Vieira
e com suas ousadias, sua sabedoria, seus ideais
e suas utopias que deixavam os fracos humanos desnorteados.
Os seus talentos, desenvolveu plenamente e os fez render.

Todos davam glória a Deus
por ter conseguido manter no rebanho cristão
um engenho tão forte e de tão altos talentos,
apesar das perseguições e injúrias que padeceu
de pessoas indignas, da própria hierarquia eclesiástica.
Glória a Deus. Vieira enfrentou as contrariedades e venceu.
Foi mais um mártir de uma grande causa.

3. Aclamação de Vieira.

A admiração chegou ao auge,
quando o Pai tirou de sua estante
uma coleção completa e dourada
dos Sermões e da Clávis Prophetarum e os depositou
no altar dos Profetas, dos Sábios e dos Patriarcas.
Nesse altar, estão expostas as obras máximas
dos maiores sábios de todos os tempos e lugares,
como produções máximas dos filhos do Pai,
Criador do Céu e da terra, dos anjos e dos mortais.

De longe vêem-se claramente:
Os Lusíadas, A Divina Comédia, o Paraíso Perdido, Jerusalém Libertada,
a Ilíada, a Odisséia, a Eneida, o Fausto, os Diálogos de Sócrates.
Ali estava também: o Antigo Testamento, o Novo Testamento,
e até me pareceu ver o Alcorão, o Bhagavad Guita e outros mais.

Ao final desta parte de Divina Cerimônia,
o Pai mandou que Vieira subisse um degrau
que lhe serviu de pedestal.
Chamou a mulher mais bela, vestida de luz e de estrelas coroada.
Era Maria, Mãe de Jesus, a Senhora das Maravilhas.
Nas suas mãos, Maria, feliz, segurava uma coroa de louros dourada.
Entregou-a ao Arcanjo Miguel, que a pôs da cabeça de Vieira,
o Guerreiro do Humanismo,
o novo imortal da Acadêmia Celestial.

Todo o céu rompeu em vivas, cantos, palmas
e muitos sorrisos de felicidade. Todos se abraçavam...
Cantava e dançava gente de todos os povos e de todas as línguas,
de todos os tempos e de todas as nações.
Vieira é aclamado como o benfeitor de toda a humanidade,
operário do Evangelho e parceiro do Criador, no conserto do mundo
na consolidação da Praça Universal.
O espírito da sabedoria jorrava a luz da alegria
em todos os corações imortais.

Todos estavam extasiados, solidários e felizes.
Observavam tudo em outras dimensões
que os fracos humanos não conseguem enxergar.
e nem ao menos imaginar por alegorias.
De repente, quando procurávamos entender todo aquele esplendor,
numa luz forte e num nevoeiro, o cenário se desfez.


4. A Festa Popular.

De repente ouviu-se um grande e alegre clamor, um pouco adiante.
A noite chegava e os artistas populares,
ocupantes da celestial mansão tomaram seus lugares, nas ruas e nas praças.
A festa ia continuar.
As pessoas tocaram e cantaram a noite inteira,
com grande animação até o novo dia raiar.

Aí se tocavam instrumentos de todos os tempos
e de todos as nações e etnias.
Eram os índios do Brasil, da Bahia, do Pará,
do Maranhão, de Ibiapava e do Marajó,
de São Paulo e de todo o território nacional.
Eram os negros e os brancos humildes e os judeus perseguidos
que ele defendeu com tanta generosidade e carinho.
Todos festejavam seu benfeitor.

Era um espetáculo múltiplo, indescritível e inimaginável.
Todos prestavam homenagem a Vieira, cada um a seu modo.
Estes também faziam parte do rebanho de Vieira,
que por eles pregou e sofreu afrontas e prisões.

Sempre humilde, cordato e generoso,
Vieira veio participar também da festa do povo.
Ao passar pelas pessoas, a todos saudava, gentil e amável,
como se ainda fosse seu pastor amoroso.

Sempre entusiasmado e maravilhado
esforçava-me para tudo entender e tudo observar. Impossível!
Uma grande luz tudo ofuscou.
Veio de novo o nevoeiro e a cena se desfez.

5. Epílogo: E o Sonho não acabou.
....
De repente ouvi o canto animado e estridente
das maitacas, dos bem-te-vis e dos sabiás,
que nas árvores anunciavam o alvorecer de nosso dia.
Acordei. Percebi que sonhara um belo sonho e sorri, feliz.

O meu sonho registrei:
Peguei uma caneta e um papel e comecei a escrever.
O resultado aqui relatei
para com outros compartilhar o que “vi e ouvi”.
É uma realidade imaginada que só dá satisfação.
Tem um fundo de verdade.
Pensar por parábolas ou por alegorias ajuda-nos a pensar.
Ajuda-nos a compreender um mundo complexo mas real,
que é de outra dimensão
e está muito além de nossa débil imaginação
mas que nos fala alto ao nosso coração.

 

PARTE 4

ANTÔNIO VIEIRA
e a Grande Dívida da Nação.

1. Omissão, Esquecimento e Ingratidão.

Vieira, com toda a sua grandeza que ultrapassava nossa imaginação,
nunca desfrutou das glórias que merecia e de que o povo precisa.
Seus imensos méritos nem foram reconhecidos.
Outros que pouco fizeram, ou que apenas se locupletaram,
foram exaltados e até homenageados.
Alguns talvez tenham até estátua em praças públicas e nos salões.

Esta é a triste sina das pessoas ousadas
que desafiam os detentores do poder,
quer sejam religiosos, quer seja civis ou militares,
dizendo-lhes verdades incômodas, que só os profetas sabem verbalizar.
A força da verdade e da justiça, desarmada,
é calada e vencida pela justiça da força, sempre armada.
A força da razão é vencida pela força do canhão,
nas sociedades totalitárias, na mão dos tiranos.
Como diz Camões: “O mundo anda desconcertado”

Audácias semelhantes a Vieira
levaram muitos à morte, na masmorra, na cruz ou na fogueira.
Assim morreram muitos mártires de todos os tempos,
sem crime real que se lhes pudesse imputar.
São mártires das ciências, das religiões, da política e da civilização.
Cristo, o homem do Evangelho, foi vítima desta torpe “justiça”.
Os deserdados que ele defendia não podiam defendê-lo.

2. Luz e Sombras na Vida.

As pessoas humildes e exploradas, ofendidas em sua dignidade,
os indígenas, os negros e os brancos desprotegidos,
os miscigenados afro-luso-descendentes e os indo-luso-descendentes
não sabiam e nem imaginavam o que Vieira passava
nas mãos de seus algozes. Era coisa inimaginável.
Vieira os defendia, eles aplaudiam, mas não podiam fazer nada,
nem de nada desconfiavam.

Quem seria capaz de ofender um homem santo e sábio?
Vieira é pessoa sagrada, defensor genial dos perseguidos e do seu país.
Mais que tudo, Vieira era um arauto do Evangelho da fraternidade.
Quem seria capaz de humilhá-lo?
Assim pensava essa gente de bem, quase inocente.

Vieira é um fantástico patrimônio nacional dos mais destacados.
No entanto, nem Portugal nem o Brasil,
nem Roma e nem os jesuítas,
nem os índios e nem os judeus.
Poucos lhe deram as honras merecidas! Somos mal agradecidos!

Entre os especialistas de Lisboa, Coimbra e Salvador,
do Rio, Belém, São Luiz, Curitiba ou São Paulo,
poucos fizeram alguma coisa para recuperar tão ricas imagens.
Poucos deram a Vieira as honras merecidas,
por seus feitos e benefícios ao seu país, ao povo e à humanidade.

Fernando Pessoa fez-lhe justiça, colocando-o em um alto pedestal:
“Imperador da Língua Portuguesa” o proclamou.
Poucos lhe fizeram justiça nestes 400 anos de vida.
Talvez agora comecemos a mudar de atitude!


3. Sonegação da Verdade e Ostracismo

Quantos monumentos o Brasil e Portugal
dedicaram aos insigne orador e conselheiro,
ao imperador da Língua Portuguesa?
Muito poucos e muito pequenos.
Quantos painéis com sua figura ilustre estão expostos.
nas casas de cultura, nas bibliotecas e nos salões?!
Quantos painéis, em catedrais e sacristias
da Igreja à qual dedicou a vida com tanta eficiência,
e que tanto defendeu e ilustrou?!

Quantos quadros com sua figura paradigmática estão expostos.
nos palácios de governo e das Secretarias da Educação,
como defensor implacável da independência
e de integridade do Brasil e de Portugal,
e como exímio e exemplar educador?!

Em quantas repartições públicas, no Brasil e em Portugal,
estão expostas suas obras, em lugar de destaque?
Em quantas salas de aula, da disciplina de História,
se relaciona Vieira entre os magnos heróis nacionais?
Entretanto, quem fez mais pela história do Brasil?
Quem superou Vieira num momento dos mais críticos da nação?
Quem escreveu algumas das mais belas páginas de nossa história?

Quem ouviu falar de Vieira
como estrategista da integração nacional,
nas missões de Ibiapaba, Tocantins e Marajó?
Quantos sabem de sua atuação decisiva
para a expulsão dos invasores
que queriam surrupiar quase a metade do Brasil
durante as guerras e intrigas do século XVII?

Quantos sabem dos perigos que Vieira passou pela Europa,
negociando a paz para o Brasil e Portugal,
para garantir a paz e a liberdade de nossos países,
nas cortes da Holanda, da França e da Inglaterra,
em tempos trágicos, de guerra por toda a parte?

Não. Não dá para continuar calado
diante de tal descalabro, de tal injustiça e de tal omissão.
Está na hora de reagir.
Chega de passar ao povo, falsas informações para sonegar a verdade.
É preciso pôr em ordem cada ponto da história.
Há muita coisa essencial fora do lugar.
Precisamos passar a limpo alguns capítulos da nossa história.


4. Recuperando o Acervo Moral

Vieira e o povo merecem justiça.
Quem sonega informações ao povo,
levando-lhe informações trucadas dos interesses em jogo,
ou silencia o que deve falar, comete crime de lesa-pátria.
Não pode ser levado a sério nem pode ocupar cargos públicos,
pois destes se espera que tenham credibilidade e fé pública,
e nessa condição foram contratados.

Como Cipião, o africano, na Roma Antiga,
pela inveja de seus companheiros diante de suas grandes vitórias
e seu prestígio conquistado no campo de batalha,
foi sumariamente banido do Império e esquecido,
assim a inveja, a incompetência e a desinformação,
estão banindo heróis vitoriosos do mundo da educação.
Estão sendo destruídos paradigmas preciosos.
Nosso acervo cultural está sendo destruído na mente das pessoas.

O maior mal que a Inquisição e outros detratores fizeram a Vieira
não foi humilhá-lo, persegui-lo e prendê-lo.
Foi macular um nome nobre e sua gloriosa imagem,
mantendo calúnias e mentiras como verdades, sem as esclarecer,
e sem as contestar, sem dar espaço ao contraditório.
Há muitos espaços para retrucar,
com resposta adequada que não utilizamos.
Criaram neste homem genial, heróico e sério, uma imagem falseada,
uma carga pesada de injúria e descrédito não merecidos,
sem dar espaço aos seus méritos insuperáveis.
Alguns o desprestigiaram com caricaturas difamatórias.
Estão escondendo um riquíssimo patrimônio moral
que pertence a todos. Não é justo. É espoliação.

O povo merece mais respeito a seus bens,
a seu patrimônio cultural e moral.
Não temos o direito de esquecer e até destacar
tão ricos tesouros, tão grande patrimônio nacional,
um patrimônio da humanidade.

Pior que falar mal é esquecer, silenciar.
Está na hora de desmascarar esta farsa
e fazer ressurgir este homem com a glória merecida.
O povo e a nação têm muito a ganhar.
Vieira é um patrimônio invejável.
Mais rico que o ouro das Minas Gerais