GESTÃO: INSTITUTO TROPICAL

______________________________________________________________________________________________________________________________
NOTÍCIA PRÉVIA
-PREÂMBULO-
(Por André de Barros)

Sai a desejada história da Vida do Grande Padre ANTÔNIO VIEIRA, cujas ações foram em tudo sublimes, cujos talentos, sobre o comum da Providência, são eminentes, e cujas virtudes raras.

O Criador ajuntou neste só homem as prendas, que, divididas, podiam ornar e fazer ilustres a muitos; e postas nele, formaram, sem controvérsia, um Herói.

Para não demorarmos esta esperada escritura, a damos ao público, com o sentimento de curta. Mas pode, quem a passar pelos olhos, entender que nos deve a pátria esta mesma dor, a qual nos obriga a queixar-nos, muitas vezes, de que não deixassem os contemporâneos de varão tão esclarecido apontadas as notícias, com que o déssemos aqui coroado com todas as suas luzes.

Sendo tão grande, aqui verá o Mundo o que padeceu na pátria, e quanto foi sublimado fora dela.
Se ainda achar olhos que se ofendam desta luz, achará também outros que chorem a miséria dos primeiros.

Logo que se deu notícia ao Reverendíssimo Padre Geral da Companhia de JESUS de ter passado a melhor vida o imortal VIEIRA, se lhe propuseram três grandes sujeitos para escrever as façanhas e virtudes heróicas deste raro Varão, em línguas diferentes.

Na língua Latina, o Reverendíssimo Padre Leopoldo Fuéz, Confessor que era da Augustíssima Rainha, a Senhora D. Maria Sofia Isabel de Neobourg, de saudosa e imortal memória.

Na língua Italiana, o eruditíssimo Padre Antônio Maria Bonuci.
E na Portuguesa, o Padre Luiz Severim, varão de grande engenho, e que intimamente se comunicava ao Padre VIEIRA.

Estas três Águias tinham digna matéria de si mesmas, no nosso Herói; mas, porque outra não menos elevada significou querer tomar a si esta empresa, julgou a Companhia que devia ceder, e esperar que pena tão ilustre saísse com a sua composição.

Durou muitos anos esta esperança; mas, com outros empregos, este omitiu aquele alto engenho.

Saiu sim, em nosso tempo (e a rogos alheios), de uma pena Portuguesa, mas na língua Castelhana, um Resumo, de quem fora VIEIRA.

Dê-nos licença seu Autor para dizermos, que escreveu sem averiguar ações, nem tempo, e com vício muito ordinário, exagerando, em muitas coisas, o que escreve, e escrevendo outras, que não passaram assim. Mais ajuizou o que podia ser, do que escreveu o que foi.

Não necessita o grande assunto desta História de outras luzes. Só com as suas, sinceras e verdadeiras, sobe à esfera da Heroicidade.

De seus próprios escritos, cujos primeiros originais, que em muita parte tivemos a fortuna de ver, nos valemos para oferecermos à pátria este retrato de um Filho tão benemérito. Tão ajustada, como isto, vai esta cópia ao seu Protótipo.

Encontramos de caminho, entre as mãos dos curiosos, alguns antigos papéis que se atribuem Grande VIEIRA.
Outros que se opõem a alguns ditames seus: tão falsos os primeiros, como mal intencionados os segundos. Contra estes pode o seu magnânimo coração calar-se. Só falou, e sempre como VIEIRA, quando o silêncio fora culpa.

Muitos anos há que intentamos esta escritura. Trabalhamos primeiramente em indagar notícias; mas obstaram contra nós montes.

Já a grandeza do argumento; já o esquisito e importuno das diligências, que deve fazer um Historiador; já a falta de tempo, que o levam todo as obrigações do nosso Instituto.

Chegou quase a render-se-nos o ânimo. O desejo porém de dar à posteridade notícia mais firme de Varão tão único, não fiando da tradição vaga, e confusa suas memórias, venceu toda a contradição.

Trabalhamos, desvelamo-nos, inquirimos. Buscamos luz no Brasil, no Maranhão, em Roma, e outras partes; falamos com testemunhas, que conheceram ao Padre ANTÔNIO VIEIRA, e com outras, em cuja erudição estava confiante a memória de suas gloriosas ações Políticas, Sábias, e Apostólicas.

Achamos notícia de haver um livro com título:
DIES MEMORABILES PATRIS ANTONII VIEYRA.


Se na verdade o houve entre seus papéis, nele perdemos um raro tesouro, com que, depois de sepultado, renasceria muito mais glorioso nesta História o nosso Fênix Português. Mas ou está bem guardado em Portugal, ou no Brasil , ou com outros preciosos escritos passou a Itália , como temos por provável.

O que achamos de sua própria letra, como já dissemos, e podia servir a esta História, quisemos pôr pelas suas mesmas palavras, contentes de levar matizada esta obra com suas mesmas luzes.

Procuramos também variá-la com algumas notícias, que não são triviais, e que a mesma História, natural e oportunamente, chamava, para que supra a jucunda variedade das coisas, a menos elegância da nossa pena.

Sendo pois a verdade alma da História, não escrevemos coisa que não tirássemos de documentos dignos de toda a fé. O que não tinha para conosco esta autoridade, totalmente o deixamos, querendo antes calar ilustres glórias, que escrevê-las menos averiguadas.

Saiba, enfim, quem ler esta história, que voluntariamente omitimos algumas notícias que podíamos dar deste esclarecido varão; umas por muito idênticas, outras por não acrescentarem nova singularidade ao nosso argumento.

Ninguém nos poderá negar que deve o Historiador ter seleção do que há de escrever.

Há coisas que desdizer, ou da gravidade, ou da formosura da História; e tão acertadamente se referem umas ações, como se calam outras, ainda que virtuosas.

Dada esta preâmbula notícia, entremos a ver nesta pintura, qual é a face dos Heróis.

LEIA O LIVRO EM PDF