VIEIRA,
EIXOS ARTICULADORES
DE SUA OBRA MÚLTIPLA.
......I.
Apresentação: Unidade na multiplicidade.
......1.
As pinceladas dos quadros que aqui apresento, são apenas esboços
de uma visão panorâmica de uma personalidade de múltiplas
dimensões. Para entender Vieira, só convivendo com ele em
suas obras.
......Estas páginas podem mostrar alguns
caminhos que podemos trilhar para começar a entender a grandeza da
obra deste homem gênio e as forças motrizes que lhe dão
unidade na multiplicidade.
......Aqui procuro apresentar, em rápidas
pinceladas, o que procurei e vi em Vieira: o que cada um pode ver e descobrir
para começar a entender a sua grande obra humana, política
e artística, a partir de algumas coordenadas que apontam seus paradigmas.
......Não podemos continuar a ver Vieira
como o paraquedista míope, sem óculos e estúpido que
após uma pane em seu avião, na década de 50 (séc
XX), desceu de paraqueda num bairro de São Paulo da região
dos Jardins, numa rua muito limpa de casas de bela arquitetura, muito larga
e muito arvorizada; tem casas que parecem palácios e belíssimos
carros. Então ele se comunicou com sua base, no país distante,
informando que não sabe em que país chegou, mas que, neste
país só tem carros novos, último tipo, e que todos
parecem muito cultos, reservados e analfabetos pois ninguém entende
a língua dele. Faltou-lhe a visão de um conjunto, onde veria
os contrastes da vida real.
......2.
Após longos anos de estudo, de muitas leituras e de múltiplas
experiências, começo a me encontrar com Vieira, frente a frente,
em sua complexa e múltipla obra. Compreendê-lo
plenamente é impossível. Afinal, Vieira é uma “obra
aberta” que admite muitas interpretações, desde que
sustentáveis.
......Sabendo que “a letra mata e o espírito
vivifica”, procuramos olhar Vieira a partir das idéias
motrizes de sua ação.
......Vieira é um personagem que vive
em suas obras e em nosso imaginário cultural, como um ser “vivo”
que age, reage, aconselha, admoesta e ensina. É um mestre que ninguém
mais pode calar. Aqui tento esboçar um “Vieira” que eu
“vi” e “ouvi” ao analisar a sua obra complexa.
......Vieira é uma constelação
de muitas estrelas de primeira grandeza. É desse Vieira
múltiplo que passo a falar, em breves painéis de sua trajetória
cativante e desafiante.
......3. Em certa ocasião, após uma palestra sobre as dimensões históricas e atuais da obra de Vieira, um estudante muito interessado me abordou perguntando: “- O que mais o senhor viu em Vieira que garante ao grande pensador dimensões históricas e atuais, para além do tempo e do espaço? É possível, em poucas palavras, apontar caminhos de pesquisa sobre tais dimensões?” O que respondi é o que tento propor neste ensaio, deixando claro que, simplificar assuntos complexos pode dar margem a muitas dúvidas que os interessados precisam saber estudar e pesquisar posteriormente.
......4.
Vou tentar apresentar, sumariamente, alguns dos grandes momentos e valores
que vi em Vieira. Vi, sim, no meu espírito e em minha mente. Esta
visão também o leitor pode vivenciar, lendo e refletindo sobre
a obra monumental e multifacetada de Vieira.
......Como Vieira é uma obra aberta,
é necessariamente múltipla. É preciso entender os pilares
e os grandes eixos que articulam esta grande obra deste
gênio.
......A partir desta base, cada um encontrará
um Vieira diferente, adequadas às coordenadas do próprio histórico
subjacente na vida do leitor. Fato é que cada leitor põe na
leitura as próprias experiências que alicerçam sua competência
de interpretação e de vivência.
......A relação de eixos articulares
da obra de Vieira não se propõe ser exaustiva. É apenas
um esboço de trabalho mais amplo.
II. Dimensões do Pensamento e da obra de Vieira
......Vieira foi um homem universal.
Seu pensamento é plenamente atual: é um pensamento de sempre.
Vieira é um clássico.
......Neste texto me posiciono como um estudioso
viajante que narra sua viagem atemporal pelos grandes momentos da obra de
Vieira, apresentada em painéis panorâmicos e breves. Venha.
Vamos juntos percorrer os 27 painéis desta exposição.
Detecte outros painéis. Eles existem nessa obra gigantesca.
......1.
Amigos eu vi...
......Eu vi em Vieira o humanista vigoroso,
coerente e lúcido, de visão holística, de mente aberta,
comprometido com a verdade e com a dignidade da pessoa humana;
......Eu vi em Vieira um orador magnífico
e vibrante; suas palavras movendo as consciências das pessoas,
fazendo-as pensar; sua oratória implacável fazendo as pessoas
se reencontrarem consigo e com Deus; fazendo os corruptos tremerem; os exércitos
se abalarem, os inimigos retrocederem e até as pedras se moverem.
......Nada fica inerte quando Vieira fala.
O povo fraco, forte se descobre. As pessoas humildes recuperam a auto-estima.
Os grandes descobrem sua pequenez e sua honra.
......Vieira foi sempre considerado o Príncipe
dos Oradores Evangélicos.
......2. Eu vi, em Vieira, um homem simples, de porte nobre, resoluto e convicto; um homem comprometido com seu povo, nos parâmetros da ética cristã e humanista; um defensor intransigente da dignidade da pessoa humana, na qual não pode faltar a liberdade; um homem que rejeita toda a injusta discriminação e toda a espécie de escravidão; um homem que vê no ser humano um indivíduo sujeito de direitos e deveres, que deve ser responsável, solidário e dedicado. Que rejeita sujeições injustas e paternalismos.
......3.
Eu vi Vieira manifestar sua vontade de ação apostólica,
voltada preferencialmente para o povo sofredor, para os humildes, para os
discriminados, para os negros e para os indígenas e para os brancos
empobrecidos. Lutou, toda a sua vida, por uma sociedade de liberdade, justiça
e bem-estar, sem miseráveis, sem discriminados e sem excluídos,
onde se respeite também a diferença e a individualidade de
cada um.
......4. Vi Vieira, rezando diante da imagem da Senhora das Maravilhas, pedindo à santa que o abençoasse e lhe desse mais acuidade intelectual, mais segurança e mais ousadia, pois era um menino tímido. Ali mesmo aconteceu o milagre: o menino acanhado sentiu sua mente se iluminar e seu espírito desabrochar exuberante como as flores ou o sol em plena primavera. Passou a ser um estudante brilhante dedicado e atento, com grande capacidade de compreensão, de comunicação, de lucidez e de interação humana.
......5. Eu vi o jovem Vieira, ainda noviço, com menos de 20 anos, andando atarefado, pelas aldeias da Bahia, em Salvador e arredores, assistindo ao povo e levando-lhe conforto e esperança, quando as invasões holandesas a todos inquietavam, matavam os homens e destruíam os engenhos e queimavam as plantações, para espalhar a fome e render o povo. Na carta ânua de 30/09/1626, Vieira narra estas peripécias com grade vivacidade.
......6.
Eu vi Vieira, após invasão holandesa à Bahia, com a
depredação dos engenhos e das plantações, fazer
um trabalho incansável para motivar o povo, de aldeia
em aldeia, para que se preparassem para expulsar o invasor e recuperar a
própria independência. Apesar da superioridade do inimigo,
este foi expulso e a vida da Bahia retornou à normalidade. Um líder
consciente e dedicado faz forte o fraco povo. Isto foi o que a Bahia comprovou
diversas vezes.
......7. Eu vi Vieira pregar o seu segundo grande sermão, dedicado aos negros escravos. É, sem dúvida, emblemático, Vieira, no púlpito, pensando nas pessoas mais humildes da sua terra.
......8.
Amigos, eu vi...
......Sim, eu vi, mais tarde, Vieira preocupado
na redação de sua obra magna, a Clavis
Prophetarum (Chave dos Profetas), obra que ficou inacabada, posto
que toda criada em sua mente. Vi que essa obra trata “do Reino
de Cristo, na Terra Consumado”. Um reino de paz, de justiça,
de liberdade e de fraternidade.
......Para Vieira, a “Chave dos
Profetas” era sua obra máxima, a sua obra-prima: a
obra que daria sentido à vida cristã na terra dos homens.
A obra em que ele pensou por mais de 50 (cinqüenta) anos. Foi sempre
uma obra emblemática, sempre presente em sua ação e
em seus ideais.
......Compreendi então, que esse reino
de paz e de justiça na terra sempre foi a base motriz
de sua ação humana e apostólica.
......Compreendi que o reino de Cristo tem
sede na terra, no coração e na mente das pessoas, no seu percurso
rumo à eternidade.
......Compreendi que não só
de pão vive o homem, mas que sem o pão não
sobrevive.
......Compreendi porque Cristo fez o milagre
da multiplicação dos pães e dos peixes, após
seus ensinamentos.
......Compreendi porque Vieira sempre lutou
pela justiça e pelo bem-estar de seu povo.
......Compreendi que evangelizar é levar
liberdade, a justiça, a solidariedade, a fraternidade, a responsabilidade
e o bem-estar espiritual, mental e material ao povo.
......Compreendi que devem ser cultivadas todas
as dimensões da pessoa humana, na esfera espiritual e na material,
para que o ser humano não se sinta mutilado e desajustado...
......Compreendi que evangelizar é conscientizar;
é civilizar; é levar cada pessoa a assumir, com dedicação
e competência, a luta pelo bem-estar de seu povo; é lutar contra
toda e qualquer manifestação de discriminação
social, incrementando a convivência harmoniosa.
......Compreendi que, para Vieira, a vida dos
humanos, em sua peregrinação terrestre, não é
antagônica com esperanças futuras, em outras dimensões.
......Então compreendi porque Vieira,
desde o início de sua ação pastoral e missionária,
fez votos de se dedicar, preferencialmente, ao povo simples das aldeias
muitas vezes explorado. Nunca porém, deixou de respeitar as pessoas
que já tinham alcançado o bem-estar com mais qualidade de
vida. Estas precisam menos de sua proteção. Não criou
conflitos entre ricos e pobres. Apenas fulminou as injustiças e as
descriminações e os abusos de quem quer que seja. Foi um homem
justo.
......9.
Eu vi e compreendi a verdade e o sentido profundo da ideologia
do 5º Império.
......Compreendi que esta ação
integrava seus ideais do quinto império, que era
o “reino de Cristo implantado na terra”: um reino onde todos
convivessem, cooperassem e se respeitassem mutuamente como irmãos.
......Esta era a grande utopia
que foi a força motriz de toda a sua múltipla
ação; um bela utopia com que muitos ainda sonham; que sempre
haverá idealistas capazes de sonhar que é possível
criar um mundo melhor, onde os bens espirituais e os materiais não
se excluam nem se confundam em trajetória terrena dos seres humanos.
......A grande utopia do 5º Império
é a base de todo o seu ideário, nos Sermões,
nas Cartas e na atuação política e
missionária. O quinto império é uma
questão ideológica, antes de ser proposta a política”.
.....Vieira sempre pensou grande. Nunca se
apequenou. Pensou em todos os homens, de todas as etnias, de todos os povos
e de todas as condições sociais. Pensou em dimensões
mundializadas, universais.
......Vieira posicionou-se como arauto do Deus
do Bem: do Deus Universal que a todos iluminava e conduz. Atuou como arauto
de um plano fantástico que era a implantação do Reino
de Cristo na terra: um reino de justiça, de paz e de fraternidade.
Vieira colocava-se quase como o João Batista desse reino. A “Chave
dos Profetas” era seu texto básico, sua força
motriz, sua bússola, baseado no Evangelho e na Bíblia.
......Este ideário os olhos e as mentes profanas não conseguiram ver. Muitos, não entendendo, ainda zombam, com um riso traiçoeiro e matreiro. É que o ser humano, que não sabe sonhar e buscar seus sonhos, não sabe viver. Por outro lado é sabido que os ignorantes e os pigmeus sempre riem dos sábios. Como diz conhecido provérbio: “os cães latem e a caravana passa”.
......10.
Amigos, eu vi...
......Vi Vieira iluminado, nos púlpitos
do Brasil, de Portugal e de Roma, quase arrebatado, pregando seus sermões
magistrais. Eram verdadeiras aulas magnas para
instruir o povo e os sábios que o ouviam. O púlpito sempre
foi a grande e magnífica Cátedra de Vieira,
numa universidade sem fronteiras, sem discriminação e sem
complexos.
......Eu vi reis, rainhas, príncipes,
ministros, secretários e intelectuais; Vi também papas, cardeais,
bispos e padres; Vi os catedráticos da Universidade
de Coimbra; Vi generais e soldados, na Bahia e em Lisboa; Vi o povo e todos
atentos, sem pestanejar, ouvindo os magníficos sermões de
Vieira.
......Vi toda essa gente acorrer aos templos
e catedrais, para ouvir atentamente as lições vitais que Vieira
ia buscar na Bíblia e em sua experiência para instruir seu
povo. Pregava a justiça e a paz entre todos.
......Vieira foi o Imperador do Púlpito,
onde reina eternamente. Sempre pregando uma fé operosa, transformadora,
libertadora
......11.
Senhores e Senhoras, eu vi e ouvi.
......Vi e ouvi Vieira postado, enérgico,
decidido e cordial, no pináculo do templo, no púlpito
sagrado, tribuna do Semeador da Palavra.
......Vi aí, o grande Vieira, qual Davi
frente a frente com o gigante Golias. Sempre disposto a destituir todas
as forças negativas que causam injustiças, inquietações
e os sofrimentos às pessoas, que são os eternos Golias que,
nas sementeiras boas, sempre semeiam a Cizânia para prejudicar a produção
do trigo. Sempre espalham sementes de maliguidade e destilam ódios
incontidos no coração das pessoas. O orador exorciza “Golias”.
Manda-o para longe da sementeira.
......Vi Vieira inflamado, vibrante, inspirado
e iluminado, pregando o eterno Sermão de Santo Antônio
aos Peixes, tomando como paradigma da doutrina ou como pedras da
sua funda, o polvo, o pegador, a rêmora e o peixe voador, para ajudar
a corrigir os defeitos do seu povo amado.
......Lá está, no púlpito,
vibrante de calor evangélico; lá está o anjo da vida
e da esperança, apontando o caminho com sua espada de Luz.
......Interpela a nau-cobiça, a nau-vingança,
a nau-soberba, a nau-sensualidade e tantas outras naus nefastas à
paz e à justiça que navegam nos mares da vida humana.
......Vi e ouvi Vieira, nos Açores,
após terrível naufrágio, pregar ao povo como novo Jonas,
a partir dos exemplos vitais de Santo Tereza.
......Vi e ouvi Vieira, na Capela Real, em
Lisboa, figurante de Luz e divina inspiração, como que iluminado
pelo Espírito Santo, fervendo de calor humano, pregando o Sermão
da Sexagésima. Demonstrou, como fazer para que a semente,
que o semeador espalha, caia em terra boa e dê bons frutos, ajudando
a corrigir as mazelas da sociedade, as injúrias, as vaidades, as
pusilanimidades, as vilezas, as traições, as falcatruas, as
conspirações.
......Vi e ouvi Vieira, também em Lisboa,
na igreja da Misericórdia, pregar o inflamado e veemente Sermão
do Bom Ladrão. Vieira passou a limpo as regras básicas
do convívio humano, da justiça, com os direitos e deveres
de cada um para com seu próximo e a responsabilidade mútua
e a solidariedade de todos para o bem ou para o mal.
......Vieira demonstrou que “nem os reis
podem ir ao paraíso sem levar consigo os ladrões, nem os ladrões
podem ir ao inferno sem levar os reis”.
......Ouvi, ainda mais eufórico, Vieira
pregando o Sermão da Epifania, na Capela Real. Vi
o Pastor orador brandindo o seu cajado para defender a liberdade dos índios
naquela que certamente foi a maior história missionária de
toda a história da Igreja e que Vieira via esvair-se pela violência
de pessoas sem escrúpulos. Neste Sermão ele defendeu suas
ovelhas das mãos dos lobos, num dos Sermões mais veementes
eloquentes que já se pregou em púlpito cristão. Ao
ouvir tão enérgica e sentida defesa, vi o povo chorar. Até,
no trono, a rainha chorou... Chorou pelo brilho e carinho sincero que sentiu
nos olhos, nos gestos e nas palavras de Vieira, pelo rebanho ferido e abandonado
às "feras".
......Vi e ouvi Vieira, em milhares de sermões
que pregou pelo mundo afora, e principalmente nas duas centenas que teve
tempo de escrever por inteiro.
......Li e ouvi Vieira falar à gente
responsável de Portugal, do Brasil, da Itália, da França,
da Holanda, da Inglaterra e da Espanha, escrevendo suas cartas, dando seu
recado sempre lúcido, sempre vital, sempre pertinente e sempre atuante,
em seus magnos e inspirados Sermões.
......No púlpito ou nas cartas, Vieira
foi sempre o profeta veemente em seu discurso forte e energético.
Foi sempre luz, sempre fermento transformador, sempre pastor, sempre mestre,
sempre bom Semeador, sempre genial, sempre águia voando, como águia
real.
......Olhando fundo nos Sermões de Vieira
vi que eles são de pleníssima atualidade e estão em
pleno vigor. Isto me levou a exclamar: Vieira, quanta falta nos fazes em
nossos dias. Volta, multiplica-te, vem pregar de novo seus grandes Sermões
por toda a cidade e capitais do nosso mundo. Desmascara toda a desfaçatez
que alguns teimam em perpetuar. Teus Sermões fariam nosso mundo muito
melhor, com mais luz. Como antes, muitos te rejeitariam e te injuriariam.
Afinal pessoas de ética precária existem em todos os tempos
e em toda a escala social e gente malvada também.
......12.
Vi Vieira deixar a Bahia, com destino a Lisboa, para homenagear e prestar
vassalagem ao novo rei restaurador, em nome do Brasil.
......O rei Dom João IV logo pressentiu
a genialidade, o espírito ousado e alta visão estratégica
de nosso Vieira. Convidou-o para seu conselheiro e pregador oficial.
O rei viu em Vieira, um homem sábio, leal e dedicado. Por isso o
chamou.
......Em 1646 o rei nomeou-o para altas missões diplomáticas,
à Holanda, à Florença, à França e depois
a Roma e a Nápoles. Tratava-se de buscar apoios diplomáticos
para alcançar a paz e obrigar a Espanha a respeitar a soberania e
a independência de Portugal. Tratava-se também de levar a Holanda
a terminar suas agressões ao Brasil e abandonar suas pretensões
de conquistar nosso país.
......É sabido que as invasões
holandesas ao Brasil, tinham tomado dimensões insuportáveis,
dado o poderio militar daquele país. Era preciso encontrar os rumos
da paz. Era uma missão muito difícil e muito perigosa. Exigia
coragem e generosidade, muito saber e muita prudência e ousadia.
......Vieira conseguiu comprar da Holanda navios
e munições e manter o diálogo aberto.
Superou as expectativas possíveis de um diálogo possível
com uma potência guerreira como era a Holanda que tinha uma marinha
muito bem equipada. Holanda era considerada a maior potência naval
do séc. XVII.
......13.
Vi Vieira assumir uma missão muito arriscada: a defesa dos
judeus portugueses. Este era um assunto tabu, em Portugal e na
Espanha. Vieira
o enfrentou, com os riscos esperados. Conseguiu muitos benefícios
para esse povo a quem muito respeitava e por quem era muito respeitado.
Chamava-o o povo da esperança.
......Na Holanda, dialogou longamente com os
judeus portugueses. Tratou de assuntos econômicos comerciais e até
religiosos. Dialogou com judeus portugueses também em Ruão,
na França.
......Os judeus, cristãos-novos, embora
tivessem sido expulsos de Portugal pela Inquisição, cooperaram
efetivamente com os projetos de Vieira. Tinham imensa estima por Portugal,
sua pátria.
......Abriu-se, nestes fatos, mais uma
página de ouro na história de Vieira. Uma página
repleta de respeito, de dignidade, de generosidade, de patriotismo e de
esperança. É mais uma página que se articula com a
Chave dos Profetas.
......14.
Vi o entusiasmo das pessoas de todos os níveis sociais
saindo entusiasmados com as lições do mestre pregador.
......Mas vi também alguns saindo resmungando,
comentando com os outros, parecendo dar início à armação
de alguma vingança, armando alguma conspiração.
......É que Vieira, como os profetas,
dizia o que precisava ser dito. Falava para corrigir e iluminar e não
para aliciar e agradar.
......Neste sentido, muitos de seus sermões
caíram nos ouvidos como potentes bombas capazes
de estilhaçar injustiças, vaidades, deslealdades e corrupções.
Foi assim o Sermão da Sexagésima, em Lisboa;
foi assim o Sermão de Santo Antônio aos Peixes,
em São Luís do Maranhão; foi assim o Sermão
da 5ª Dominga da Quaresma; foi assim o Sermão
do Bom Ladrão; foram assim, muitos outros sermões
e cartas.
......É fato que Vieira foi um homem
ousado, destemido. Foi um homem intransigente diante da mentira, da falsidade,
da corrupção e da injustiça. Nunca foi frouxo; nunca
foi morno...
Vieira falava e agia como um homem iluminado, cheio do Espírito Santo...
......Bem sabia que os conspiradores um dia
se vingariam. Como não é possível
agradar a gregos e a troianos; a Deus e o Satã; o troco era de se
esperar. A história é recheada de exemplos de terríveis
vinganças contra pessoas de bem. Transformar a vítima em culpado
não é apenas um cacoete da modernidade.
......Para piorar a situação,
o rei Dom João IV morreu em novembro de 1656. Com este fato, Vieira
perdia o seu grande esteio, o seu protetor, o seu ponto de apoio, o seu
estimulador e a sua força.
......15.
Amigos, eu vi...
......Vi o inacreditável. Vi o “povo”,
sublevado, e os soldados pegarem Vieira à força e conduzí-lo
preso a uma nau, que o levaria de volta a Lisboa, junto com outros
jesuítas. Que
“povo” teria feito isso?! O Vieira, sempre aclamado, como Cristo
no Domingo de Ramos, era agora condenado, como Cristo na sexta-feira Santa.
Isto é manipulação política... Isto é
uma criminosa armação...
......Isto foi em 1661, em Belém do
Pará. Vieira estava com 53 anos. Situação terrível,
inaudita. O arauto da liberdade e da dignidade humana era
preso com violência e quase arrastado como malfeitor. Aconteceu durante
as missões Amazônicas.
Este fato marca o triste e trágico fim de tanto trabalho e desvelos.
......Motivo:
Vieira proibia a escravidão indígena; exigia apenas o cumprimento
das leis. Pagou alto preço por sua fidelidade à missão
de defesa da liberdade dos indígenas.
Com Vieira vão de volta, para Lisboa, presos, mais 17 jesuítas.
......16.
Como é sabido, a desgraça sempre acompanha os grandes gênios.
Algo estranho se sentia no ar.
......Vieira prega, na Capela Real, o grande
Sermão da Epifania, sobre as missões. Foi
muito bem recebido. No ar algo estranho se anunciava. Revolução
palaciana destitui a Rainha regente e proclama Afonso VI, de apenas 19 anos
(1662). Sobem ao poder, os desafetos de Vieira. Os algozes lutam e perseguem-no
em campo aberto.
......17.
Na seqüência, vi outras coisas inacreditáveis:
......Vi Vieira perdendo o seu prestígio,
na corte de Lisboa, com a destituição da Rainha Regente. Enfraquecidas
as forças que o apoiavam, levantaram-se seus inimigos, que há
muito conspiravam.
......Vi Vieira sofrendo nas mãos sádicas
dos inquisitores. Por cinco anos, Vieira não pode
pregar nenhum de seus sermões. Adoeceu gravemente. Foi detido. Foi
preso. Atendeu a inúmeros interrogatórios, alguns altamente
ofensivos. Escreveu sua defesa que não foi levada em conta. Foi ameaçado
como delinqüente...
......Vieira bem sabia que os inquisitores
tinham o poder da vida e da morte. Tudo suportou.
......Vieira deve ter lembrado, apreensivo,
da última estrofe do 1º Canto de “Os Lusíadas”,
de Camões:
..................No
mar, tanta tormenta e tanto dano
..................Tantas
vezes a morte apercebida!
..................Na terra, tanta guerra, tanto
engano,
..................Tanta
necessidade aborrecida!
..................Onde
pode acolher-se um fraco humano,
..................Onde
terá segura a curta vida,
..................Que
não se arme e não se indigne o céu sereno
..................Contra
um bicho da terra tão pequeno?
......O processo de Vieira,
na Inquisição, foi em teatro pouco digno para as pessoas que
comandavam o enredo.
......Como estava previsto, desde o início,
Vieira foi condenado.
......Pude ver que Vieira jamais cedeu em suas
posições; jamais se acovardou; jamais se apequenou. Mas nunca
se negou a explicar suas teorias. Os inquisitores não queriam explicações.
Dispensaram sua defesa.
......Na realidade ficou provado que os inquisitores
que julgaram Vieira eram seus inimigos e inimigos da Companhia de Jesus.
Alguns eram opositores da restauração da independência
do país, que Vieira defendia. Eram inimigos do Rei, mascarados.
Isso Vieira denunciou com todas as letras e ousadia, ao apresentar sua defesa
em Roma . O Papa absolveu integralmente a Vieira e libertou-o da
jurisdição da Inquisição de Lisboa,
chamando-o “dileto filho”. O Papa tratou Vieira
com a veneração que se dispensa aos mártires,
aos heróis da fé e da humanidade.
......Custa a acreditar que as forças
do mal se armem, com tanto sadismo e ódio, contra um homem da estatura
de Vieira, que passou pela vida fazendo o bem. Mas isto é comum na
história dos homens.
......Embora injustificável, não
é novidade no contexto da ferocidade de certos seres humanos. Efetivamente
o poder cria monstros terríveis entre os seres humanos, em todos
os níveis da escala social.
......Amigos eu vi o cenário se mudar
e nova esperança se acender.
......18.
Vi Vieira dirigindo-se para Roma. Precisava contar às autoridades
maior da Igreja Católica os desmandos e maracutais da Inquisição
de seu país e as falhas legais de processo, que praticaram para poderem
condená-lo.
......Outras missões o chamavam a Roma.
......Entretanto, sua fama de pregador já
tinha chegado ao centro do poder mundial.
......Pude ver, e só não vê
quem não quer. Pude ver Vieira recebido com muito carinho em Roma.
Aí pregou... grandes sermões e teve os mais seletos e privilegiados
ouvintes.
......Vieira contou com grande respeito e carinho
do Papa, dos Cardeais, dos Bispos, dos Diplomatas, dos Intelectuais e do
Povo. Destaque especial merece a rainha Cristina da Suécia e o P.
Geral da Companhia de Jesus.
......Quando chegou a hora, encerradas suas
missões, volta para Lisboa. Rejeita os muitos e honrosos convites
para ficar em Roma. Os seus ideais exigiam que deixasse o carinho e os mimos
de Roma.
......Sua missão ainda tinha outros
capítulos a escrever em outras plagas mais distantes. Vieira
estava com 67 anos. Em Roma tudo lhe era benfazejo. Saindo, tudo lhe era
incerto e imprevisível. Mas precisava prosseguir sua peregrinação,
seguir o destino que uma providente mão oculta lhe iria mostrando...
......19.
Amigos, eu vi.
......Vi Vieira peregrinando pelos quatro cantos
do mundo. Foi peregrino por destino e por missão. Ia por toda a parte,
fosse onde fosse, custasse o que custasse, para dar conta do recado e cumprir
seus compromissos com seu Deus, com seu povo, com seu país, com seu
rei, com sua ordem religiosa, com a humanidade e com sua consciência.
......Por toda a terra, por mares e rios, lá
ia Vieira, onde o chamassem ou onde o mandassem. Muitas e muitas vezes correu
risco de vida. Nunca temeu. O dever sempre falou mais alto que os perigos.
......Em tempos de navegações
precárias, atravessou sete (7) vezes o Atlântico; fez diversas
viagens marítimas entre o Nordeste e o Norte do Brasil; viajou pelos
grandes rios da Amazônia: Rio Amazonas, Rio Tocantins, etc, etc, em
canoa dos índios; atravessou grandes e pequenos rios, a pé,
a nado e de canoa, principalmente no caminho de Ibiapaba.
......Lembramos que as grandes viagens, até
o séc XVII, eram grandes e arriscadas aventuras.
......Viajou de navio pelos mares do Norte
da Europa e pelo Mediterrâneo, em seus percursos para Roma, para Frorença
e para Napólis e por outras cidades da Itália.
......Viajou para a Holanda, para a França
e para a Inglaterra, pelos Mares do Norte.
......Navegou por rios, viajou a pé,
entre o Mediterrâneo e os Mares do Norte, atravessando a França
de mar a mar.
......Andou a cavalo e a pé pelos caminhos
da Itália, da França e da Holanda, de cidade em cidade.
......Isto fez, mais longamente, pelos caminhos
de Portugal do séc XVII.
......Palmilhou milhares de léguas por
cidades do Brasil, a pé, a cavalo e de jegue, com o seu bordão
e sua cabaça de água pendurada às costas.
......Sofreu naufrágios terríveis
na travessia do Atlântico, nos Mares do Norte e nos rios do Brasil.
......Foi preso e expoliado diversas vezes
por piratas dos mares, no Atlântico e nos Mares do Norte.
......Foi ameaçado por índios
que ainda não conheciam, em suas missões; foi ameaçado
por brancos que discordavam de sua missão.
......Nos seus 90 anos, fez inúmeras
viajens, pelos mais diversos meios e lugares, para dar conta de seus compromissos.
Foi sim, um peregrino por missão.
......Pouca gente viajou tanto como ele, em
toda a história, até o século XVII.
......20.
Amigos, eu vi.
......Eu vi Vieira voltar à sua Bahia,
em 1681. Sua principal missão agora era retocar os seus Sermões
para que fossem publicados. A Quinta do Tanque, nos arredores
de Salvador foi o seu refúgio onde teve o clima propício à
criação e à reflexão. Desfecho imprevisível
e inesperado. É que a Providência sabe mais que os fracos humanos
e lhes causa surpresas...
......Tinha agora 73 anos. A Quinta
do Tanque é a oficina onde se dá o retoque
final dos Sermões. Completa 12 volumes, com a ajuda do Pe
José Soares. Escreve outros textos e cartas. Passa uma vida tranquila,
voltada ao estudo e produção literária. Não
abandona seus ideais pastorais de missionário. Continua defendendo
os mais fracos e pregando um mundo de justiça, fraternidade e paz.
......Um homem ativo e ousado como Vieira tem
dificuldade em se confinar nas quatro paredes de uma cela, por mais nobres
que fossem objetivos. Mas a isso se conformou, pois bem sabia que essa era
a nova missão que o esperava.
......21.
Eu vi o pastor cuidar de suas ovelhas, de seu rebanho. Mesmo em idade avançada,
com sua obra preciosa para polir e organizar para a posteridade, Vieira
volta à pastoral.
Assim sendo, ainda teve tempo para exercer, por três anos, a função
de Visitador Geral da Companhia no Brasil.
...... Certamente Vieira passou ainda muitas
vezes diante da imagem de N.S. das Maravilhas, que lá continuava
em seu belo altar, na Igreja do Colégio. Foi ela que lhe fez o milagre
pedido, na sua longínqua adolescência. É fato que não
se esquece.
......Sem dúvida que perambulou muitas
vezes pelas ruas de sua amada Salvador, a Atenas brasileira,
olhando e conversando com aquele povo a quem tanto se dedicara.
......Nessas andanças pela cidade, deve
ter lembrado e rememorado as trágicas e gloriosas lutas contra o
invasor holandês e seus inflamados sermões em defesa da Terra...
......Em Salvador, Vieira estava no seu lar,
na terra de sua adolescência e de sua juventude... Ele estava muito
mudado, e a cidade também... Mas o carinho não envelhece.
......Já muito doente acaba seus dias
no Colégio dos Jesuítas, numa cela no final do corredor, ao
lado da Sacristia da Igreja do Colégio, que hoje é a Sé
Catedral.
......Da sua cela, Vieira tinha uma vista privilegiada
para a Baía de Todos os Santos. Aí deveria recordar os dias
memoráveis que antes vivera na Bahia, na adolescência e na
juventude.
......Rememorava o susto provocado pela chegada
das naus invasoras e depredadoras dos holandeses e também a chegada
da frota do Reino que expulsou o inimigo, com ajuda do pessoal da terra.
......Dessa janela ele deve ter sonhado muito,
vendo os magníficos pôr-do-sol na Baía, por detrás
dos navios de carga que passavam.
......Visitar a cela de Vieira faz parte obrigatória
dos vieiristas que visitam a Bahia. Ir a Salvador e não visitar a
cela de Vieira, é como ir a Roma e não ver a Basílica
de S Pedro ou o Coliseu. Aí é um lugar propício para
uma breve meditação silenciosa.
......22.
Vi Vieira gerenciando o mais variado rol de atividades, em toda a sua vida.
Além de ter sido um grande teórico, revelou-se também
um homem comprometido e envolvido em questões práticas. Foi
um grande gestor e um grande estrategista.
......Vi Vieira traçando a estratégia
de fuga dos índios de Salvador, após invasão holandeza
à Bahia.
......Vi Vieira traçando estratégia
de inúmeras viagens, evitando seus inimigos.
......Vi Vieira na Côrte aconselhando
o Rei D. João IV, mostrando-lhe a melhor estratégia.
......Vi Vieira, nas Missões da Amazônia,
traçando estratégia de estabelecer alianças com os
índios, no Tocantins, em Marajó, em Ibiapaba, no Maranhão,
etc,etc.
......Vi Vieira traçando a estratégia
no trato com a Inquisição e com os Cristãos-novos.
......Vi Vieira traçando a estratégia
para ir a Roma denunciar os desmandos da Inquisição e depois
a complexa estratégia para seu documento chegar às mãos
do Papa.
......Vi Vieira, de volta ao Brasil, traçando
a estratégia para últimar e levar à publicação
as suas jóias da coroa: os seus Sermões.
......Vi Vieira ainda encontrando tempo para
ser Visitador das Missões Jesuíticas; etc, etc.
......23.
Aos 18 de julho de 1697, vi Vieira morrer, feliz, em paz com a vida, com
Deus e com o mundo. Vi que até a última hora Vieira ainda
se preocupava com a sua obra magna e profética
a “Clavis Prophetarum”, que ficou
inacabada. O destino quis que assim fosse e está bem assim. O mistério
também fala alto.
......Infelizmente ninguém se sentia
em condições para terminar esta obra magna. Certamente foi
melhor assim... Todos sabemos que os gênios imortais não morrem
nunca.
......24.
Tentei acompanhar Vieira na fase póstuma. Observei a atenção
que a Companhia e a alta sociedade lhe dedicou nas exéquias solenes,
em Salvador. Vi
também as exéquias soleníssimas celebradas em Lisboa,
muito bem descritas pelo P. André de Barros. Foram exéquias
dignas de um herói, de um grande líder, de um grande conselheiro,
de um grande pensador, de um Imperador do Bem, organizados
pelo Conde de Ericeira.
......Folhei atentamente a obra de P André
de Barros, “Vida do Apostólico P. Antônio Vieira”,
publicada em Lisboa, em 1746, tendo recebido grandes elogios. É uma
obra competente, como Vieira merece.
......25.
Amigos, eu vi.
......Vi chegar ao poder o grande Marquês
de Pombal. Observei as artimanhas que seu regime usou para justificar a
expulsão dos jesuítas, em 1759, sessenta e dois (62) anos
após a morte de Vieira.
......Fiquei apreensivo ao ver que Pombal e
seus ideólogos escolheram Vieira como alvo privilegiado de seus ataques,
visando a desmoralização.
......Vi o grande educador, Luiz Antônio
Verney, atacar Vieira, para justificar suas “novas” propostas,
na obra “Verdadeiro Método de Estudar”.
Queria justificar a proposta pombalina, em oposição à
obra dos jesuítas, em que Vieira era o paradigma a superar e esquecer
e, por isso, o atacava, sem trégua.
......Vi o pombalismo repetir as indignas afrontas
criadas pela Inquisição e há muito desmascaradas...
Vi e tive pena deles.
......26.
Vi, através dos anos, mesmo muito após o regime pombalino,
muitos repetirem, sem crítica, surrados refrões, para desmerecer
a obra de Vieira. Tais atitudes apenas desmerecem as pessoas que assim agem.
......Por causa de sua imensa estatura moral,
só é possível ataca-lo com calúnias, sorrateiramente.
A tática não é nova: satanizando a obra de Vieira,
o mesmo logo seria esquecido. Ledo engano. Mesmo caluniado, Vieira foi se
mantendo sempre. Sempre teve grandes e devotos leitores e admiradores de
todos os países e de todas as religiões.
......Apesar de seus detratores, sempre ancorados
no poder despótico, Vieira é e sempre será
mais que uma estrela de primeira grandeza: ele é uma constelação
de estrelas. É uma grande luz que ninguém apaga.
......Vieira teve a força e audácia
de David, frágil, mas lúcido e generoso, atacando o gigante
Golias. Possivelmente Vieira continuará sendo destratado
por livros didáticos e por professores mal informados, nas salas
de aula. Mas sua grandeza e sua luz, ninguém apagará.
......27.
Finalmente, amigos, eu vi.
......Eu vi, no século XX, na década
de 30, uma outra grande estrela do nosso tempo dar a Vieira um título
que é uma consagração definitiva:
Fernando Pessoa declara Vieira
“O Imperador da Língua Portuguesa”.
Há séculos Vieira era declarado Príncipe dos Oradores
Evangélicos, o Crisóstomo português, o Imperador dos
Púlpitos. O grande historiador baiano Pedro Calmon designa-o “o
patriarca de nossos oradores políticos.
......Já no século XXI, foi relacionado
no “clube” restrito dos homens mais importantes
da História do Brasil.
......Vencidas todas as afrontas que recebeu,
desde a Inquisição, passando pelo pombalismo, Vieira ressurge,
no século XXI, com todo o seu vigor e esplendor como um grande mestre,
essencial ao nosso tempo, órfão de Deus e de princípios
que garantiu a justiça, a liberdade, a solidariedade, a fé,
a esperança e a fraternidade. Princípios que ajudam a busca
da paz e do bem-estar de todos.
......III. Conclusão: Vieira em novas dimensões
......28.
Falta hoje, alguém que não tardará a chegar; alguém
que, encontrando a chave articuladora do pensamento de
Vieira, lhe dedique uma obra monumental que mostre à nação
e ao mundo, o lugar que lhe cabe em nossa grande civilização:
o lugar que lhe cabe em todos os nossos corações e em nossas
inteligências; o lugar que lhe cabe na formação de uma
juventude lúcida, consciente e generosa, capaz de criar condições
para que a justiça, a dignidade, a fraternidade e a paz tenham um
espaço mais significativo em toda a sociedade, em dimensões
mundiais.
......
......Vieira, um Enigma
......Vieira viveu plenamente integrado
no seu tempo e no seu povo. Vivia e pensava o seu tempo com perspectivas
do futuro. Assim são todos os sábios.
Viera era um homem que pensava longe. Por isso escreveu a História
do Futuro. Vieira perscruta os desígnios da história.
......Falta alguém que faça um
inventário sumário da obra de Vieira pela manutenção
da integridade do território do Brasil, contribuindo para a consolidação
desta nação, unida, fulgurante e continental. Alguém
que ajude a que as pessoas deste país tenha alma grande e generosa
como o território de seu país.
[Texto em construção]