II
VIEIRA, EDUCADOR.
1. Educador por missão.
.....Vieira
foi, por essência e por missão, um grande e dedicado educador.
Foi um homem que sempre acreditou nas potencialidades e nos talentos das
pessoas. Propôs-se a contribuir para o desabrochar e o desenvolvimento
das potencialidades e dos talentos de cada um. Aliás, os jesuítas
são, tradicionalmente, grandes educadores. Os jesuítas vieram
para o Brasil com a missão de educar o povo.
.....Quer na escola, quer no púlpito,
Vieira estava sempre a educar o povo. O púlpito sempre foi também
tribuna, cátedra de mestre e educador. Transmitia
ao povo os valores humanos que poderiam melhorar suas vidas: o respeito
à vida, o respeito às pessoas, a dignidade da pessoa humana,
o espírito de fraternidade e de solidariedade e espírito de
confiança, de justiça, de responsabilidade, persistência
e ousadia.
.....Respeitar, confiar, se solidarizar, persistir
e ousar estão no âmago da atuação de Vieira.
.....Ensinava noções de justiça
e de interação humana e de convivência social. Ensinava
os princípios da consciência, da responsabilidade e da cooperação
mútua. Ensinava princípios de higiene e como tratar das doenças
das pessoas. Visitava os doentes, dava orientações e dava
conforto amigo a quem sofria. .....Era um apóstolo
presente, atuante e ágil.
.....Ensinava às pessoas, índios,
negros e portugueses, a cuidar das plantações para ter melhores
colheitas. Ensinava-os a cuidar da alimentação sadia. Ensinava-os
até a fazer as casas mais sadias e acolhedoras. Isto fazia parte
dos princípios de ação dos jesuítas: cuidavam
do corpo, do espírito e da mente.
.....Com a evangelização traziam
os princípios de uma avançada civilização, resultante
dos conhecimentos e experiências filosóficas e científicas
de muitas gerações de cientistas e de pensadores, através
de muitos séculos de pesquisas e de experimentação.
A questão da alimentação foi uma preocupação
permanente dos jesuítas.
.....Hoje é fácil, a alguns contestadores
ocasionais, negar o valor da evangelização, sentados numa
cadeira almofadada, com luz elétrica e talvez com ar condicionado.
É tão fácil como simplista...
2. Ação educativa dos sermões.
.....Os
grandes Sermões de Vieira eram verdadeiras aulas magnas
que as pessoas guardavam na lembrança, como referências indicativas
de uma atuação mais solidária.
.....Os Sermões de Vieira tinham em
seu cerne, como força motriz, uma longa reflexão sobre o momento
sócio político cultural de seu povo.
.....Era o educador exercendo o seu papel de
instrutor e guia do seu povo. Era o bom pastor cuidando do seu rebanho
.....Vieira, no púlpito, era
o sacerdote, dedicando-se a uma missão sagrada, sem pedir
nada em troca. .....Era sua missão sacerdotal
e humanitária
.....No púlpito, nos momentos mais solenes,
mas também nas homilias e nas conversas diárias e diuturnas,
Vieira era o professor, o mestre, o conselheiro e até
o companheiro solidário, sempre a levar ao povo o que aprendeu com
muito esforço, dedicação e muitas privações.
Vieira era um educador comprometido com a vida: praticava
um ensino e um aprendizado com vistas ao agir transformador.
.....Aos 19 (dezenove) anos, inicia a atividade
do magistério, lecionando, por três anos, no Colégio
Olinda. Em 1638 assume aulas de teologia no Colégio de Salvador.
Em 1633, com 25 anos, prega seu primeiro Sermão escrito. Já
tinha pregado muitos outros Sermões que não escreveu.
.....Sempre quis criar um mundo de paz, de
cooperação mútua e de compromisso social. Essa é
também a grande mensagem da Bíblia.
3. Educar para transformar.
.....Vieira
era um educador pleno, muito competente e dedicado. Estava sempre pronto
a ajudar, a ensinar. Mais que tudo, procurava cuidar da saúde do
corpo e da mente. Ensinava as pessoas para que pudessem resolver os próprios
problemas e fossem auto-suficientes e não dependentes.
.....Não fazia ação assistencialista.
Educava para libertar e não para cativar. Em vez de dar as coisas
prontas, ensinava as pessoas a fazê-las, rumo à auto-suficiência.
.....Seus sermões eram luzes e instruções
que ensinavam as pessoas os princípios que lhes pudessem possibilitar
uma vida melhor, com justiça e solidariedade sem aos outros tirar
a vida.
.....Ensinava os princípios da fraternidade
universal, sem discriminação. Era com esta ação
de Vieira e dos demais jesuítas que os índios e negros aprendiam
as leis da convivência e do respeito a própria saúde.
.....Assim as pessoas aprendiam a aprender
com a própria vida e com a natureza; aprendiam a conviver
entre si e com os próprios inimigos; aprendiam a resolver
os próprios problemas de vida e saúde que não eram
poucos; e aprendiam as razões de ser, de existir
e de agir corretamente e com auto-realização e auto-estima.
Aprendiam também a compartilhar seus bens e conhecimentos
e a se articular em questões que precisassem da cooperação
de todos.
.....Como educador pleno, Vieira praticou conscientemente,
como base, os quatro pilares da Educação de que fala a proposta
da UNESCO para os rumos da educação no terceiro milênio:
aprender a aprender, aprender a fazer,
aprender a conviver e aprender a ser,
e todas as demais ações daí decorrentes.
4. Educador Carismático.
.....A
atividade do missionário educador entre os índios, sempre
preocupado com o bem-estar e a qualidade de vida destes, é o que
explica a imensa simpatia e cordial acolhimento que Vieira recebia entre
eles.
.....Entre os índios ferozes e antropófagos
da ilha de Marajó e Ibiapaba, Vieira, inicialmente recebido com hostilidade,
logo conquistava a simpatia das pessoas.
.....Os índios ferozes e furiosos, preparados
para o ataque, depois dos primeiros diálogos, depositavam nos chão
os arcos e as flexas, em sinal de paz, e iam ao encontro do grande Padre,
o Abaguassú (aba = homem, Assu = grande). “Grande”
na moral, na dignidade, no respeito, na justiça e na dedicação,
grande na ousadia, grande na inteligência e no espírito ético.
5. Dimensão Educadora dos Sermões.
.....Os
Sermões de Vieira, os que ele escreveu e por isso
legou à posteridade, são grandes peças de reflexão
filosófica, religiosa, teológica, cívica, política
e educadora.
.....O Sermão da Sexagésima,
pregado em Lisboa (1655), é um sermão magistral, uma peça
magnífica de reflexão sobre a ação do educador
(pregador), do professor, do mestre-escola. Esta é a grande metáfora
da ação do Educador, do pregador:
.....“No pregador (educador) podem-se
considerar cinco circunstâncias: a pessoa, a ciência, a matéria,
o estilo, a voz. A pessoa que é, a ciência que tem, a matéria
que trata, o estilo que segue, a voz que fala”.
.....Este Sermão é um completo
tratado de Didática do ensino eficaz. O professor/educador também
é, essencialmente, um semeador.
.....Este grande Sermão deveria ser
objeto de meditação de todos os professores e educadores.
Quem absorve um pouco de suas lições pode melhorar muito a
eficiência de sua ação educativa.
.....Praticamente todos os Sermões de
Vieira têm bem saliente o veio educativo. Passamos a citar apenas
alguns grandes Sermões:
.....O Sermão de Santo Antônio
aos Peixes, pregado em S. Luis do Maranhão, (1654), é
outro sermão magistral. É uma veemente defesa da dignidade
humana. Está clara a dimensão educativa. O polvo, o peixe
voador, o roncador, o pegador, etc. são meios de chamar a atenção
e de fazer pensar e memorizar a mensagem e limpar a sociedade de vícios
inadmissíveis em que se envolveu
.....O Sermão do Bom Ladrão
é uma aula magna sobre os direitos e deveres e a corresponsabilidade
de cada um
.....O Sermão do Espírito
Santo, pregado em S. Luis do Maranhão, aos missionários
que partiam para o Amazonas, tem a dimensão educativa.
.....O Sermão da Epifania
(Capela Real, 1662) tem a dimensão educativa.
.....O Sermão da Visitação
(Misericórdia, Bahia, 1638) tem a dimensão educativa. Busca
criar a resistência moral contra a invasão holandesa.
.....Em muitas de suas cartas e de outros documentos
que assinou, e até na Clavis Prophetarum e na .....História
do Futuro, também está clara a ação
educativa.
Enfim, é bom ler os Sermões de Vieira, olhando-os da perspectiva da ação educativa, tendo como escopo instruir, dar consciência cívica e responsabilidade social para criar um mundo mais solidário.