GESTÃO: INSTITUTO TROPICAL

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VIEIRA,

POLO ARTICULADOR DE PROJETOS

 

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
( Seleção do Acervo Edubrás/FCG/ITC )
Consulte: www.vieira400anos.com.br

 

I-      VIEIRA, UM PARADIGMA DE MUITAS VOZES

1.               Apresentamos, neste trabalho, algumas sugestões de trilhas para abordar, com mais conhecimento e lucidez, a obra de um dos maiores engenhos humanos que o século XVII produziu; um dos maiores e mais completos homens da humanidade de todos os tempos: o P. Antônio Vieira.

       Precisamos saber que o séc. XVII, foi um tempo convulsionado, marcando uma etapa decisiva da história humana. Vieira viveu sua vida intensamente mergulhado nesse universo cheio de conflitos, tentando construir novos caminhos. Vieira foi uma pessoa tão envolvida na vida social, política e religiosa de seu tempo que através dele podemos contar a própria história do séc. XVII.

       É um roteiro para os pesquisadores e especialistas que buscam o avesso, o contexto e as idéias subjacentes do discurso, em busca de um entendimento mais profundo e mais abrangente, dirimindo dúvidas e vencendo preconceitos.

       Além de monumental orador e grande escritor, Vieira foi um grande diplomata, articulador e estrategista político, religioso jesuíta, missionário, conselheiro de reis, príncipes e ministros, etc.

Foi também um grande viajante no Brasil e pela Europa: foi um incansável peregrino. Viveu a vida em estado de missão: sempre alerta, sempre prestativo, sempre pronto para agir. Foi um defensor incansável da dignidade de índios e negros, dos brancos e dos judeus, contra a prepotência e a ganância dos poderosos...

       Lembramos, acima de tudo que estudar Vieira é buscar a alma com que ele escreveu ou produziu seus textos e Sermões.

 

2. Estudar Vieira simplesmente para cumprir uma exigência curricular não é encontrar mais que uma estrutura sem alma, que não leva a nada! — Vieira está muito além do escopo de tais estudos e teses universitárias.

       O texto literário localiza-se no ponto de encontro do eixo sintagmático com eixo paradigmático, como diz Jacobson. Sem o eixo paradigmático, que, em si mesmo, está ausente, não há literatura, portanto não há Sermão.

    Além disto, o leitor e estudioso de Vieira deve ser capaz de ouvir a Deus como ele ouvia, na voz de seus Sermões, de suas Cartas e até na prisão e nos intoleráveis interrogatórios da Inquisição.

 

      3. Para podermos ouvir as muitas vozes de Vieira, selecionamos obras focadas diretamente no tema, nas seguintes áreas: Obra de Vieira; textos integrais e textos seletos; obras sobre Vieira; obras sobre os Jesuítas; sobre a Inquisição; sobre as Invasões Holandesas; obras sobre História do Brasil e História Geral, obras de temário correlato, etc.

        Temos plena consciência de que esta Bibliografia Básica ainda é incompleta. Cada um faça a própria listagem. Aqui damos um parâmetro apenas.

         É importante conhecer os conflitos e disputas entre os países da Europa e no Brasil e também o desenvolvimento científico e tecnológico que iam revolucionando as idéias e propondo novas concepções da vida e do mundo com as novas descobertas de que já falava Camões: “O saber de experiências feito

       Quem só lê Vieira não tem como conhecer Vieira. Por isso declarou Tomás de Aquino: “Temo o homem que lê um só livro”. É que um tal homem vê o mundo sem horizonte, uniforme e fechado, sem a criativa diversidade que lhe é própria, por uma lente de uma só cor.

      

4. Para melhor entendermos Vieira, precisamos entender o contexto Histórico-social em que viveu e agiu. Precisamos até conhecer as tramóias e as conspirações internacionais do tempo e os interesses envolvidos e quem tinha que interesses próprios e a quem servia. Precisamos até saber quem eram eventualmente os agentes duplos. (Precisamos até saber aplicar as teorias da “Arte da Guerra” de Sun Tsu, que ajuda a interpretar certas situações estranhas), certas informações com sinal marcado.

       O pesquisador muitas vezes entra em canoa furada ao aceitar cegamente certas afirmações documentadas sem fazer a crítica prévia da veracidade e da credibilidade do autor e autenticidade do texto.

       Precisamos conhecer a política de resoluções secretas que a corte adotou sempre. Precisamos entender a seguinte aforisma brasileiro:

                       Em rio de piranhas, o jacaré nada de costas”.
       Se não entendermos essas condições seremos ingênuos e até ridículos, em muitas interpretações...
       Precisamos entender a organização, o poder e o pensamento dos grandes grupos de pressão que detinham ou cercavam o poder constituído. O que cada um quer? Quais seus métodos? Quem perseguiu Vieira? Por quê?

 

II-   AMPLOS HORIZONTES DO OBSERVADOR


        5. A conspiração acompanha, de modo geral, todas as instâncias do poder político e outros poderes, em todos os tempos, e em todo mundo. Até no Antigo e no Novo Testamento não faltam exemplos.

       Por que conspiraram contra Vieira? Por que muitos repetem ainda hoje argumentos sem fundamento, forjados por alguém? Por que o Governo de Pombal atacou tão ferozmente Vieira? Por que a Inquisição perseguiu ferozmente Vieira? Por que alguns fidalgos da corte perseguiram Vieira?

       Nos primeiros capítulos de “Introdução à História da Bandeiras - I”, Jaime Cortesão faz um arrazoado excelente, muito lúcido e muito bem fundamentado (ver bibliografia, adiante)

        Ver também o documento de Vieira entregue ao Tribunal da Inquisição “Defesa do 5º Império”: Ponderação 5ª.

            Aqui Vieira fala dos artifícios para retorcer e confundir o pensamento de alguém, como fica claro neste fragmento:

“Tenho tão justos fundamentos para recear que, sem embargo de serem fundados sobre as suposições tão diversas das minhas, se possam persuadir e fazer crer, é-me necessário ponderar e descobrir o dito artifício dos argumentos  e consequências”  

       São questões para os pesquisadores.

       Para o leitor comum, não é preciso tudo isto. A apreensão do discurso dá-se em outra dimensão. O texto fala por si mesmo. Quem quer se aprofundar precisa estudar mais. Precisa entender a conjuntura em que os fatos ocorreram e seus paradoxos.

       Quando há indícios de falcatrua (manipulação) o cidadão consciente, antes de assumir argumentos, certifica-se de sua correção e da credibilidade do autor. O leitor consciente diante de um texto, busca sua origem, justeza e finalidade. Para isso, procura atender às perguntas clássicas: o quê, quem, para quê, por quê, quando, onde, como, para quem... etc.

       O que se diz e o que se pretende fazer nem sempre conferem. Precisamos ver a verdade e a credibilidade de quem escreve ou fala.

       Este é o sentido desta bibliografia diversificada.

 

       6. A abrangência de temas desta Bibliografia é justificada pelas amplas perspectivas que nos abre a vida e a obra do grande autor. Este é apenas uma sugestão preliminar. Na sequência, cada um siga seu rumo, por atalhos ou caminhos.
       Logicamente esta é a parte mais focada da Bibliografia "Vieira". Há conhecimentos de muitas outras áreas que o especialista precisa agregar quando quer ir mais fundo na obra do grande mestre.

 

       Se não conhecemos as idéias e leis dominantes no tempo de Vieira, como poderemos apreciar, condignamente, o grande Mestre, se ele representa a mais ampla e profunda síntese das idéias do seu tempo (século (XVII)?

       Hoje é patente, nos estudiosos de Vieira, a falta de conhecimento específico de questões correlatas que não são tratadas pela área de Letras. Esse desconhecimento conduz as pessoas a conclusões absurdas, levianas e até ingênuas e injuriosas. Muitas das questões em jogo são muito complexas por abrangerem muitos campos do saber que, muitas vezes, faltam aos pesquisadores. É preciso amadurecer as nossas idéias e competências.

            Sem um pouco de filosofia, de psicologia e de antropologia pode cair em perigosas arapucas que abalam a credibilidade do trabalho...

            Muitas atitudes de Vieira ou de seus desafetos  estão inseridos em complexas conjunturas que precisam ser conhecidas e destrinchadas.

 

III-             VIEIRA, UM POLO AGLUTINADOR DE PROJETOS

        7. Precisamos lembrar que Antônio Vieira, por sua obra prodigiosa, é ao lado de Camões e Fernando Pessoa, "a figura mais notável das literaturas de Portugal e do Brasil",  na apreciação de Ivan Lins.

Diz D. Francisco Lobo (séc. XIX):

                "nenhum povo possuiu jamais, nas obras de um só homem, tão rico e tão
                 escolhido tesouro de sua própria língua, como nós possuímos na obra
                 deste notável jesuíta".

        Enfim, Vieira é, para os estudiosos, um polo aglutinador de projetos de pesquisa. Oferece um sem número de temas de grande interesse científico e social, à espera de uma "legião de pesquisadores" que se disponham a buscá-lo nos seus Sermões, Cartas e outros escritos, que os ajudarão a entender a história e a cultura do séc. XVII e XVIII.

        Para os humanistas, Vieira é um tesouro de grandes ensinamentos.

        Nesta era de incertezas, Vieira é uma intensa luz para a mente, para o espírito e a reflexão dos professores, da juventude e dos intelectuais mais conscientes.

            Vieira nos ajuda a ser mais conscientes e perspicazes num mundo multiforme e de múltiplos interesses, nesta Feira Universal, onde todos negociam a prosperidade e o bem-estar da nações.

 

       8. Não pretendemos fazer uma bibliografia exaustiva, mas apenas uma bibliografia básica, ainda que parcial, para servir a quem deseja se aventurar pelo universo cativante da vida, obra e ideário do P. Antônio Vieira. Ele foi um dos homens decisivos da história do século XVII. Sua obra tem repercussão marcante em toda a história futura.

          Vieira é um paradigma de grandeza e sabedoria, generosidade, ousadia e respeito pela dignidade humana. Foi um homem de caráter inquebrantável. Trabalhou com afinco, até o último dia de sua vida, durante noventa (90) anos. Legou à humanidade um precioso tesouro de pensamento e lições de vida.

       Vieira pode abrir caminhos para a formação de uma sociedade mais consciente, mais aberta, mais perspicaz e mais tolerante, sem ser leniente, apática ou pusilânime: uma sociedade justa que respeita a diversidade de opiniões e de condições, num  mundo múltiplo, sempre em busca da paz e do bem-estar para todos. A partir de princípios muito claros que propõe para uma sociedade mais justa, mais livre, porque mais consciente, Vieira não nos deixa nunca indiferentes ao que ele diz.